PUBLICADO EM 06 de set de 2018
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Como era ser adolescente na Idade Média

Nós temos uma tendência a associar cultura jovem com modernidade, mas as pessoas medievais estavam tão ansiosas sobre jovens como são as manchetes de hoje sobre a subida dos “millennials”.

Retrato de um homem jovem, pintura de Sandro Botticelli, 1483.

Estender a juventude além da adolescência é um luxo da sociedade moderna, onde a expectativa de vida se alonga até os 80 anos. Mas, mesmo no final da Idade Média, quando a expectativa de vida era consideravelmente baixa, a juventude era uma categoria flexível, que podia bem ser expandida até o final dos 20 ou até os 30 ano de idade. Então quais eram as características que definem os “millennials medievais”, e quando eles pararam de serem jovens e começaram a ser adultos?

Era fácil o suficiente identificar o começo da adolescência medieval. Como o escritor John Trevisa colocou, era uma “idade completa para ter filhos”: isso é, entrando na puberdade. Quando acabava, no entanto, era menos claro. Como Avicenna, o grande filósofo persa, escreveu num trabalho que foi traduzido para o Latim, e largamente disseminado ao longo da Idade Média: “Há a idade de crescer, que é chamada a idade da adolescência e comumente dura até a idade de trinta”. Avicenna estava contribuindo para o conhecimento, em “As Idades do Homem”, usado por muitos pensadores medievais para explicar os estágios da vida do homem.

Não se aplica sobre a experiência feminina

Enquanto “homem” poderia ser um termo universal para humanidade, esses esquemas deixavam claro que eles não eram sobre a experiência feminina. O jurista do século XIII Henry de Bracton disse que uma mulher alcançava a maturidade quando ela estava capaz de assumir as responsabilidades de uma dona de casa, mas poucos outros escritores se preocuparam muito com o ciclo de vida feminino. Eles acreditavam que as mulheres experimentavam o apogeu de suas vidas durante a adolescência, porque essa era a idade que elas eram consideradas mais puras espiritualmente e mais fisicamente bonitas. Para uma juventude feminina, a adolescência estava amarrada a sua “situação de solteira” – tanto sua juventude, quanto sua virgindade – e então com o casamento e a perda do seu status de virgem considerava-se que ela havia saído da mais “perfeita idade” da vida de uma mulher. Em resumo, as garotas usualmente se tornavam mulheres por causa de seus relacionamentos com os homens: quando elas deixavam suas famílias natais e se tornavam esposas. Ao passo que a transição dos garotos para a masculinidade era um processo mais longo e variável.

Aos 20 ou 30 anos eles estavam prontos para encabeçarem seus próprios lares

A teoria humoral conectava os corpos adolescentes com o comportamento adolescente. O calor excessivo e umidade dos jovens do sexo masculino os predispunha a temperamentos quentes, luxúria, coragem e sociabilidade. Essas características físicas e mentais eram consideradas para continuar manter a idade da puberdade física. No final dos 20 ou 30 anos de idade os corpos jovens esfriavam e secavam suficientemente para se tornarem razoáveis, temperados e prontos para encabeçarem seus próprios lares como maridos e pais.

Limites legais

Como esse imaginário teórico da adolescência era traduzido na prática? Em termos legais, tal atitude relaxada em direção ao início da vida adulta não era possível; eram necessárias idades fixas para fins legais, tais como a idade de consentimento e a idade de herança. No direito canônico, os garotos eram considerados racionais o suficiente para dar o consentimento conjugal depois da idade de 14, mas maioridade legal para os propósitos de herança era usualmente alcançada na idade de 21.

Limites legais eram estabelecidos para fornecer uma idade mínima, é claro, mas a prática social parece ter sido mais flexível. As leis de Londres punham a maioridade aos 21, mas exceções podiam ser feitas com base no caráter do herdeiro. O tratado do século XIII On the Law and Customs of England (nota: Sobre a lei e costumes da Inglaterra) explica a maioridade em termos de alcançar a competência crítica. Se, por exemplo, “ele é um filho de um burguês, ele é levado para ser de plena idade quando ele sabe como contar corretamente dinheiro, medir tecido, e realizar negócios paternos semelhantes. Assim, não está definido em termos de tempo, mas por juízo e maturidade”.

O casamento era entendido em termos semelhantes. Enquanto um garoto poderia ter capacidade de entender o consentimento na idade de 14 anos, resultando na idade canônica mínima para o casamento, essa não era a idade socialmente desejável para casar. A idade para casar para homens na Inglaterra medieval variava de acordo com os grupos sociais, mas entre a pequena nobreza e elites mercantis nós encontramos um consistente evitar de casamentos de jovens adolescentes, com os homens casando no meio dos vinte anos e mulheres um pouco mais cedo. Onde os homens casavam no começo da adolescência, era usualmente porque eles estavam sob tutela, e seus guardiões tinham vendido seus casamentos (uma prática medieval comum), ou os casavam com seus próprios filhos. O cavalheiro Thomas Stonor comprou a guarda de John Cottesmore em 1470, e mais tarde naquele ano parece tê-lo casado com sua filha Joan. Mesmo nessas circunstâncias, há evidências abundantes disso, mesmo se jovens adolescentes foram casados, eles frequentemente não viviam como marido e mulher até mais tarde. Em 1453, Sir Thomas Clifford casou sua jovem filha Elizabeth com o filho de 18 anos de idade, Willian, de Sir Willian Plumpton: “O dito Sir Willian prometeu o dito Lord Clifford que eles não deveriam se deitar juntos até [Elizabeth] chegar na idade de dezesseis anos.”

Contratos para dotes frequentemente estipulavam que o dote deveria ser retornado se a noiva ou noivo morressem antes da idade de 16, sugerindo que antes disso o casamento não viria a ser consumado.

Maturidade sexual versus capacidade para paternidade

Os medievais eram bem conscientes que a maturidade sexual dos adolescentes não necessariamente se traduzia em capacidade física para paternidade. De fato, eles acreditavam que os filhos de jovens adolescentes poderiam provavelmente ser bebês fracos ou doentes.

Adolescentes ainda estavam crescendo: não apenas fisicamente, mas também intelectualmente e emocionalmente. Casamento e paternidade não eram apropriados para aqueles que estavam num estágio da vida caracterizado pelo crescimento, exploração e aprender.

Para jovens do sexo masculino, o conceito medieval de adolescência parece ter ficado mais perto de aprendizagem do que de puberdade; essa idade também era para crescer nas responsabilidades, adquirir habilidades e maturidade requeridas para ser um homem.

Fonte: Rachel Moss (História Medieval Final na Universidade de Oxford) para time.com

Tradução Luciana Cristina Ruy

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