PUBLICADO EM 29 de nov de 2019
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Bolsonaro amplia ameaça à Folha e diz que boicota produtos de anunciantes do jornal

Declaração ocorre um dia após cumprir promessa e excluir Folha de licitação da Presidência para assinatura de jornais

O presidente Jair Bolsonaro ampliou as ameaças à Folha e disse nesta sexta (29) que boicota produtos de anunciantes do jornal. Ele ainda recomendou à população não comprá-lo.

“Eu não quero ler a Folha mais. E ponto final. E nenhum ministro meu. Recomendo a todo Brasil aqui que não compre o jornal Folha de S.Paulo. Até eles aprenderem que tem uma passagem bíblica, a João 8:32. A imprensa tem a obrigação de publicar a verdade. Só isso. E os anunciantes que anunciam na Folha também.”

“Qualquer anúncio que faz na Folha de S.Paulo eu não compro aquele produto e ponto final. Eu quero imprensa livre, independente, mas, acima de tudo, que fale a verdade. Estou pedindo muito?”, disse, em entrevista na porta do Palácio do Alvorada, diante de um grupo de apoiadores.

A declaração foi dada após a reportagem questionar Bolsonaro sobre a decisão da Presidência de excluir o jornal da relação de veículos nacionais e internacionais exigidos em um processo de licitação para fornecimento de acesso digital ao noticiário da imprensa.

Ao ser indagado se estaria defendendo um boicote à Folha, ele respondeu: “Já dei o meu recado”.

Edital de pregão eletrônico publicado nesta quinta-feira (28) no “Diário Oficial da União” prevê a contratação por um ano, prorrogável por mais cinco, de uma empresa especializada em oferecer a assinatura dos veículos à Presidência.

A lista cita 24 jornais e 10 revistas. A Folha não é mencionada. O pregão eletrônico, marcado para 10 de dezembro, tem um valor total estimado de R$ 194 mil: R$ 131 mil para jornais e R$ 63 mil para revistas.

“Olha, a Folha de S.Paulo não serve nem para forrar aí o galinheiro. Olha só, eu estou deixando de gastar dinheiro público”, disse o presidente na mesma entrevista desta sexta-feira.

O edital da Presidência prevê, por exemplo, 438 assinaturas de jornais, sendo 74 de O Globo e 73 de O Estado de S. Paulo. Em relação às revistas, a exigência é de 44 acessos digitais à Veja, 44 à IstoÉ, além de 14 à Carta Capital. Também estão no edital veículos internacionais, como o The New York Times e o El País.

“O governo federal age contra os princípios da moralidade e impessoalidade que devem nortear a administração pública. Com a atitude, agride toda a imprensa brasileira, e não apenas a Folha”, diz Taís Gasparian, advogada da Folha.

Procurada pela Folha, a Presidência da República ainda não informou o motivo da ausência do jornal no processo de licitação e o critério técnico adotado.

Nesta quinta (28), questionado sobre o assunto pela primeira fez, Bolsonaro disse: “Eu quero pedir à Folha que retrate todos os males e calúnias que fez contra a minha pessoa.”

Já nas declarações desta sexta, o presidente mencionou ainda a medida provisória editada por ele que acaba com a obrigação de empresas publicarem seus balanços em veículos impressos. A MP foi derrotada em uma comissão da Câmara.

“Infelizmente, a medida provisória está no caminho do arquivo. Não é perseguição à imprensa, é modernidade. É a mesma coisa se tivesse algo obrigando vocês a terem datilógrafo na redação de vocês”, afirmou Bolsonaro.

O presidente voltou a distorcer o episódio da assessora fantasma revelada pela Folha em janeiro do ano passado. O jornal mostrou que, como deputado federal, Bolsonaro usou dinheiro da Câmara dos Deputados para pagar o salário da assessora Walderice Santos da Conceição, que vendia açaí na praia e prestava serviços particulares a ele em Angra dos Reis (RJ), onde tem casa de veraneio.

​​Bolsonaro repetiu a versão de que ela estava de férias quando o jornal visitou o local pela primeira vez.

“Ela entrou de férias dia 21 de dezembro até 20 de janeiro. Ela estava de férias e podia fazer o que bem entendesse da vida dela. Eu estou acostumado a levar pancada e sofrer calúnia por grande parte da imprensa, mas tiveram a reputação dessa senhora casada destruída. Vítima de chacota na região. A Folha de S.Paulo fez isso com essa mulher. A prova estava dada para vocês. Estava de férias. Por que não voltam atrás? Que imprensa é essa? Que Folha de S.Paulo é essa? Que moral tem a Folha para me questionar”, disse.

A Folha esteve na pequena Vila Histórica de Mambucaba em duas oportunidades.

A primeira foi em 11 de janeiro, durante o recesso parlamentar, a reportagem ouviu de diversos moradores, em conversas gravadas, que Walderice não tinha ligação com a política, prestava serviços na casa do parlamentar e tinha como atividade principal a venda de açaí e cupuaçu, em uma loja que inclusive leva o seu nome, “Wal Açaí”.

Na segunda oportunidade, em 13 agosto, a Folha retornou à vila e comprou das mãos de Walderice um açaí e um cupuaçu, em horário de expediente da Câmara.

Fonte: Folha SP

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