PUBLICADO EM 27 de mar de 2020
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Covid-19: após negociação coletiva, costureiras terão férias e salários garantidos

Com o avanço da pandemia de Covid-19, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras nas Indústrias do Vestuário de Sorocaba e Região tem realizado negociações coletivas e pressão junto às fábricas sorocabanas e das cidades de Votorantim e Ibiúna, no interior paulista. A entidade tem aproximadamente 130 empresas cadastradas e representa 2.500 funcionários.

A Emphasis, uma das maiores confecções do Brasil e que atende todo território nacional e internacional, localizada na cidade de Votorantim, aceitou negociar com o sindicato e concedeu férias coletivas para cerca de 1.000 funcionárias, que retornam dia 22 de abril. As trabalhadoras estão em casa desde segunda-feira (23).

A Alcalde, fábrica de roupas em Sorocaba, também paralisou as atividades, concedendo afastamento de 15 dias a 40 trabalhadoras, com negociação permanente. A partir dos desdobramentos do cenário nacional com relação à saúde, a empresa se propõe a prorrogar mais 15 dias, conferindo, após isso, férias coletivas, mas sem demissões ou retirada de salário.

A sorocabana MC Confecções, fábrica que produz e comercializa uniformes sociais e acessórios, também concedeu férias coletivas a cerca de 100 trabalhadoras em prevenção ao coronavírus, com retorno previsto para o dia 22 de abril.

Nas três cidades, o sindicato encaminhou carta de negociação coletiva a todas as empresas e tem estabelecido um diálogo permanente, segundo a presidenta da entidade, Paula Proença.

“Esperamos que os empresários do setor tenham responsabilidade e não transfiram a conta para os trabalhadores e as trabalhadoras. Será muita crueldade que, além de enfrentar o coronavírus, a classe trabalhadora seja ainda mais sacrificada. Estamos em constante negociação para que haja segurança e garantia dos direitos e empregos”, afirma.

Costureira, que preferiu não revelar sua identidade e nem a fábrica onde atua, relatou à reportagem da CUT São Paulo suas dificuldades neste período de pandemia.

“Dentro da minha rotina, eu não sei como seria sem férias coletivas. Teria que fazer algum acordo com o patrão, pedir férias individualmente ou algo assim, porque tenho filhos e a escola está fechada. A única pessoa que poderia me ajudar é minha sogra, mas ela está no grupo de risco, tem problemas cardíacos, pressão alta e problemas pulmonares”, relatou.

Segundo a costureira, é preciso que as trabalhadoras se mobilizem para cuidar da saúde e de suas vidas. “Não podemos esperar apenas pela decisão dos patrões. Se não fosse a pressão do sindicato, ainda estaríamos trabalhando durante a pandemia”, disse.

O relato desta trabalhadora se soma a várias outras reclamações anônimas que chegam hoje ao sindicato. De acordo com a entidade, a base da categoria é formada por 85% de mulheres.

Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, Márcia Viana, é preciso entender a importância da negociação coletiva pelo sindicato para assegurar os direitos das trabalhadoras. Ao mesmo tempo, ela defende que é necessário compreender como a questão de gênero se encaixa na dinâmica de trabalho frente à pandemia, observando as particularidades do contexto das relações sociais no Brasil.

“Precisamos ter uma visão em relação à questão de gênero porque as mulheres são as mais sobrecarregadas fisicamente, mentalmente e psicologicamente. Com a pandemia isso se acentua ainda mais. Não ter com quem deixar os filhos é uma sobrecarga a ser observada, por exemplo, sem falar nos cuidados com familiares geralmente atribuídos às mulheres”, destaca.

O que Márcia aponta é confirmado pelo relatório “Tempo de cuidar”, da ONG Oxfam, divulgado em janeiro. Segundo ele, as mulheres são responsáveis por 75% de todo trabalho de cuidado não remunerado no mundo.

“Elas trabalham menos horas em seus empregos ou têm que abandoná-los por causa da carga horária com o cuidado. Em todo mundo, 42% das mulheres não conseguem um emprego porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado – entre os homens, esse percentual é de apenas 6%”, informa o estudo da Oxfam.

Fonte: CUT São Paulo

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