PUBLICADO EM 07 de dez de 2017
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João Bosco desautoriza uso da canção “O bêbado e o equilibrista” em nome de ação da PF

Um dia após a PF deflagrar uma operação chamada “Esperança Equilibrista”, em alusão à canção “O bêbado e o equilibrista”, na qual invadiu a UFMG cumprindo oito mandados judiciais de condução coercitiva e 11 mandados judiciais de busca e apreensão, um dos compositores da música, o músico João Bosco, lançou uma nota em seu Facebook repudiando e ironizando a operação.

O músico desautorizou a vinculação do nome da musica com a operação e disse que a coerção realizada pela PF foi desnecessária e que “fere os princípios elementares do devido processo legal”. Ele disse ainda que a canção, escrita por ele e Aldir Blanc, “honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira” e que “permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático”.

A última estrofe da música diz: “A esperança equilibrista; Sabe que o show de todo artista; Tem que continuar”.

Leia a nota na íntegra:

NOTA DO COMPOSITOR JOÃO BOSCO EM REPÚDIO À OPERAÇÃO “ESPERANÇA EQUILIBRISTA”

Recebi com indignação a notícia de que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania.

Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental.

Resta ainda um ponto. Há indícios que me levam a ver nessas medidas violentas um ato de ataque à universidade pública. Isso, num momento em que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estado onde moro, definha por conta de crimes cometidos por gestores públicos, e o ensino superior gratuito sofre ataques de grandes instituições (alinhadas a uma visão mais plutocrata do que democrática). Fica aqui, portanto, também a minha defesa veemente da universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que continuar.

João Bosco

07/12/2017

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