PUBLICADO EM 04 de jan de 2019
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Sassá Mutema, o mito de 30 anos atrás

A novela “O Salvador da Pátria” comemora 30 anos. Ela ajudou a criar o clima em que foi eleito o “mito” Fernando Collor de Mello, em 1989.

Por José Carlos Ruy

Sassá Mutema – quem se lembra dele? Nesta quarta-feira completam-se 30 anos que foi ao ar, pela primeira vez, pela Rede Globo, a novela da qual foi protagonista – “O Salvador da Pátria”, que estreou em 9 de janeiro de 1989 e prendeu a atenção dos brasileiros até 11 de agosto daquele ano, oito meses depois.

Sassá Mutema foi o “mito” em uma trama que – como hoje – envolvia políticos corruptos, jornalistas demagógicos e sem escrúpulos, adultério, narcotráfico e crime organizado. Deste imbróglio o boia-fria Mutema emerge como uma espécie de reserva moral, que se torna líder político e encarna a salvação do país.

A novela contribuiu, naquele ano que foi uma encruzilhada na história brasileira, para criar o clima de “combate” à corrupção no qual foi eleito o segundo mito que ocupou a presidência da República – Fernando Collor de Mello (um pretenso outsider da política, capaz de derrotar a hiperinflação (superior a 1200% em 1989) com um só tiro!).

O primeiro mito a receber dos brasileiros a presidência da República havia sido o efêmero e excêntrico Jânio Quadros, em 1961, eleito com base em um programa de austeridade e luta contra a corrupção semelhante ao de Collor e, hoje, ao do terceiro presidente-mito, Jair Bolsonaro.

O que é um mito? É uma história de caráter simbólico, à margem da realidade, que supõe um herói com poderes supra-humanos capaz de conduzir os destinos da humanidade à margem da ação prática dos demais seres humanos. É um ser que age sozinho, guiado apenas por uma pretensa sabedoria superior e por seus poderes. Que, por ação mágica, pode transformar a realidade.

Isso pode ser muito bonito em lendas ou histórias que relatem ficcionalmente acontecimentos que teriam ocorrido no passado.

Na vida real “mitos” não existem. O que existe é a realidade concreta da vida humana, com seus interesses e a imposição de atender a necessidades fundamentais de comer, beber, abrigar-se, cuidar dos filhos, da saúde, educação, e tudo aquilo que a vida impõe. E obter, pelo trabalho – pela ação prática – os recursos para realizar estas tarefas.

Exige-se do governo, assim, não ações mágicas, míticas, mas programas concretos que garantam o desenvolvimento, empregos e renda para todos. E isso se faz com trabalho, dedicação ao bem comum, ações voltadas para as necessidades sociais, e não apenas para atender à ganância dos poderosos, do capital.

José Carlos Ruy é jornalista, escritor e colaborador do Portal Vermelho

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