PUBLICADO EM 07 de out de 2025

Novo consignado pode injetar mais R$ 20 bilhões na economia

Entenda o novo consignado e como o Crédito do Trabalhador pode democratizar o acesso ao crédito com juros mais baixos.

O Novo consignado já alcançou R$ 45 bilhões em contratações.

O Novo consignado já alcançou R$ 45 bilhões em contratações.

A nova modalidade de empréstimo consignado privado, lançada em março de 2025 pelo governo federal , alcançou R$ 45 bilhões em contratações até o final de setembro e pode liberar outros R$ 20 bilhões até dezembro. Conhecido como Crédito do Trabalhador, o programa é uma das principais apostas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para democratizar o acesso ao crédito a juros mais baixos e, ao mesmo tempo, estimular a economia em um ano pré-eleitoral.

Somando os contratos antigos migrados para a nova plataforma, o volume total chega a R$ 79 bilhões, superando o estoque do consignado tradicional, que existia há mais de duas décadas com base em convênios diretos entre empresas e bancos.

O que é o novo consignado

O crédito consignado para trabalhadores do setor privado foi atualizado por uma Lei (Lei nº 15.179/2025) sancionada em julho de 2025. Ele representa um avanço significativo na regulamentação para trabalhadores com carteira assinada (CLT) no Brasil.

A lei fortalece a competitividade entre instituições financeiras, reduz custos e visa proteger o trabalhador quanto a descontos em folha e revisão de contratos, especialmente em casos de demissão. As empresas são responsáveis por processar os descontos na folha de pagamento e realizar repasses via eSocial e FGTS Digital, o que exige adaptações nos processos operacionais e uma comunicação transparente com os colaboradores. Com essas mudanças, espera-se uma maior clareza e justiça no acesso ao crédito para os trabalhadores brasileiros, contribuindo para uma gestão mais saudável das finanças pessoais e uma relação mais equilibrada entre trabalhadores, empresas e instituições financeiras.

O novo consignado privado funciona com desconto automático em folha de pagamento, mas de forma centralizada em uma plataforma pública, em vez de depender de convênios específicos entre empregadores e instituições financeiras. O objetivo é ampliar a concorrência e reduzir as taxas de juros, permitindo que o trabalhador escolha o banco que oferecer as melhores condições.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, destacou que “em seis meses, o novo consignado ultrapassou o anterior, que existia há mais de 20 anos”. Segundo ele, embora haja atrasos no cronograma de implementação, o programa é considerado um sucesso e vem sendo ajustado gradualmente.

Desafios de implementação

Desde seu lançamento a plataforma enfrentou falhas operacionais na escrituração dos contratos, além de alta inadimplência em pequenas empresas. Apesar dos entraves, as concessões cresceram: em setembro, foram R$ 307,7 milhões liberados por dia útil.

Outro desafio é a resistência dos grandes bancos em migrar contratos antigos para o novo sistema — movimento que reduz seu controle sobre os clientes. Segundo apurou a Folha, Bradesco e Caixa Econômica Federal estão entre os mais atrasados, enquanto Santander, Itaú e Banco do Brasil afirmam que concluirão o processo até 20 de outubro.

Juros em queda — mas ainda altos

Os juros médios do novo consignado caíram de 3,69% ao mês em abril para 2,91% em setembro, segundo o Banco Central. Apesar da melhora, as taxas continuam superiores às do consignado tradicional, reflexo do perfil de maior risco dos tomadores, que em geral são trabalhadores de baixa renda e escolaridade, com emprego recente em empresas de pequeno porte.

Ainda assim, o governo argumenta que a modalidade representa avanço, pois substitui créditos pessoais a juros de até 11% ao mês por uma linha mais acessível.

Riscos e perspectivas

O economista Lauro Gonzalez, da FGV EAESP, aponta que, apesar de democratizar o crédito, a modalidade “inspira cuidados e pode agravar o superendividamento”. Ele pondera, contudo, que, com ajustes e fiscalização, o modelo poderá atingir o potencial esperado e contribuir para o fortalecimento do consumo e da inclusão financeira. Isso porque, conforme alerta o Banco Central, o novo consignado pode aumentar o endividamento das famílias, já que parte dos trabalhadores contraiu novos empréstimos, sem substituir dívidas antigas.

