PUBLICADO EM 02 de jan de 2018
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Geração de empregos formais mantem retomada em 2018, apontam analistas

Novidade será a volta da geração do empregos formais, com carteira de trabalho assinada, segundo economistas; analistas dizem ainda que somente um cenário eleitoral muito conturbado poderá ser capaz de interromper a tendência do emprego; na média, as projeções de 17 economistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Valor Data apontam para uma taxa de desemprego de 11,2% no fim deste ano; no pior momento da crise de emprego do país, a taxa chegou a 13,7% no primeiro trimestre de 2017

Após a reação mais rápida do que a imaginada no ano passado, o mercado de trabalho seguirá em recuperação em 2018, na esteira da retomada da atividade econômica do país. Uma novidade será a volta da geração do empregos formais, com carteira de trabalho assinada, segundo economistas. Somente um cenário eleitoral muito conturbado poderá ser capaz de interromper a tendência do emprego.

Na média, as projeções de 17 economistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Valor Data apontam para uma taxa de desemprego de 11,2% no fim deste ano. Se confirmada, essa taxa permanecerá em patamar considerado elevado, de dois dígitos, mas abaixo do fim do ano passado, estimada em 12%. No pior momento da crise de emprego do país, a taxa chegou a 13,7% no primeiro trimestre de 2017.

O intervalo entre as estimativas mostra, contudo, ainda uma certa dúvida sobre até onde a taxa de desemprego deverá recuar neste ano: há quem projete queda mais acelerada, para 10%, caso da MB Associados; e quem projete recuo mais modesto do indicador, para 11,8%, como é o caso do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco.

No geral, analistas estimam uma geração de 1,97 milhão de empregos em 2018, considerando vagas formais e informais. Isso aumentaria o estoque total de empregos existentes no país de 91,7 milhões no quarto trimestre do ano passado para 93,5 milhões no fim deste ano, considerando uma média simples das projeções colhidas.

Com mais gente empregada, a fila de desempregados tenderá a diminuir. Os analistas preveem algo como 11,8 milhões de pessoas a procura de emprego no fim deste ano, 800 mil a menos do que no fim de 2017. O país chegou a ter 14,1 milhões de pessoas procurando emprego no primeiro trimestre de 2017, num momento sazonalmente de pico do desemprego no país.

Para economistas, a redução da fila de desempregados e da taxa de desemprego não será mais rápida por dois motivos: o número de pessoas em idade para trabalhar vai crescer, assim como o número de pessoas dispostas a procurar emprego. Vale lembrar que o conceito da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seguido pelo IBGE, é que desempregado é quem não trabalha, mas tenta arrumar emprego.

Nas projeções da Icatu Vanguarda, deve ser gerado perto de 1,8 milhão de empregos (entre formais e informais) em 2018. Apesar disso, a fila de emprego deve encolher em apenas 894 mil pessoas, para 12,1 milhões ao fim do ano. A fila vai se esvaziar menos do que o número de postos gerados, porque 944 mil pessoas devem chegar à idade de trabalhar (14 anos ou mais) e parte disso sairá em busca de emprego.

“Todo ano se coloca mais gente no mercado de trabalho. É preciso uma retomada de economia forte para que você absorva os desempregados e também consiga dar conta de quem entra no mercado”, diz Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu. Para Melo, a redução da taxa de desemprego será gradual neste ano e atingirá 10,9%.

O cenário traçado por consultorias e bancos indica que o mercado de trabalho deve produzir empregos com carteira assinada neste ano, diferentemente de 2017. No ano passado, trabalhadores encontraram uma válvula de escape ao desemprego nos trabalhos informais ou no trabalho por conta própria. Esses empregos devem passar por um processo de formalização, segundo a LCA Consultores.

De acordo com a média de oito projeções de bancos e consultorias, devem ser gerados 850 mil empregos formais neste ano, considerando o saldo líquido de vagas medidas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2017, a média das estimativas apontava para fechamento líquido de 134 mil postos. Na Pnad Continua, do IBGE, o emprego formal também seguia em campo negativo no acumulado do ano passado.

“A nova lei trabalhista pode ajudar no processo de formalização. O trabalho intermitente, por exemplo, já existia, mas estava no mercado informal, onde era possível. A lei agora permite formalizá-lo”, diz Melo, da Icatu, para quem a velocidade da queda da taxa de desemprego poderá ser menor em 2018, mas terá origem em empregos de melhor qualidade.

Uma das principais dúvidas na cabeça dos analistas é exatamente até que ponto a nova lei trabalhista conseguirá contribuir com a melhora do mercado de trabalho no curto prazo. Segundo eles, os empresários precisam de mais segurança para contratar pela nova lei. “Embora o objetivo da reforma seja reduzir insegurança jurídica, no primeiro momento surgem dúvidas. Vimos o caso recente da universidade que foi inicialmente obrigada a recontratar professores”, diz Cosmo Donato, economista da LCA, referindo-se ao caso da Estácio.

O principal risco para a recuperação do mercado de trabalho no próximo ano seria a eleição presidencial. Uma eleição conturbada não está no cenário das consultorias e bancos. Mas a eventual ascensão de um candidato sem compromissos com as reformas tem potencial para mudar isso, afirma Fernando Holanda Barbosa Filho, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Ele lembra que incertezas costumam gerar adiamentos de decisões, seja abrir um novo turno na fábrica a até formalizar pessoal que trabalha no comércio, por exemplo. “A eleição não afeta a recuperação em nosso cenário. O risco é vermos um candidato não comprometido com as reformas, disposto a desfazer o que foi feito, com grandes chances de vitória. Nesse caso, veremos o risco-país e o dólar subirem, o desemprego aumentar”, avalia Barbosa Filho.

Pelas projeções do Ibre-FGV, o país vai gerar 1,7 milhão de empregos no próximo ano. O número de pessoas desempregadas deve recuar para 12,1 milhões. Já a taxa de desemprego vai ceder de 12,1% no fim de 2017 para 11,5% no fim de 2018. “A má notícia é que as eleições vão ocorrer com mais de 10 milhões de desempregados. A boa é que a tendência será de redução desse número”, afirma o economista.

Barbosa Filho faz um paralelo com a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Naquele ano, dólar e risco-país dispararam com o temor do mercado sobre as possíveis futuras medidas econômicas do então candidato. Foi necessário que Lula divulgasse uma carta aberta para acalmar o mercado financeiro, manifestando, por exemplo, respeito a contratos e outros compromissos, como com o superávit primário.

Segundo Sarah Bretones, economista da MCM Consultores, o cenário eleitoral ainda é incerto, mas a premissa básica da consultoria é a vitória de um candidato que dê continuidade à agenda econômica do governo de Michel Temer. “No entanto, caso vença um candidato não comprometido com as reformas, os efeitos negativos sobre preços e investimentos devem se materializar no final do ano. Então o mercado de trabalho só sentiria esse impacto em 2019”, diz a economista.

Se o desemprego deve ceder em 2018, mesmo que gradualmente, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores, por outro lado, deve chegar ao fim do ano com elevação de 0,8% na comparação ao quarto trimestre de 2017, de acordo com a média das projeções. Trata-se de um crescimento mais modesto do que o registrado nos quatro últimos meses do ano passado – 2% em base anual.

Sarah diz que o menor ritmo de crescimento da renda pode ser explicado pelo menor reajuste do salário mínimo e o fim da contribuição do ciclo de desinflação, uma vez que os reajustes salariais são baseados na taxa de inflação passada.

Fonte: Valor Econômico

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