PUBLICADO EM 02 de ago de 2021
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Obrigar aula presencial sem vacina e sem os protocolos necessários é um verdadeiro crime

As professoras e professores do estado de São Paulo vêm denunciando, desde o início da pandemia, a falta de infraestrutura na maioria absoluta das escolas da rede oficial de ensino do estado para aulas presenciais em meio à maior crise sanitária da história do país.

A pandemia do coronavírus desnudou o caráter elitista e privatista do governo de Joao Doria, do PSDB. Inicialmente as aulas foram suspensas e foi pensado um ensino remoto – virtual – para suprir a demanda. Não foi bem implementado, continuamos a denunciar.

Agora uma pesquisa feita pelo Instituto Vox Populi para a Apeoesp mostra claramente que estamos do lado certo da história. Os dados mostram arrefecimento da pandemia, mas até quando? O governo paulista começa a abrir tudo sem o menor critério e sem observar o exemplo de outros países, que relaxaram e se viram forçados a retomar as restrições e o isolamento.

No estado de São Paulo, de acordo com os órgãos oficiais, já tivemos quase 140 mil óbitos causados pela covid. No Brasil quase 560 mil. Mesmo com os números ainda muito altos de contaminação, os governantes ignoram as determinações da ciência e privilegiam o mercado, com a visão de retomar os seus lucros.

A pesquisa da Apeoesp comprova que o ensino remoto foi reprovado por  66,9% das professoras e professores, 74,7% dos pais e 73,9% dos alunos. Mas a comunidade escolar é contra o retorno às aulas presenciais sem a vacinação de ao menos 70% da população com as duas doses. No estado de São Paulo esse índice é de pouco mais de 20%.

Com isso, a maioria absoluta da comunidade escolar sente medo da contaminação. Entre os profissionais da educação esse receio atinge 85,6%, entre os pais 81,8% dos pais e entre os estudantes atinge 76,1%.

Queremos as aulas presenciais, mas com a vacinação completa e com todos os protocolos necessários para a preservação da vida de toda a população. Basta de mortes causadas pela irresponsabilidade de uns poucos que só pensam em lucros e  não dão valor à educação pública.

Ao contrário do que diz o secretário de Educação do estado, Rossieli Soares, as professoras e professores tiveram a sua jornada de trabalho aumentada com o ensino remoto e ainda mais com o modelo híbrido (parte virtual, parte presencial) como mostra a pesquisa. Para 49,2% dos profissionais a jornada atingiu  até 10 horas diárias, isso sem falar no trabalho doméstico. Em contrapartida, os alunos estudaram menos segundo os pais (87,3%). Na média, os pais afirmam que seus filhos estudaram apenas 2h30 horas por dia.

Nós já vínhamos alertando os governantes para essa situação. Sabemos que a educação pública necessita de muito mais investimento para reunir condições de um processo de ensino aprendizagem que coloquem as filhas e filhos da classe trabalhadora em condições de competir em situação de igualdade no mercado de trabalho e possam ter profissões com melhor remuneração.

A destinação de R$ 35,4 bilhões ao orçamento estadual para a educação, neste ano, mostra que há dinheiro. Sendo que R$ 12 bilhões, dessa verba, são para investimentos. Mas as escolas continuam em situação extremamente precárias. Não foram reformadas nesse período de suspensão de aulas e muitas delas têm poucos banheiros. Faltam itens básicos para a manutenção dos prédios escolares e faltam funcionários para uma higienização adequada. Imagine a questão de ter bibliotecas, laboratórios, quadras esportivas e todos os quesitos necessários para uma boa aula e um bom futuro para as filhas e filhos da classe trabalhadora.

E apesar de um orçamento capaz de melhorar as condições estruturais das escolas e os salários, defasados em mais de 29%, como mostra o Dieese, o governador insiste em investir o dinheiro público em Organizações Sociais, visando a privatização das escolas.

Já temos garantidos os 10,15% determinados pela Justiça e o governador se nega a cumprir. Dinheiro tem. Falta é vontade política para investir na educação e com isso melhorar as condições de vida das pessoas que vivem do trabalho e sustentam o estado e o país. Mais do que nunca precisamos mobilizar e organizar a luta por salários mais dignos às professoras e professores do estado mais rico da nação.

Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, seção São Paulo (CTB-SP).

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