PUBLICADO EM 26 de jun de 2018
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Passeata dos Cem Mil, 50 anos: relembre os momentos marcantes

Cerca de 100 mil pessoas participam de passeata pelo fim da Ditadura Militar. Relembre os momentos marcantes do evento que parou o Centro do Rio de Janeiro.

Foto: Divulgação

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Tônia Carrero, Eva Wilma, Milton Nascimento, Zuenir Ventura, Clarice Lispector, Fernando Gabeira… e mais cem mil. Há 50 anos, milhares de pessoas marchavam pelas ruas do Centro do Rio com gritos de guerra para cobrar uma atitude do governo diante dos problemas estudantis. Escrevia-se, então, um capítulo da história do Brasil, a Passeata dos Cem Mil.

Exato meio século depois, o G1 falou com dois dos manifestantes que estiveram lá: o jornalista Zuenir Ventura e a atriz Eva Wilma. Eles relembram particularidades do protesto, como as diferenças da organização para as maifestações atuais e a importância histórica do ato em si.

“Era mais fácil registrar quem não estava do que quem estava lá”, conta Zuenir Ventura.
Em 1968, a Ditadura Militar atingia o seu auge de repressão ao movimento estudantil, o que culminou numa série de acontecimentos e manifestações.

A partir da morte do estudante Edson Luís Lima Souto, de 18 anos, durante uma invasão da polícia ao restaurante Calabouço, o movimento começou a organizar atos públicos, resultando na manifestação mais importante contra o regime militar: a Passeata dos Cem Mil.

Passeata dos Cem Mil, 50 anos: Eva Wilma e Zuenir Ventura relembram momentos marcantes
Sobre o fatídico dia 26 de junho de 1968, o autor do livro “1968 – o ano que não terminou”, Zuenir carrega na memória os acontecimentos como se tivessem sido há uma semana.

“Foi um espetáculo, um desfile de escola de samba. Eu por exemplo fui na ala dos professores. Mas tinha a ala dos jornalistas, a ala dos padres, dos artistas… aquele desfile pacífico, tranquilo. Foi uma festa! Não era um confronto, uma provocação, um desafio. Era uma celebração: 100 mil pessoas procurando mostrar que a Ditadura não tinha o apoio da sociedade”, diz Zuenir.

Já Eva Wilma relembra os dias anteriores e como a classe artística entrou no movimento. Eram tempos de censura e, como conta a atriz, não era possível se referir à repressão nem em forma de metáfora.

“Nós estávamos realmente sufocados pela censura, que não permitia que se falasse nem por metáfora o que estava acontecendo. Eu estava numa época de amadurecimento, de conscientização importante, fazendo um espetáculo de muito sucesso, ao lado do Calabouço, no Teatro Maison de France. Local onde foi assassinada uma criança. E isso, eu acho que foi o estopim da nossa greve. Nós decidimos parar os teatros.”

Mais do que lembranças, Zuenir resgata o momento mais marcante para ele, em meio a tantos que fizeram história na manifestação.

“Para mim, realmente são aquelas pessoas sentando no chão. Isso para mim foi a grande revelação. Aquilo para mim foi a coisa mais impactante, mais impressionante. Milhares de pessoas sentadas no chão, no asfalto. E me lembro até das moças com os jornais nas pernas. Tinham freiras sentadas no chão”, completa.

Mesmo 50 anos depois, a emoção não fica de lado nas palavras Eva Wilma. Ela conta que antes da passeata, os artistas ficaram três dias acampados nas escadarias dos Theatros Municipais do Rio e de São Paulo. Todos se revezando em turnos. No dia 26 de junho de 1968, os líderes organizaram a saída das atrizes. Elas seriam as porta-vozes da manifestação.

“Lembro de nós, ingenuamente fazendo entrevistas com as autoridades, pedindo… falando em nome de justiça.”

Em uma época de difícil e controlada comunicação, o jornalista conta ainda que, para a Passeata acontecer, os estudantes se organizaram de forma discreta.

“Naquele momento não tinha internet, não tinha globalização. Era tudo na boca. E tinha outra coisa: os telefones eram censurados. Você tinha que ‘marcar ponto’, coisa que vocês não sabem, que é passar distraidamente por alguém e falar algo, trocar informação. Não dava para confiar em telefone. Eu mesmo fui preso uma vez por conta de um telefonema, embora nunca tivesse nenhuma participação ou militância política. E eles fizeram isso.”

Segundo Eva Wilma, Dias Gomes, Flávio Rangel, Ferreira Goulart eram alguns dos líderes da passeata.

 

“Não dá para esquecer. É muito importante que seja contado para as pessoas hoje em dia, para que elas saibam o que aconteceu E para que não aconteça novamente. Eu faço questão de contar, porque foram momentos muito difíceis”

Para Zuenir, tanto a Passeata dos Cem Mil quanto o ano de 1968 foram um marco promovido pelo movimento estudantil e que perdura até hoje.

“Os estudantes achavam que estavam fazendo uma revolução política. Mas, na verdade, eles fizeram uma revolução comportamental e cultural. O que ficou de conquista daquela época foi no plano do comportamento. Os movimentos negro, gay, ambiental e, sobretudo, feminista começaram ou se solidificaram naquela época. E de qualquer maneira houve um avanço”, opina.

“A consciência importante desses movimentos começa em 1968. É um movimento que está durando 50 anos. 50 anos que não foram o suficiente para a gente entender o que aconteceu naquele ano. Eu costumo dizer que 68 não foi um ano, foi um personagem que continua lutando para não sair de cena”, avaliou Zuenir.

 

 

Fonte: Portal G1

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  • João Nery Campanario

    Registro a presença de um dos líderes da passeata dos 100 mil, Wladimir Palmeira .

    • radio506_wp

      Com certeza o grande líder estudantil teve presença marcante na coordenação e participou do ato. O texto publicado trabalhou o fato da participação dos artistas da época.

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