PUBLICADO EM 25 de abr de 2018
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Capas de vinil, eternos objetos do desejo

Por Fernando Rosa

Capas de LP Além da revolução musical e comportamental, a década de sessenta também mudou a concepção de apresentação dos discos. Se nos anos cinqüenta, a pobreza visual era total, com a beatlemania e, especialmente, com a psicodelia, as capas dos LPs ganharam status de arte. Uma ideia que, apesar do espaço físico menor, a era digital tentou manter com os CDs, em muitos casos até mesmo com sucesso – como a maioria do material do selo norte-americano Rhino Records.

As mudanças ocorreram em vários momentos e de diversas formas, envolvendo os principais artistas. Os Beatles lançaram um dos primeiros álbuns com capa dupla – Beatles For Sale, os Rolling Stones não colocaram o nome na capa de seu disco de estreia e Jimi Hendrix incluiu um encarte com as letras das músicas no álbum Axis: Bold As Love. Um pouco depois, os mesmos Beatles lançaram o álbum Let It Be dentro de uma caixa, com uma verdadeira parafernália gráfica, os Stones colocaram um fecho-éclair de verdade na capa de Stick Fingers (criação de Andy Warhol) e o Jefferson Airplane embalou Bark com um saco de supermercado.

    

A partir de então, instalou-se uma verdadeira guerra de capas, que resultou em obras que eternizaram-se na memória visual de muita gente. Entre eles, apenas para citar algumas: Atom Heart Mother, do Pink Floyd, com a vaca na capa; Physical Graffiti, do Led Zeppelin, com suas janelinhas; e o primeiro Velvet Underground, com a banana. E, o mais inventivo deles, Sgt. Pepper’s, com sua galeria de personalidades, que detonou uma série infindável de covers e sátiras, até os dias de hoje.

No Brasil, também rolaram experiências interessantes, com a caixa contendo três discos dos grupos The Beggers e The Black Stones, por volta de 1966, talvez a primeira box-set da história do disco. Depois, a capa de A Banda Tropicalista do Duprat, com sua estética tropicalista colada de Sgt. Peppers destacou-se na segunda metade dos anos sessenta. E, já em setenta e dois, Caetano Veloso com o disco-objeto Transa – uma capa que formava um triângulo, radicalizou a experimentação gráfica.

Atrás de cada banda e de cada gravadora estavam artistas que, ou já atuavam em outras áreas, ou fizeram nome e fama com o mundo do rock and roll. Entre eles, o artista da pop-art Andy Warhol, que produziu as capas do Velvet e dos Stones, o cartunista Robert Crumb, que fez Cheap Thrills de Janis Joplin e, ainda, a agência Hipgnosis, responsável pelas viagens visuais das capas do grupo Yes, especialmente. No Brasil, um dos principais criadores foi Rogério Duarte, autor de capas que contribuíram para afirmar a estética do movimento tropicalista.

Nos anos dois mil, alimentando a briga em favor dos amantes das velhas capas de vinil, a indústria do disco passou a lançar CDs reproduzindo os formatos originais, e em papel. Um exemplo radical dessa iniciativa é o álbum duplo Exile On Main Street, dos Rolling Stones, relançado no tamanho CD com encartes, incluindo até mesmo a cartela de postais com a banda, em miniatura. Tanta “fobia” resultou no retorno do vinil, com suas belas capas expostas em lojas mundo afora, realimentando velhos e novos vícios.

Fernando Rosa é jornalista, produtor cultural, editor do portal Senhor F e colaborador do site Rádio Peão Brasil.

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