PUBLICADO EM 20 de jan de 2018
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Cenário paulista depende de Doria e Skaf se entenderem sobre Bandeirantes; por Fernando Rodrigues

Publicado no Poder360, artigo de Fernando Rodrigues analisa eleição no Estado de São Paulo. Confira:

Se renunciar, Doria corre risco

Skaf tem 19% e está no páreo

Prazo para decidir é 7 de abril

O senador José Serra (PSDB-SP) anunciou que vai se aposentar das urnas em 2018. O novo cenário levou os operadores tucanos a desenhar a seguinte configuração:

João Doria (PSDB) – candidato a governador
Gilberto Kassab (PSD) – candidato a vice-governador
Paulo Skaf (MDB) – candidato ao Senado

Neste ano cada Estado elege 2 senadores. A 2ª vaga no “dream ticket” dos tucanos tem vários pretendentes. Em ordem alfabética:

Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) – o atual ministro das Relações Exteriores tem mandato de senador e faz suspense sobre seu interesse em concorrer em outubro;
“Nome do DEM” – se o Democratas se animar a entrar na aliança, uma das vagas ficaria para o partido. Problema: não há 1 postulante forte neste momento;
Marta Suplicy (MDB) – eleita pelo PT e depois filiada ao PMDB (agora MDB), tem expressado publicamente o desejo de concorrer a mais 8 anos no Senado. Sua dificuldade será disputar contra outro Suplicy, o Eduardo (PT), que será candidato. O Poder360 ouve de todos os principais partidos que Marta fará uma escolha melhor se optar por uma vaga de deputada federal. Ela resiste.

Consequências Nacionais
A chapa desenhada acima é forte nas urnas. Colocaria pressão também no MDB nacional para tentar replicar alianças semelhantes nos Estados. O que não entra nessa fórmula: uma aversão renitente de muitos partidos pelas atitudes recentes do PSDB e de Geraldo Alckmin.

O fato é que Michel Temer e o MDB (e o centrão) vão procurar até o último minuto alguma alternativa a Alckmin na disputa pelo Palácio do Planalto.

 Dois meses de conchavos e incertezas
Como está agora a cabeça de João Doria? Tem uma avenida aberta para ser candidato a governador de São Paulo. Ótimo para ele. Mas o risco é enorme.

Ninguém abandona a Prefeitura de São Paulo depois de 1 ano e 3 meses de mandato com chance de perder tudo. Seria humilhante. Se sair da cadeira para disputar a eleição em outubro, tem de ser para ganhar. O problema é que em política essa certeza inexiste.

O último tucano que fez esse movimento arrojado (sair da Prefeitura de São Paulo com apenas 1 ano e 3 meses de mandato) foi José Serra. Deu certo em parte –Serra até hoje é cobrado por parte dos eleitores. Na disputa presidencial de 2010 –quando disputou (e perdeu) o Planalto– sofreu com a pecha de “arrivista” e sem compromisso com o cargo obtido nas urnas

O fato é que num 1º momento Serra se deu bem ao abandonar a Prefeitura de São Paulo apenas 15 meses depois de eleito. Mas o cenário era diverso do atual. Naquela época, 2006, o Brasil estava em crescimento. A administração municipal paulistana se beneficiava do momento de exuberância na economia. O tucano estava bem avaliado.

Outra coisa bem diferente é o cenário de hoje, 2018. A economia brasileira saiu da recessão, mas recupera-se ainda lentamente. O “feel good factor” não voltou para a maioria dos cidadãos. A curva de aprovação do prefeito Doria está em queda (não em alta).

Por fim, se Doria renunciar para disputar outro cargo, é óbvio que os adversários vão explorar contra o PSDB o episódio de Serra em 2006, que deixou a cidade para Gilberto Kassab –político que não desfruta neste momento do apreço da maioria dos paulistanos.

Mas vamos então supor que Doria desista de ser candidato a governador. Isso seria também 1 cenário desalentador para os tucanos.

O PSDB ficaria absolutamente à deriva no maior colégio eleitoral do país. Nem vale a pena citar os nomes da sigla que pretendem disputar o Bandeirantes. São todos nano-candidatos. Postulante a presidente, Geraldo Alckmin teria de se fiar no apoio (possível, mas incerto) do PSB via Márcio França, o vice-governador que herda o Estado em 7 de abril e tentará se reeleger.

[Contexto: 7 de abril é quando faltam 6 meses para a disputa de outubro. Essa é a data limite para que os pré-candidatos a cargos públicos se desincompatibilizem de suas funções para poder entrar no processo eleitoral]

O mais útil para o PSDB seria ter João Doria à mão para ser o candidato, com todos os riscos que isso implicaria. Infelizmente para o prefeito, a decisão deve ser tomada na virada do mês de março para abril. Faltam 2 meses.

Nesses próximos pouco mais de 60 dias haverá intensos conchavos e muita incerteza no ar.

Fator Paulo Skaf
Há 1 fator imponderável nesse algoritmo político: Paulo Skaf. Filiado ao MDB e presidente da poderosa Fiesp, ele já concorreu duas vezes ao Bandeirantes. Em 2010, pelo PSB, ficou em 4º lugar (4,56% dos votos válidos). Em 2014, já no PMDB (agora MDB) terminou em 2º lugar (21,53% dos votos válidos).

Erra quem desdenha Skaf de bate pronto. Apesar de nunca ter vencido uma eleição, ele acumulou um patrimônio político-eleitoral nada desprezível. Tem 1 discurso moldado para a classe média paulista, a favor da indústria e de uma economia (em parte) liberal –o presidente da Fiesp é também 1 nacionalista.

Agora, Skaf tem de 14% a 19% das intenções de voto, segundo o DataPoder360 de dezembro de 2017. São percentuais respeitáveis. Doria tem 21%. Os demais postulantes estão muito atrás. Ou seja, para que o caminho do tucano fique suave, o ideal seria uma composição com Skaf –com o presidente da Fiesp aceitando apenas ser candidato a senador.

“Por que eu desistiria de ser candidato a governador?”, perguntou Skaf numa conversa pessoal com o presidente Michel Temer no final da tarde, em São Paulo, na 5ª feira (18.jan.2018). Temer concordou. Disse também que ainda é muito cedo para tomar tais decisões.

Skaf se beneficia de 1 aspecto intangível: o sentimento agudo de anti-tucanismo que se instalou dentro de parte do MDB. Essa certa ojeriza é compartilhada por Michel Temer, que só aceitará apoiar Geraldo Alckmin se não houver nenhuma opção melhor. Mas todos preferem esperar até o último minuto.

Pior para Doria, 1 político que trabalha contra o tempo.

P.S.1: quem está ao lado de João Doria não tem dúvida. O prefeito jamais deixou de sonhar em ser candidato já a presidente da República. Acha que Alckmin pode, por algum motivo (por simples falta de votos ou por encrencas na Lava Jato) ficar inviabilizado lá para junho ou julho. Nesse caso, ficaria pavimentado o caminho para Doria –desde que o prefeito se desincompatibilize até a 1ª semana de abril. “A vida é sonho”, como escreveu Calderón de la Barca. Esse é o sonho de Doria, com todos os riscos que já são conhecidos.

P.S.2: ninguém deve, jamais, esquecer o fato consumado mais certo desta disputa paulista: a presença de Márcio França (PSB) como candidato a ser reeleito para o Bandeirantes e com toda a força que a cadeira vai lhe conferir. Vários partidos médios e pequenos estão se alinhando a França desde já. O atual vice-governador pode até não ganhar, mas terá muito mais votos nas urnas do que sua pontuação nas pesquisas atuais.

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