
“Juro alto é veneno para matar a produção e o comércio”, diz Miguel Torres da Força
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (18), elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, levando o índice de 14,75% para 15% ao ano. Este é o maior patamar desde maio de 2006 e coloca o Brasil praticamente empatado com a Rússia — país em guerra desde 2022 — no topo do ranking global de juros reais, que desconta a inflação projetada.
A decisão repercutiu imediatamente entre economistas, centrais sindicais e representantes do setor produtivo, que apontam impactos negativos sobre o consumo, o emprego e o endividamento das famílias.

Centrais sindicais em passeata na Av Paulista após ato contra Juros Altos no Brasil/Foto: Jaelcio Santana
“Juro alto é veneno que mata a produção e o consumo”, diz Força Sindical
A Força Sindical também se posicionou contra a decisão do Copom. Em nota assinada pelo presidente da central, Miguel Torres, a entidade classifica o aumento dos juros como “irresponsabilidade social” e alerta para o risco de recessão, desemprego e aumento da pobreza.
— Juro alto é veneno que mata a produção e o consumo. Enquanto rende lucros estratosféricos aos bancos, sufoca a indústria, o comércio e as famílias — diz o comunicado.
A central defende uma queda urgente da taxa Selic e cobra uma política econômica comprometida com a distribuição de renda, o desenvolvimento e a geração de trabalho decente.
— O Brasil que queremos é um país justo, soberano, com igualdade social e com direitos para todos.
Confira aqui a íntegra da nota
Famílias e setor produtivo mais endividados
O ciclo atual de elevação da Selic teve início em 2021 e vem sendo mantido de forma contínua desde então. De lá para cá, a taxa de juros ao consumidor subiu de uma média de 36% ao ano para mais de 56% em 2025, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
— Os juros altos desestimulam investimentos e o consumo, impactando diretamente no mercado de trabalho. O Brasil poderia estar gerando muito mais empregos, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central — criticou Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
— Esse aumento significa uma pressão enorme sobre as famílias e empresas. Só este reajuste de 0,25 ponto representa um gasto adicional de R$ 12,2 bilhões anuais para o governo. Nos últimos 12 meses, o país gastou R$ 928,4 bilhões só com juros da dívida pública, o equivalente a 7,71% do PIB — explica Gustavo Cavarzan, economista do Dieese.
O secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, destaca que esse valor supera, por exemplo, cinco vezes o orçamento da Educação e três vezes os recursos destinados à Saúde.
— Essa política de juros drena recursos que poderiam estar sendo investidos no desenvolvimento, no emprego e nos serviços públicos — alerta.
Financeirização e perda de soberania econômica
Para justificar a manutenção dos juros elevados, o Copom citou incertezas fiscais e tensões geopolíticas. Mas especialistas apontam outro fator central: a financeirização da economia brasileira, em que o capital especulativo ganha mais relevância do que a produção.
— O Brasil virou refém da financeirização. Boa parte da renda das famílias e dos empreendedores é drenada pelos juros cobrados aqui. Temos 70 milhões de inadimplentes, muitos deles já pagaram suas dívidas, mas seguem enrolados nas taxas extorsivas do sistema financeiro — denuncia Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC-SP.
Dowbor calcula que o sistema financeiro retira das famílias brasileiras cerca de 10% do PIB, das empresas outros 3%, e do Estado cerca de 8%, além de perdas com evasão fiscal e isenções de impostos sobre lucros e dividendos.
— No total, 25% do PIB são drenados por um sistema que não produz nada. E o pior: grande parte desse dinheiro vai para fundos internacionais como BlackRock, Vanguard, State Street, JPMorgan e Goldman Sachs — alerta.
Banco Central: autonomia ou submissão?
Para sindicalista a decisão do Copom escancara que a tão defendida “autonomia” do Banco Central serve, na prática, para atender aos interesses do mercado financeiro.
“Fica claro que o Banco Central não atua em benefício das famílias, nem do setor produtivo, nem do país. Atua para atender aos interesses de grandes grupos econômicos” — afirma Juvandia Moreira. — “A população precisa entender por que, no Brasil, a gente compra um carro, mas paga dois para os bancos. Isso é consequência dessa política monetária perversa”.
Leia também:
Copom eleva juros básicos da economia para 15% ao ano
Centrais Sindicais fazem ato contra juros altos em frente o Banco Central