
Obras representando bilionários Mark Zuckerberg e Elon Musk com as mãos ensanguentadas carregando globos desfilam por Manhattan no protesto climático “Façam os Bilionários Pagarem”, em 20 de setembro de 2025, em Nova York. | Angelina Katsanis / AP
Por Igor Volsky
A maioria das pessoas se surpreende ao saber que as paralisações do governo e as subsequentes trocas de acusações não foram sempre uma característica constante da política americana. Para entender como chegamos a esse ponto, é preciso primeiro examinar quem se beneficia com essas paralisações.
Por décadas, os conservadores no Congresso têm usado uma crise orçamentária fabricada após a outra para sustentar a narrativa de que o governo “não funciona” — enquanto, discretamente, enriquecem seus financiadores bilionários.
O exemplo mais recente ocorreu pouco antes do recesso de agosto, quando os republicanos da Câmara aprovaram um projeto de lei pouco notado que cortava US$ 2,8 bilhões do orçamento básico do IRS (a Receita Federal dos EUA). Em outras palavras: um tapete vermelho estendido para os sonegadores de impostos com contas bancárias de nove dígitos.
Os números não mentem. Em 1990, antes de a política de paralisações se tornar algo normal, os Estados Unidos tinham 66 bilionários controlando US$ 240 bilhões. Hoje, cerca de 700 bilionários acumulam mais de US$ 7 trilhões — um aumento de 28 vezes na riqueza. À medida que a riqueza dos bilionários explodiu, a parcela total de riqueza controlada pela metade mais pobre do país encolheu.
Isso não aconteceu por acaso. Em parte, ocorreu porque a disfunção governamental gera grandes lucros para os ultrarricos, que se aproveitam das paralisações e dos cortes de gastos para evitar impostos, driblar proteções ao consumidor e maximizar lucros — além de promover a privatização. A paralisação atual, por exemplo, interrompeu processos antitruste que poderiam dividir empresas como a Amazon e a Apple.
Não surpreende que os bilionários beneficiados pelo caos das paralisações sejam, com frequência, grandes doadores de políticos republicanos de extrema direita e de organizações externas que fazem lobby a favor desse mesmo caos.
Por exemplo, os bilionários Jeffrey Yass e Robert Mercer estão entre os maiores financiadores do Club for Growth, um grupo de extrema direita que esteve por trás da paralisação do governo de 2013, liderada pelo Partido Republicano, em protesto contra a Lei de Cuidados Acessíveis (ACA, conhecida como “Obamacare”).
A ACA não foi apenas uma reforma da saúde — ela também aumentou bilhões de dólares em novos impostos sobre famílias ultrarricas. Paralisar o governo na tentativa de revogá-la era uma jogada óbvia para Yass e Mercer, ambos envolvidos em esquemas de evasão fiscal legalmente questionáveis na época.
Na visão do Club for Growth, revogar a ACA e seus impostos sobre os super-ricos seria uma vitória. Uma paralisação que congelasse auditorias e fiscalizações do IRS seria uma vitória. Reabrir o governo apenas depois que os democratas aceitassem profundos cortes de gastos seria uma vitória. O caos que “provasse” a ineficiência do governo também seria uma vitória.
Os únicos perdedores seriam o povo americano.
Embora as exigências nas paralisações do governo variem, a crise geralmente só é resolvida quando os democratas aceitam cortes de gastos exigidos pelos republicanos, o que enfraquece a capacidade regulatória do Estado e beneficia setores ricos às custas dos americanos comuns.
Os conservadores aprenderam que podem até perder seus objetivos imediatos — como cortes no Medicare ou a revogação da ACA —, mas ao desviar a atenção de seus ataques contra um governo funcional, acabam vencendo ao perder.
Embora o projeto de financiamento partidário de março de 2025 tenha evitado uma paralisação, ele cortou US$ 13 bilhões de prioridades domésticas, dizimou o financiamento da fiscalização do IRS (que combate à sonegação dos super-ricos) e prejudicou agências reguladoras que protegem as famílias da classe trabalhadora — enquanto conferia à administração Trump (e a aliados bilionários como a DOGE, de Elon Musk) ampla liberdade para realocar os recursos restantes como quisessem.
A classe trabalhadora está frustrada com esse jogo tóxico. Precisamos taxar os bilionários para romper a perigosa concentração de riqueza que lhes permite manter nossa democracia e economia como reféns.
Taxar bilionários é um tema de consenso, com o apoio crescendo rapidamente à medida que se tornam mais visíveis as consequências da riqueza extrema sem controle.
Uma pesquisa recente da Impact Research mostrou amplo e intenso apoio ao aumento de impostos sobre bilionários entre os eleitores prováveis dos distritos e estados decisivos das eleições de 2026. E uma pesquisa da Morning Consult revelou que 70% dos republicanos acreditam que “os americanos mais ricos devem pagar impostos mais altos” — um aumento em relação aos 62% registrados há apenas seis anos.
Enquanto o Congresso não enfrentar o desequilíbrio fundamental de poder que permite que bilionários se beneficiem e alimentem a disfunção governamental, os americanos continuarão presos a esse jogo perigoso de chantagem orçamentária.
É hora de taxar os bilionários e devolver o poder ao povo.
Igor Volsky é diretor da Guns Down America e vice-presidente do Center for American Progress.
Texto traduzido do People’s World por Luciana Cristina Ruy
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