Bancos bloqueiam 113 empresas por irregularidades no consignado

Nos últimos cinco anos, 113 empresas terceirizadas foram bloqueadas por irregularidades na oferta de crédito consignado, segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e a ABBC (Associação Brasileira de Bancos).

Os motivos incluem fraudes na obtenção de autorização de clientes, falta de transparência e dificuldades para cancelamento de contratos.

As informações integram o Sistema de Autorregulação do Consignado, que reúne 79 bancos — responsáveis por mais de 99% das operações do setor. No mesmo período, 5,6 milhões de pessoas cadastraram seus números na plataforma “Não me Perturbe”, para bloquear ofertas indesejadas.

As fraudes no consignado, segundo registros do Conselho da Previdência Social desde 2005, estão no centro da crise dos descontos indevidos no INSS. Casos incluem empréstimos não autorizados e mensalidades cobradas por associações fantasmas.

O deputado Alfredo Gaspar (União-AL), relator da CPI do INSS, afirmou que o rombo previsto é dez vezes maior que o dos descontos associativos e prometeu apuração rigorosa:

“Estão envolvidos vários bancos, [que] estão ganhando dinheiro de forma fraudulenta”, disse à Folha.

Criado em 2020, o sistema de autorregulação já emitiu 1.039 advertências, 810 suspensões temporárias e 113 suspensões definitivas, além de banir sete agentes de crédito por doze meses.

FGTS: novas regras limitam antecipações do saque-aniversário

A partir de 1º de novembro, entram em vigor novas restrições para a antecipação do saque-aniversário do FGTS, aprovadas pelo Conselho Curador do Fundo e anunciadas pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

As medidas buscam proteger o trabalhador de abusos e endividamento excessivo, reduzindo a dependência do sistema financeiro e fortalecendo o papel social do FGTS.

Principais mudanças:

  • Limite de valor: empréstimos entre R$ 100 e R$ 500 por parcela, com máximo de cinco parcelas em 12 meses (R$ 2,5 mil no total). A partir de 2026, o limite cai para três parcelas anuais.
  • Frequência: apenas uma operação de antecipação por ano (antes, eram permitidas várias simultâneas).
  • Carência: só será possível contratar antecipações 90 dias após a adesão ao saque-aniversário.

Segundo o Conselho Curador, 26% dos trabalhadores que aderem à modalidade antecipam o crédito no mesmo dia da adesão, e o valor médio das operações é de R$ 1,3 mil.

O governo argumenta que a revisão das regras evita o uso indevido dos recursos, inclusive em apostas online, e fortalece a função social do FGTS em habitação, saneamento e infraestrutura.

De acordo com o Ministério do Trabalho, até 2030 a mudança deve reter R$ 86 bilhões que hoje iriam ao sistema financeiro, mantendo o dinheiro com os trabalhadores.

Atualmente, 21,5 milhões de pessoas (51% das contas ativas) aderiram ao saque-aniversário, e 70% delas já anteciparam valores, movimentando entre R$ 102 bilhões e R$ 236 bilhões desde 2020.

O novo consignado, somado às novas regras do FGTS, revela uma estratégia do governo para reestruturar o sistema de crédito brasileiro, ampliando o acesso a recursos de forma mais responsável e menos concentrada nos bancos.

A iniciativa busca estimular o consumo, reduzir juros e conter fraudes, equilibrando expansão econômica e proteção social. Se bem implementadas, essas políticas podem marcar um novo ciclo de crédito sustentável e inclusivo no país.

Links úteis para as trabalhadores sobre o novo consignado:

Portal oficial do programa

Perguntas frequentes — Crédito do Trabalhador 

eSocial / FGTS Digital

FGTS Digital (novo sistema)

Aplicativo oficial do FGTS (Caixa Econômica Federal)

Ministério do Trabalho e Emprego

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