PUBLICADO EM 06 de jun de 2020
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Justiça para Miguel

De golpe soubemos da morte do pequeno Miguel, menino negro de cinco anos de idade e filho de Mirtes. A mãe de Miguel era empregada doméstica no apartamento da patroa Sari, mulher branca casada com o prefeito de uma cidade do litoral sul do estado de Pernambuco.

Miguel foi junto com a mãe para o trabalho dela porque a escola está fechada devido à pandemia. Quem é (ou foi) filho ou filha de empregada doméstica sabe o que é acompanhar a mãe dia ou outro à casa dos patrões. Aquele era o dia do filho da empregada doméstica Mirtes viver essa realidade de tantas outras crianças negras no Brasil.

Entre todas as atividades de Mirtes no apartamento estava a de levar o cachorro para passear e assim fez. Antes, deixou o filho com a patroa. Ao voltar percebeu a movimentação estranha. Alguém disse:- uma pessoa caiu do prédio! Mirtes se aproximou: era Miguel.

O menino ainda foi levado ao hospital, porém não resistiu.

A empregada doméstica depois do enterro recebeu as últimas imagens do filho com vida: ele havia entrado no elevador do prédio seguido pela patroa que apertou o botão e o deixou ir embora.

A Polícia, depois, disse que o menino se perdeu no prédio. Miguel em busca da mãe subiu em uma grade do nono andar e caiu de uma altura de 35 metros.

A história de Miguel é o Brasil. A mãe negra empregada doméstica da patroa branca de classe alta.

A morte de Miguel é a falta de empatia pela vida das crianças negras que podem ficar sozinhas em elevadores dos prédios de luxo dos patrões brancos.

A morte de Miguel é o: E daí ? Não é meu filho branco de classe alta.

A Polícia chegou a prender a patroa por homicídio culposo que pagou R$ 20 mil de fiança. Ela vai responder em liberdade.

A sociedade brasileira não pode aceitar a morte do pequeno Miguel como mais uma no país. É preciso justiça real para esse caso. A fiança não pode ser o último capítulo dessa história que é o retrato do racismo estrutural existente no Brasil. As autoridades têm o dever de investigar profundamente este caso com clareza, transparência e toda seriedade que necessita.

Justiça para o Miguel, justiça para Mirtes!

Maria Rosângela Lopes, presidente Sindvas

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