PUBLICADO EM 02 de mar de 2022
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Historiadores pedem uma luta antifascista mais forte, ou a administração Biden pode ser a próxima República de Weimar

Weimar e Washington. Montagem People´s World

Por Berry Craig (People’s World)

Especialistas e historiadores estão comparando o Presidente Joe Biden e os Democratas aos Social Democratas, os apoiadores mais leais da de vida curta alemã República de Weimar, que Adolf Hitler e os nazistas derrubaram, em 1933.

A comparação entre Weimar e hoje “é imperfeita, mas o conto de advertência ainda é claro,” Matthew Rozsa, da Salon, escreveu ano passado. Ele está buscando um Ph.D. em História. Rozsa acrescentou, “Se o movimento de Donald Trump está destinado a ser a resposta da América ao nazismo, então a administração Joe Biden atualmente é um equivalente aproximado da República de Weimar.”

Os historiadores da Universidade Estadual de Murray, David Pizzo e Ken Wolf fazem uma comparação similar.

“Biden e os Democratas são institucionalistas como os Social Democratas, que eram chamados de os ‘parteiros’ da República de Weimar,” disse Pizzo. “Em outras palavras, eles tinham fé no sistema democrático. Assim como os Democratas.”

O Social Democratas de centro-esquerda eram o principal partido ao longo da maior parte do período de Weimar. A república foi fundada em 1918, quando a Alemanha Imperial perdeu a Primeira Guerra Mundial (O atual chanceler da Alemanha é um Social Democrata; os Social Democratas são o principal partido em uma coalisão parlamentar de três partidos.)

Até o fim, a maioria dos Social Democratas tinham fé que a democracia parlamentar da Alemanha, contudo frágil, acabaria por triunfar sobre o nazismo, mesmo quando os nazistas cresciam mais populares e mais violentos.

“Biden tem uma mentalidade institucionalista, também,” disse Wolf, um professor emérito da Murray. “Ele e os Democratas acreditam no sistema.”

Mas Pizzo e Wolf temem o autoritarismo trumpista, amplamente arraigado no nacionalismo branco e tingido com violência, é um claro e presente perigo para nossa república. “Biden devia estar gritando ‘alarme de incêndio!’ agora,” disse Pizzo.

Ele e Wolf concordam que o vigoroso discurso do Presidente, em 6 de janeiro, foi um bom começo. Mas os dois historiadores alertam que Biden deve apoiar suas fortes palavras com forte ação. “Os Social Democratas juraram resistir a Hitler e aos nazistas enterrando armas em seus quintais,” disse Wolf. “Você não deve dizer coisas assim, a menos que você queira dizer isso.”

Enquanto isso, o Comitê Nacional Republicano unanimemente resolveu que os insurrecionistas pró-Trump que invadiram o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, estavam se engajando em um “discurso político legítimo”.

A turba, que tinha como objetivo derrubar a eleição de novembro de 2020 e manter Trump no poder, incluía membros de grupos de milícias supremacistas e nacionalistas brancos, cultistas do QAnon e neonazistas.

“Muitas teorias e violência do QAnon se espelham assustadoramente em propaganda nazista e atividade aterrorizante,” escreveu Terri Schure, no Worldpress.org, pouco depois do golpe fracassado de Trump, que foi comparado ao Beer Hall Putsch, o golpe abortado de Hitler, em 1923.

Enquanto as milícias pró-Trump são vagamente organizadas, Hitler tinha os Camisas Marrons, um grupo paramilitar que fazia a segurança dos comícios nazistas e “ameaçava e aterrorizava membros do partido oposto e violentamente intimidava aqueles que se opunham a Hitler,” Schure explicou. “Os Camisas Marrons foram particularmente cruéis com os judeus e realizaram raivosamente violência de rua desenfreada e descontrolada contra eles.”

Ela adicionou que os Camisas Marrons se consideravam patriotas em uma missão para destruir a República de Weimar e “limpar a Alemanha dos comunistas e judeus.” As milícias pró-Trump também se veem como patrióticas.

Rozsa alertou “há um óbvio risco de que Biden e as estreitas maiorias Democratas no Congresso vão falhar, e Trump ou um sucessor vão assumir e então cimentar a si mesmos no poder por pelo menos a próxima geração. Cada americano que quer evitar isso – especialmente Biden e a liderança Democrata no Congresso – precisa aprender as lições certas da Alemanha nos anos de 1920 e 1930.”

Biden, Rozsa pediu, “deve reconhecer a gravidade da crise e priorizar neutraliza-la. Isso significa ter certeza que os Republicanos não possam cobrir a verdade sobre a agenda antidemocrática do trumpismo, e que os direitos de voto estejam protegidos.”

Ele ainda escreveu que “nada disso vai ser possível enquanto os Republicanos no Senado podem obstruir a legislação até a morte.”

