PUBLICADO EM 08 de mar de 2022
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Primeiro Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora foi um marco no movimento sindical

João Amazonas no Primeiro Congresso da Mulher Trabalhadora

Carolina Maria Ruy

Em janeiro de 1986 o Primeiro Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora reuniu 4126 mulheres de 714 entidades sindicais, trabalhadoras urbanas e rurais, sob o slogan “Lugar de mulher também é no seu sindicato lutando por seus direitos”. Foi um marco do movimento sindical que naquela época ainda tinha pouca presença feminina.

O Brasil atravessava profundas mudanças deflagradas pela campanhas pelas Diretas Já, de 1984, pelo fim da ditadura militar, em 1985, e pela pressão para a formação da Assembleia Nacional Constituinte, que se deu em 1987. Cinco anos antes, em 1981, a primeira Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) deliberara sobre a criação de centrais sindicais e pavimentava o engajamento político dos trabalhadores.

Na esteira daqueles acontecimentos as mulheres também se organizaram em torno de seus direitos e de suas demandas próprias, tanto com relação à participação na Assembleia Constituinte quanto na briga por mais espaço no movimento sindical.

Para organizar o Primeiro Congresso da Mulher Trabalhadora a CGT (Central Geral dos Trabalhadores, fundada em 1986), realizou encontros estaduais por todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, em uma mobilização que levou a uma grande participação no encontro nacional. Segundo Marina Silva, umas das organizadoras do Congresso (que na época era assessora do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo), “a executiva da CGT achava que não conseguiríamos levar nem 200 mulheres. E fez um orçamento para 200 mulheres, mas apareceram 4126. O fato surpreendeu a própria executiva da CGT que teve que sair na última hora atrás de hotel. Pegamos todos hotéis do centro de São Paulo e lugares com alojamento e creche para as crianças, porque teve mulher que levou criança, tivemos que improvisar uma creche durante o Congresso que é uma coisa que as mulheres necessitam e para a qual os sindicatos precisam olhar”.

A abertura do Congresso aconteceu no Teatro Elis Regina, no Anhembi, e os grupos de trabalho foram realizados no Projeto SP, na Rua Augusta (em um circo improvisado onde hoje é o Parque Augusta).

Marina lembra que aquela mobilização das mulheres só foi possível porque o Sindicato dos Eletricitários, que era presidido pelo Rogério Magri, comprou essa briga e resolveu apostar no Congresso. Tanto que muitas reuniões preparatórias e muitos seminários aconteceram no auditório do Sindicato.

Uma das conquistas do Congresso foi garantir a presença de uma mulher, Gonçala Cruvinel (do Sindicato dos Telefônicos de São Paulo – Sintetel), na direção da CGT.

Gonçala Cruvinel e Rogério Magri

A eleição da Gonçala para a direção da CGT desencadeou a criação de uma série de departamentos femininos em diversos sindicatos, prática hoje já consolidada. O Congresso também fomentou campanhas de sindicalização de mulheres, a luta para a inclusão de demandas relativas aos direitos da mulher nas campanhas salariais e, além disso, as mulheres começaram a participar da formação de novas lideranças sindicais femininas. Foi um momento de muita ebulição que ajudou a quebrar os preconceitos e as barreiras quanto a participação feminina nos sindicatos.

No processo de construção da Constituição Cidadã de 1988 as mulheres estavam já mobilizadas para participar. A nova Carta Magna trouxe expressivos avanços para a mulher e, em especial, para a trabalhadora rural. As trabalhadoras rurais passaram a ter acesso a registro em carteira e a aposentadoria. Avanços que não se deram só na lei, mas no engajamento político.

Fotos do Primeiro Congresso da Mulher Trabalhadora. Crédito: Sintetel

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