PUBLICADO EM 02 de abr de 2019
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Gráfica do Enem, que decretou falência no Brasil, é centenária e bilionária nos EUA

Empresa tem prerrogativa jurídica de declarar autofalência no Brasil sem contaminar negócios da matriz americana. Decisão surpreendeu funcionários

Apesar de ser subsidiária de uma empresa americana de grande porte, que faz parte da lista das 500 maiores da revista Fortune e registrou faturamento de quase US$ 7 bilhões no ano passado, a gráfica RR Donnelley tem a prerrogativa jurídica de declarar a autofalência no Brasil sem “contaminar” os negócios da matriz.

Um profissional de uma consultoria especializada em empresas em dificuldades diz que negócios estrangeiros podem se “blindar” ao trabalhar no Brasil com uma holding independente, sem relação direta com sua proprietária. Não é um caso inédito: a fabricante de eletrodomésticos Mabe, por exemplo, decretou falência em 2016, apesar de ser subsidiária de um grupo mexicano.

Negócio centenário nos EUA, a RR Donnelley foi fundada em Chicago, em 1864. Já na primeira metade do século 20, a empresa era responsável pela impressão de títulos como Time e Life, símbolos da imprensa americana. A companhia expandiu-se para a América Latina a partir dos anos 1990, chegando ao Brasil nessa época.

A RR Donnelley chegou ao País com a compra de uma gráfica nacional de longa tradição, a Hamburg, e posteriormente fez outras aquisições. Mantinha três unidades produtivas no País, atuando tanto no setor público quanto na área de brindes. Também era forte no mercado editorial, sendo uma das principais fornecedoras das editoras brasileiras.

“O mercado editorial perde uma fornecedora confiável em todos os sentidos, em prazo, preço e qualidade”, diz Marcos Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). “A crise no mercado editorial é verdadeira, mas não me parece justificar uma medida tão extrema como a falência.”

Os funcionários também foram pegos de surpresa. Além do escritório em Barueri, a companhia mantinha gráficas em Osasco e Tamboré, em São Paulo, e em Blumenau (SC). A companhia informou que vai liberar os documentos dos empregados – são mais de mil, no total, segundo a página da empresa no LinkedIn – para que eles possam requerer o saldo do FGTS e o seguro-desemprego.

Como se trata de uma falência, os funcionários ficarão sem receber as verbas rescisórias e a multa de 40% sobre o FGTS a que teriam direito. Os fornecedores também ficarão sem receber. A companhia ainda afirmou, em nota, que seu processo de autofalência correrá no foro de Osasco. A RR Donnelley já retirou todas as informações de seu site brasileiro.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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