Rozsa propôs que se o Presidente não pode convencer os Senadores Joe Manchin e Krysten Sinema de desistirem de apoiar a obstrução e ficar atrás em seu programa, então eles merecem serem efetivamente tratados como Republicanos, mesmo se eles permaneçam com o nome de Democratas.

Ele adicionou:

“Biden pode ainda usar criativamente usar o poder executivo para pelo menos um pouco seguir esse próximo passo. Esse passo é ter certeza que ele adequadamente aborda as necessidades legítimas das pessoas. A República de Weimar caiu, em parte por causa de dificuldades econômicas generalizadas, que o governo simplesmente não podia concertar. Biden precisa ter certeza de que a vasta maioria dos americanos se sintam economicamente seguros, a salvo de ameaças estrangeiras e domésticas (como terroristas e pandemias), e protegidos de crises existenciais de longo prazo, como o aquecimento global, poluição plástica e desigualdade de renda. Qualquer legislação que passe em qualquer lugar da nação que limite o acesso dos cidadãos ao voto deve ser arrancada dos livros. Mentiras espalhadas de má fé para desencorajar o voto, de Trump alegando ter vencido, em 2020, a mitos sobre urnas pelo correio, devem ser proativamente refutadas.”

Por último, ele argumentou, Biden nunca deve deixar o público esquecer do ataque ao Capitólio. “Assim como a presidência de George W. Bush foi definida por sua resposta ao ataque terrorista de 11 de setembro, então também Joe Biden vai ser definido por se ele pode fazer o 6 de janeiro uma pedra angular da nossa consciência política. Se ele puder fazer isso, ele vai se capaz de ter certeza que a filosofia antidemocrática do trumpismo – que se coloca como uma ameaça muito mais perigosa à América do que o terrorismo islamita – seja conhecida por todos menos seus seguidores pelo que ela é.”

Rozsa admitiu, “Isso não vai ser fácil, mas nós não temos escolha. Um século atrás uma das maiores potências mundiais desmoronou em um mal autoritário com surpreendente rapidez:  enquanto os monarquistas e os principais capitalistas acreditavam que Adolf Hitler era um palhaço que eles podiam controlar, os oponentes estavam divididos, confusos e ineficazes. Aspectos daquela história estão se repetindo, e a questão agora é se nós aprendemos com os erros do passado para alterar o resultado.”

Rozsa citou similaridades perturbadoras entre Hitler e Trump, notavelmente seu desprezo pela democracia. O trumpismo, como o nazismo, é baseado na “Grande Mentira”, que Hitler definiu em Mein Kampf como uma mentira tão descarada e contada tão frequentemente que o público vai acreditar nela.

Hitler apelava ao antissemitismo e nacionalismo falsamente “alegando que a Alemanha tinha na verdade vencido a Primeira Guerra Mundial, mas tinha sido traída por trás das cenas por socialistas e judeus.” Trump, que se rende ao preconceito, especialmente racismo, sexismo, xenofobia e intolerância religiosa, ainda está trotando sua Grande Mentira de que Biden roubou a eleição dele em 2020.

Em adição, Pizzo disse que o comportamento do establishment conservador da Alemanha, em relação a Hitler e aos nazistas, é notavelmente similar a como a Velha Direita da América reagiu em relação a Trump e ao trumpismo.

Depois que Hitler ganhou o poder em 1933, ele proibiu todos os partidos políticos, menos os nazistas. “Os Social Democratas se opunham a ele, mas os partidos conservadores todos foram junto com ele, assim como McConnell e os Republicanos foram junto com Trump,” disse Pizzo.

Uma vez no controle, os nazistas lançaram um programa implacável de terrorismo financiado pelo Estado contra os judeus – o primeiro passo na direção do holocausto – e brutalmente suprimiram os Social Democratas, comunistas, a imprensa antinazista e outros grupos que se opunham a ele. Muitos foram assassinados, jogados no Dachau, o primeiro campo de concentração de Hitler, ou forçados a fugir do país.

“É fatal para os conservadores pensar que eles podem brincar com o fogo do extremismo de direita sem se queimarem.” Robert Gerwarth escreveu na revista Foreign Policy. “Trump não é Hitler, mas sua mobilização deliberada da direita fez o Partido Republicano dependente de eleitores que incluem militantes nacionalistas, negacionistas do Holocausto, supremacistas brancos e teóricos da conspiração – resumidamente, pessoas que querem mais do que apenas um governo diferente.”

Pizzo disse que se os Republicanos retomarem a Câmara – e possivelmente o Senado – em novembro, e Trump ou um presidente trumpiano for eleito em 2024, a democracia americana vai provavelmente perecer.

“Os Republicanos vão sistematicamente desmantelar cada disjuntor, cada quebra-fogo, cada dique – escolha sua analogia,” ele disse. “Nós já estamos mais perto de um golpe fascista do que nós já estivemos em nossa história.”

Berry Craig é professor emérito de história na West Kentucky Community and Technical College, em Paducah, e escritor freelancer.

Fonte: People´s World 

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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