PUBLICADO EM 04 de fev de 2020
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Democracia em Vertigem: o que é isso Pedro Bial?

Cineasta Petra Costa

Por Marcos Aurélio Ruy

Entrevistado pela equipe do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o ex-apresentador do Big Brother Brasil, Pedro Bial escorregou na prepotência e no machismo. Numa pergunta que soou encomendada, sobre o documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, único representante do Brasil no Oscar 2020, o apresentador do programa Conversa com Bial, da Globo, destilou sua misoginia ao fazer ataques rudes e pessoais à diretora do aplaudido documentário, da Netflix.

O ex-jornalista falou, na emissora do grupo RBS, ligado às organizações Globo, que “ela fica choramingando o filme inteiro” e complementou “é um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e inspiração de mamãe”. Ele não entendeu nada ou está sendo desonesto.

“O machismo sempre mostra suas garras quando uma mulher se destaca naquilo que faz, como é o caso da cineasta Petra Costa”, diz Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Ouça o que disse Bial e o uso que a extrema-direita faz disso

O crítico de cinema Pablo Villaça respondeu à altura essa agressão incabível. Para Villaça, Bial “é um menino querendo dizer para o papai dele que ele fez tudo direitinho”, inclusive escreveu a biografia autorizadíssima de seu patrão, Roberto Marinho (1904-2003), que enriqueceu às custas de seu apoio à ditadura (1964-1985), que perseguiu, prendeu, torturou e matou milhares de pessoas pelo crime de pensar diferente.

Celina denuncia o papel misógino que a mídia comercial teve contra a ex-presidenta Dilma Rousseff no processo de impeachment. “Os órgãos de comunicação trataram a Dilma como jamais fariam com um homem. Bial agiu da mesma forma com Petra”.

Assista debate sobre o filme com Petra Costa

E foi além, de acordo com ela, ao querer recontar a história da mesma maneira que fez o general nazista Joseph Goebbels (1897-1945) para quem uma mentira muitas vezes repetida acaba se tornando verdade. “O apresentador igualou-se aos bolsonaristas que se inflamam de ódio quando alguém os contradiz”.

Bial é aquele ex-jornalista que festejou a queda do Muro de Berlim, em 1989, como se fosse o fim da história e segue a cartilha do Instituto Millenium, órgão dos barões da comunicação, com objetivo de castrar a liberdade de expressão e pensamento.

Para ele, Democracia em Vertigem afirma que “somos de esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica” porque “foram os maus do mercado, essa gente feia, homens brancos, que nos machucaram e nos tiraram do poder”.

Raimunda Gomes (Doquinha), secretária de Comunicação da CTB, afirma que “esse discurso evidencia que ele representa o consórcio golpista que tirou a presidenta eleita, colocou um golpista em seu lugar, e ainda ajudou a eleger o fascista Bolsonaro para a Presidência”.

Acompanhe o que disse Chico Buarque

Villaça afirma que o ataque do ex-jornalista e atual apresentador global foi feito por quem “há muito se tornou defensor ferrenho dos interesses dos patrões”. Para Celina, Bial perdeu a noção do ridículo. “Toda pessoa que se curva tanto aos poderosos, acaba se perdendo na vida e uma hora ou outra a casa cai”.

Ela se refere à misoginia, mas também à afirmação de que Democracia em Vertigem “é uma ficção alucinante, É mais que maniqueísmo, é uma mentira”. Uma mentira de Bial ao estilo de Goebbels para munir o exército da extrema-direita contra o filme.

Isso porque o filme é sério candidato ao Oscar 2020 de melhor documentário. “Ganhe o prêmio ou não, a Petra já venceu esse debate e conta a história com perfeição sobre o golpe de Estado de 2016, que Bial nega”, acentua Celina.

Caetano Veloso também falou; veja

Tanto que a obra tem sido elogiada em todo o mundo. Grandes artistas brasileiros têm tecido rasgados elogios como fizeram Caetano Veloso e Chico Buarque ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro se incomoda com as entrevistas concedidas pela cineasta mineira no muindo afora. Bial parece se incomodar tanto quanto.

Chico Buarque canta uma resposta ao ex-jornalista na canção Jorge Maravilha, assinada pelo pseudônimo Julinho da Adelaide para driblar a censura vigente em 1974, quando o país vivia sob uma ferrenha ditadura.

Canta Chico: “E nada como um dia após o outro dia pro meu coração e não vale a pena ficar, apenas ficar chorando, resmungando até quando, não, não, não”.

O que é isso Pedro Bial?

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