PUBLICADO EM 23 de out de 2021
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Crentes e ateus se unindo para dar aos que estão passando fome; música

Marisa Monte, cantora e compositora/Foto: Curtaon!/Divulgação

Por Marcos Aurélio Ruy

Com uma seleção de canções para reforçar a esperança do futuro de um jeito que somente a música pode fazer, cinco músicas cantam a vontade de superar o ostracismo vivenciado nestes tempos obscuros, mas mesmo assim “eu canto”, diria o poeta amazonense Thiago Mello.

Além de autores brasileiros de gêneros distintos, esta edição homenageia a cantora Joan Baez, que no dia 9 de janeiro completou 80 anos. Como uma das mais importantes cantoras do mundo, emprestou a sua voz pela paz, pelos direitos humanos e por uma vida digna a todas as pessoas. Merece ser homenageada como artista e como cidadã.

Eduardo Gudin e Roberto Riberti

A primeira desta série é “Velho Ateu”, de Gudin e Riberti, dois nomes do samba paulista. Grandes compositores na estrada há muitos anos. Aqui cantam: “Se eu fosse Deus a vida bem que melhorava/Se eu fosse Deus daria aos que não tem nada”. Muito atual para mostrar a necessidade de suplantar preconceitos e unir as forças para combater a miséria e as desigualdades.

Dois ótimos exemplos para contradizer Vinicius de Moraes (1913-1980)e sua afirmação de que “São Paulo é o túmulo do samba”. Não é nem nunca foi.

“Um velho ateu, um bêbado cantor, poeta

Na madrugada cantava essa canção, seresta

Se eu fosse Deus a vida bem que melhorava

Se eu fosse Deus daria aos que não tem nada

E toda janela fechava

Pr’os versos que aquele poeta cantava

Talvez por medo das palavras

De um velho de mãos desarmadas”

Velho Ateu (1978), de Eduardo Gudin e Roberto Riberti

Charlie Brown Jr.

Entre as bandas de rock brasileiras mais ouvidas, o grupo Charlie Browh Jr. nasceu em 1992 e acabou em 2013 com a morte do seu líder Chorão, aos 42 anos. A canção escolhida “Tamo Aí na Atividade” porque circula pelo Instagram vídeos em que as pessoas aparecem dublando Chorão para responder a pergunta “Por que você não vota em Bolsonaro?” e a resposta vem: “Eu nasci pobre/Mas não nasci otário”.

“Eles querem que você se sinta mal

Pois assim eles se sentem bem

Eu nasci pobre

Mas não nasci otário

Eu é que não caio

No conto do vigário

Eu tenho fé em Deus

Pra resolver qualquer parada

Chega com respeito

Na minha quebrada

Eu não vim pra me explicar

Eu vim pra confundir

Eu não vim pra me explicar

Vem cá, seu cu de burro

Eu vou te dar um esculacho

Sua atitude é de playboy

Porque sua vida é muito fácil

Vencer na vida no mundão

É pra quem tem coragem

Um dia eu levo ela

Pra ver o pôr do sol da laje

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Me basta que venha do surf

Me basta que venha do skate

Basta que venha do coração

Basta que venha da mente

Me basta que venha do surf

Me basta que venha do skate

Basta que venha do coração

Basta que venha da mente

Eles são gente

Mas não são gente

Como a gente

Eles são gente

Mas não são gente

Como a gente

Meu estilo de vida

Liberta minha mente

Completamente louco

Mas um louco consciente

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Agora sei

O quanto é precioso o nosso tempo

A gente tem que dar valor

Certas coisas não tem preço

O fato é que a gente

Tem que se preservar

Viver intensamente

Com a cabeça no lugar

Não, eu não me sinto mal

Eu sobrevivo a todo lixo

Todo ódio, com amor

Eu sou o valor das coisas simples

Eu dou valor pras coisas simples, eu…

Não, eu não me sinto mal

Eu quero mais é que eles queimem

Na fogueira das vaidades

Eu dou valor pras coisas simples

Eu sou o valor das coisas simples, eu…

Mas me diz, então

O que da vida posso ter?

Como o mundo deve ser?

Com as balizas do nosso sistema

Me diz, então

O que da vida posso ter?

