PUBLICADO EM 27 de dez de 2017
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Mulheres que tem filhos na creche aumentam inserção no mercado de trabalho

Estudo encomendado ao Ibope Inteligência pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal comprova que mulheres conseguem empregos de mais qualidade, com maiores salários e carteira assinada quando tem oportunidade de colocar filhos em creche; pesquisa “Primeiríssima Infância – Creche”, entrevistou e mapeou o comportamento e a opinião de 991 adultos responsáveis por uma criança de zero a três anos em relação às creches; responsáveis, em 89% dos casos, era a mãe;  segundo dados da pesquisa, 49% estão na faixa etária de 25 a 34 anos, 31% são donas de casa e 31% dos domicílios dos responsáveis têm uma mulher como chefe de família; estudo da Fundação destaca ainda que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, é direito estabelecido na Constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996

A oportunidade de matricular os filhos em creche está fortemente associada à inserção das mulheres em empregos de mais qualidade, com maiores salários e carteira assinada, comprova estudo encomendado ao Ibope Inteligência pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, dedicada a estimular políticas públicas para a primeira infância. A pesquisa “Primeiríssima Infância – Creche”, entrevistou e mapeou o comportamento e a opinião de 991 adultos responsáveis por uma criança de zero a três anos em relação às creches. Em 89% dos casos, esse responsável era a mãe. As entrevistas foram realizadas pessoalmente e online, entre os dias 6 e 26 de julho de 2016.

Outros dados evidenciam a relevância econômica das creches para o desenvolvimento econômico da mulher: 49% estão na faixa etária de 25 a 34 anos, 31% são donas de casa e 31% dos domicílios dos responsáveis têm uma mulher como chefe de família.

“Ao ter uma vaga na creche, a mãe ascende a uma condição melhor para se colocar no mercado de trabalho. Em outras palavras, ela adquire maior empregabilidade”, afirma, no relatório, o Laboratório de Estudo e Pesquisa em Economia Social (Lepes), um dos parceiros no estudo. De acordo com a análise do Lepes dos dados das entrevistas, a taxa de ocupação entre os responsáveis cujos filhos frequentam a creche (60%) era seis pontos percentuais mais alta do que entre aqueles que ainda procuram uma vaga. “Em outras palavras, há mais famílias usuárias de creche entre o total de empregados do que famílias não usuárias e interessadas na vaga”, diz o estudo.

De acordo com o Lepes, a situação de trabalho dos responsáveis cujos filhos frequentam a creche é sistematicamente melhor: maior taxa de empregabilidade com carteira assinada. “É importante ressaltar que, principalmente para as famílias mais pobres, a conquista de uma vaga na creche pode significar a saída de uma situação vulnerável para melhores condições de vida, em que a mãe da criança teria mais oportunidades no mercado de trabalho. São justamente as famílias mais vulneráveis que encontram maior dificuldade para matricular seus filhos”, registra a equipe do Lepes.

A análise mostra também que a maioria das mães cujos filhos frequentam creche (65%) trabalham em tempo integral, percentual maior do que entre as que ainda procuram por uma vaga (41%). Quando se observa o trabalho em período parcial, por outro lado, são as mães que procuram vaga em creche que predominam nessas vagas.

Não parece fazer diferença para a empregabilidade da mãe, no entanto, o fato de a criança frequentar a creche em período integral ou parcial. Para a especialista Anna Maria Chiesa, enfermeira e doutora em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, a função primordial da creche não pode ser a empregabilidade da mãe, mas sim o desenvolvimento adequado da criança na primeira infância. “Se a mãe trabalha e a criança está na creche em período parcial, tem que existir um lugar onde essa criança fique no restante do dia, e isso inclui outros cuidadores, que também assumem uma função educadora”, afirma a pesquisadora no relatório, acrescentando que a criança não é responsabilidade apenas da mãe, mas também do pai.

A enfermeira lembra ainda que, apesar de a legislação brasileira há muito tempo prever a creche como um direito da criança, o debate ainda não se atualizou. “Sabemos que a creche surge pela questão do direito ao trabalho da mãe, mas agora ela está em outro momento”, diz.

Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getulio Vargas, diz que crianças de lares mais vulneráveis encontram na creche benefícios em diversos níveis, para além de questões básicas como alimentação e proteção. “Se a criança vive em uma família em que o vocabulário é muito restrito, por exemplo, a creche se torna uma oportunidade única para que ela amplie o vocabulário e seja exposta a experiências mais amplas, que farão grande diferença em termos de repertório para sua vida escolar futura”, diz.

O Plano Nacional de Educação (PNE), lei criada em 2014, determina que a oferta da educação infantil em creches seja ampliada para atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até 2024.

Dados do relatório “Education at a Glance”, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revelam que só 37% das crianças de 2 anos de idade e 60% das de 3 anos no Brasil estão matriculadas em creches, percentual bem abaixo das médias de 39% e 78%, respectivamente, dos países da OCDE.

O estudo da Fundação destaca ainda que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, é direito estabelecido na Constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Sua finalidade é o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, complementando a ação da família e da comunidade. Está escrito na LDB que a educação infantil deve ser oferecida em creches ou entidades equivalentes para crianças de até 3 anos e em pré-escolas para as crianças de 4 a 5 anos de idade.

Fonte: Valor Econômico

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