PUBLICADO EM 03 de ago de 2020
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Rio tem menor taxa de isolamento em quatro semanas

A reportagem do O Globo, produzida pelas jornalistas Selma Schmidt e Letícia Lopes, aponta que números alarmantes foram contabilizados após domingo em que cariocas ignoraram regras e lotaram orla. Em Botafogo, na Zona Sul, índice chegou a marcar negativo: -9. Na Barra da Tijuca, marcou 35%; Para presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, as fases de reabertura estão sendo feitas de forma precipitada

Apesar de alertas das autoridades sanitárias, cariocas e turistas não cumpriram o distanciamento mínimo para caminhar na área de lazer da Praia do Leblon: alguns passeavam com as máscaras penduradas no pescoço Foto: Reprodução

A empresa CyberLabs, que vem monitorando diariamente a circulação de pessoas no Centro, na Tijuca, na Barra, em Botafogo, Copacabana, Ipanema e no Leblon, informou neste domingo que o índice de isolamento no Rio caiu para 47%. Foi menor do que a média de 52% registrada para a cidade no domingo passado. O percentual é o mais baixo das últimas quatro semanas.

Covid-19: Isolamento social fica abaixo de 50% no Rio; na Tijuca, índice fica em apenas 15%

Em Botafogo, o índice de isolamento chegou a ser negativo, -9, segundo a CyberLabs.

— Isso quer dizer que há, aproximadamente, igual quantidade de transeuntes nas ruas de Botafogo em relação a um domingo anterior à pandemia — observou Felipe Vignoli, sócio-fundador da Cyberlabs.

Em Copacabana, o índice de isolamento neste domingo foi de 56% (no último domingo foi de 57,22%) e, em Ipanema e Leblon, de 54% (contra 58,78%, no dia 26 de julho). Na Barra, de 35% (menor do que os 49% de domingo retrasado).

— Pegamos outros pontos e não apenas a orla — disse Vignoli.

Desde o sábado, o Rio está na fase 5 de flexibilização, permitindo mais atividades e serviços. No entanto, tudo dentro das restrições adotadas para o combate ao coronavírus. Entre as novidades deste fim de semana, estão, além da permissão do banho de mar, a volta dos ambulantes à orla.

Especialista faz críticas
Para Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, as fases de reabertura estão sendo feitas de forma precipitada.

— O Brasil é o único país do mundo onde, há cinco meses, estão morrendo mais de mil pessoas por dia. A cidade do Rio de Janeiro está com uma redução do número de casos, mas o Estado do Rio não. Então a gente vê com bastante preocupação imagens de aglomerações — afirmou. — As pessoas vão para rua e não se preocupam com isso, não se previnem, vão se expor e vão se contaminar. E aí a gente tem os percentuais em que 20% vão ser hospitalizados e 5% vão entrar em um quadro crítico e precisar da unidade de tratamento intensivo.

A epidemiologista ressalta que cada pessoa tem que entender o seu papel na sociedade, porque o vírus não deixou de circular. E o que fez diminuir um a taxa de transmissão foi, justamente, o isolamento social. Ela observa que as pessoas que se aglomeraram, ao voltarem para casa, podem contaminar um parente de grupo de risco.

De acordo com o cronograma inicial, atividades culturais, como visitas a museus e peças de teatro, estariam liberadas nesta fase de reabertura, mas o município, por precaução, decidiu adiar esses programas.

Domingo de muita aglomeração na orla
Com calçadão lotado, a ponto de as pessoas quase se esbarrarem, contrariando as regras de distanciamento, e banhistas na areia com canga, guarda-sol e até cooler — o que está proibido —, a Praia do Leblon teve um dia típico de sol, em plena pandemia de coronavírus. Na parte da manhã, guardas municipais não eram avistados na altura do Posto 11, e PMs tentavam, em vão, retirar grupos que ocupavam o espaço indevidamente, já que apenas o banho de mar foi autorizado na sexta-feira pela prefeitura. Alguns até aceitavam momentaneamente deixar o local, mas voltavam logo em seguida, como se nada tivesse acontecido, irritando os policiais, num dia de inverno em que a temperatura chegou a 27 graus. As cenas acontecem num momento em que especialistas da Fiocruz alertam para uma tendência de alta na curva de casos de Covid-19 no Estado do Rio.

— Passamos alertando, mas as pessoas dizem que a prefeitura liberou, por isso estão aqui, mas desconhecem as regras. Quando a gente sai, voltam para a areia como se não tivéssemos falado nada. Parece que a pandemia acabou. Estamos lidando com adultos que agem como crianças — disse uma policial da equipe, sem se identificar.

Desobediência na floresta
Nas pistas bloqueadas ao trânsito — o que devolveu, no último dia 12, a área de lazer para passeios —, o burburinho era grande logo no início da manhã. A Avenida Delfim Moreira foi pequena para abrigar todos que queriam aproveitar o sol e o céu azul. E o vaivém de pedestres e ciclistas se manteve durante todo o dia. O mesmo aconteceu, em menor escala, em seis pontos da cidade, como Aterro do Flamengo e Avenida Atlântica, em Copacabana. Além do banho de mar, que deveria ser sem permanência na areia, cariocas e turistas se divertiram andando de patins, skate, bicicleta ou caminhando. Pontos turísticos como a Praça Mauá também registraram forte movimento. Com policiamento, a Vista Chinesa não teve aglomeração, mas a Mesa do Imperador, onde os visitantes gostam de fazer fotos, estava cheia.

No Parque Nacional da Tijuca, guardas patrimoniais orientavam os visitantes sobre as novas regras, sobretudo o uso de máscaras, mas era só os funcionários se distanciarem para a medida de segurança ser ignorada. Com exceção da Pedra Bonita, todas as trilhas do parque permanecem abertas para a prática de atividades físicas.

Em todos os lugares, era possível, apesar dos alertas, ver pessoas sem proteção no rosto, o que é uma das “regras de ouro” estabelecidas pelo município para o afrouxamento do isolamento. O item, de uso obrigatório em todo o oestado, é defendido por especialistas porque aumenta a proteção contra a Covid-19 e ajuda a conter o avanço do vírus.

O prognóstico da Fiocruz para o Rio — e também também para Ceará e Maranhão — consta de boletim divulgado pelo Infogripe, o sistema que monitora a ocorrência da síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país. Nesses três estados, um pico de casos foi registrado na primeira quinzena de maio. Em junho, houve quedas seguidas, mas, no fim de julho, segundo as estimativas, a curva tornou a subir — ainda que em um patamar bem abaixo do de dois meses atrás.

Fonte: O Globo

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