Eu tenho fé em Deus

Pra resolver qualquer problema

Eu nasci pobre

Mas não nasci otário

Eu é que não caio

No conto do vigário

Tenho fé em Deus

Pra resolver qualquer parada

Chega com respeito

Na minha quebrada

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Tamo aí na atividade

Me basta que venha do surf

Me basta que venha do skate

Me basta que venha do coração

Basta que venha da mente

Me basta que venha do surf

Me basta que venha do skate

Me basta que venha do coração

Basta que venha da mente

Eles são gente

Mas não são gente

Como a gente

Eles são gente

Mas não são gente

Como a gente

Meu estilo de vida

Liberta minha mente

Eu sou completamente louco

Mas um louco consciente”

Tamo Aí na Atividade (2004), de Champignon, Chorão, Pelado e Marcão (Charlie Brown Jr.)

 

Os Paralamas do Sucesso

 

Desde 1982 brilhando nos palcos, o grupo Os Paralamas do Sucesso cantam a diversidade brasileira com a expressa vontade de mudança para uma vida melhor e com liberdade. Sempre bom ter um disco dos Paralamas por perto.

“Todo dia o sol da manhã

Vem e lhes desafia

Traz do sonho pro mundo

Quem já não queria

Palafitas, trapiches, farrapos

Filhos da mesma agonia

E a cidade que tem braços abertos

Num cartão-postal

Com os punhos fechados da vida real

Lhe nega oportunidades

Mostra a face dura do mal

Oh alagados, Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

Todo dia o sol da manhã

Vem e lhes desafia

Traz do sonho pro mundo

Quem já não queria

Palafitas, trapiches, farrapos

Filhos da mesma agonia

E a cidade que tem braços abertos

Num cartão-postal

Com os punhos fechados da vida real

Lhe nega oportunidades

Mostra a face dura do mal

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Mas a arte é de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte é de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em quê

A arte é de que?

É de viver da fé (é de que?)

É de viver da fé”

Alagados (1986), de Bi Ribeiro,  Herbert Vianna e João Barone

 

Marisa Monte

A compositora e cantora Marisa Monte também abrilhanta as nossas mentes e corações há muitos anos com canções permanentes no imaginário popular. Por isso, “é melhor abrir” as portas “para ventilar” e arejar as mentes e assim vencer o obscurantismo.

“Nesse corredor

Portas ao redor

Querem escolher, olha só

 

Uma porta só

Uma porta certa

Uma porta só

Tentam decidir a melhor

Qual é a melhor

 

Não importa qual

Não é tudo igual

Mas todas dão em algum lugar

 

E não tem que ser uma única

Todas servem pra sair ou para entrar

 

É melhor abrir para ventilar,

Esse corredor”

 

Portas (2021), de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Dadi

Joan Baez

Aos 80 anos, Joan Baez continua nos presenteando com sua voz única, interpretando canções importantes para celebrar a vida, a natureza, a paz e o amor. Impossível passar pela vida sem ouvir a voz de Joan Baez, na estrada desde os anos 1960.

“Eu acredito em profecia

Algumas pessoas veem coisas que nem todos podem ver

E de vez em quando eles passam o segredo adiante

Para você e eu

E eu acredito em milagres

Algo sagrado queimando em cada arbusto e árvore

Todos nós podemos aprender a cantar as canções que os anjos cantam

Sim, eu acredito em Deus e Deus não sou eu

Eu viajei ao redor do mundo

Esteve em poderosas montanhas e contemplou o deserto

Nunca vi uma linha na areia ou um diamante na poeira

E conforme nosso destino se desenrola

A cada dia que passa, tenho certeza de que um pouco menos

Até meu dinheiro continua me dizendo que preciso confiar em Deus

E eu acredito em Deus, mas Deus não somos nós

Deus, no meu pequeno entendimento

Não importa o nome que eu chamo

Se eu acredito ou não, não importa nada

Eu recebo as bênçãos

Que cada dia na Terra é outra chance de acertar

Deixe esta pequena luz minha brilhar e enfurecer

Contra a noite

Só mais uma lição

Talvez alguém esteja assistindo e se perguntando o que eu tenho

Talvez seja por isso que estou aqui na Terra, e talvez não

Mas eu acredito em Deus e Deus é Deus”

God Is God (Deus É Deus), de Steve Earle

 

 

 

 

 

 

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