PUBLICADO EM 05 de ago de 2020
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Volta às aulas: Ex-secretários da educação, médicos, professores e famílias são contra

Ato em defesa da vida contra a volta às aulas pede que o segundo semestre seja usado para estruturar as escolas e garantir um retorno seguro

Falta de estrutura nas escolas públicas coloca em xeque medidas de distanciamento social e deixa todos em risco – Foto: Arquivo ABR

Contra uma volta às aulas insegura e precipitada na cidade de São Paulo, ex-secretários da educação, médicos, professores e famílias se uniram ontem (4) em ato virtual em defesa da vida dos estudantes, familiares e dos profissionais da educação. Preocupados com a forma como as aulas serão retomadas e o risco de uma explosão de casos de covid-19, os participantes destacaram que é mais urgente garantir uma boa estrutura, preparar as escolas e orientar os profissionais da educação durante o próximo semestre. E que será preciso garantir muito mais recursos para que essas ações sejam efetivadas.

“Não dá para voltar. As famílias estão com medo. Falamos que as crianças não aprendem com fome. Será que elas vão aprender com medo? Será que os professores vão conseguir ensinar com medo? Falam que vão adequar as escolas. Quem não conseguiu podar as árvores, limpar caixa de água, limpar calhas, no início deste ano, vai garantir uma volta segura?”, questionou a ex-secretária da Educação Maria Aparecida Perez (2003-2004). O plano de volta às aulas do governo de João Doria (PSDB), para todo o estado, propõe a retomada em 8 de setembro.

O também ex-secretário da Educação Cesar Callegari (2013-2015) se manifestou contra a volta às aulas e ressaltou que a educação vai precisar de muito mais dinheiro para garantir uma volta segura. “Se eu estivesse como secretário nós jamais faríamos a retomada das aulas esse ano. A retomada das atividades escolares vai custar mais dinheiro do que o comum. A cidade de São Paulo perdeu impostos e taxas na casa de 20%. Se a educação não for protegida, deve perder cerca de R$ 2 bilhões. Temos que trabalhar com a ideia de irredutibilidade dos recursos da educação. O orçamento para o próximo ano precisa considerar isso”, disse.

O ato foi organizado pelo vereador Antonio Donato (PT), que defendeu o adiamento da volta às aulas até 2021. Defendemos que esse semestre seja de preparação das escolas. De reorganização sanitária. Precisa de tempo, precisa de investimento. E também de preparo dos professores e outros profissionais da educação. Todo o tempo do aprendizado é um tempo recuperável, mas a vida não. Precisamos dar uma chance à vida e se abrirmos as escolas vamos dar uma chance para o vírus fazer mais vítimas”, disse.

Kézia Alves, do Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola (Crece), destacou que as famílias de estudantes também são majoritariamente contra a volta às aulas. E que a discussão devia ser sobre a situação das famílias. “Devia estar discutindo a garantia de alimentação, a garantia de acesso ao ensino remoto, como cuidar das crianças que estão psicologicamente abaladas. Estamos exaustos de falar que não queremos essa volta às aulas. E o governo não escuta. Falamos em lives, falamos em audiências públicas, mas não adianta”, afirmou.

Reafirmando a preocupação com a saúde de toda a sociedade com uma eventual volta às aulas, o médico sanitarista Gonçalo Vecina e o pediatra Antônio Carlos Madeira, diretor do Hospital Menino Jesus, também se posicionaram contra a medida. “O momento não é de se pensar em abrir escolas. Tem que deixar as escolas fechadas e trabalhar muito firmemente para organizar as escolas com segurança para crianças e seus familiares. Precisa se pensar de modo sério e muito consequente em como poderemos fazer a reabertura das escolas”, disse Madeira.

“Praticamente não temos registro de mortes de criança. A pandemia mata duas pessoas a cada mil até 40 anos. Mas a partir dos 80 anos, mata 10 a cada cem. As crianças saem de casa e vão para escola, trocam material biológico entre elas e voltam para casa. E as pessoas ficam doentes em casa. O isolamento social deu certo porque elas estão em casa. Quando elas voltarem às aulas serão naturalmente disseminadoras de vírus, bactérias, que é o natural da vida. Se voltarmos as aulas vamos ter explosão de casos de covid-19 e de outras doenças típicas do inverno. Eu não abriria as escolas, eu não correria o risco de abrir as escolas. Não pelas crianças, mas pelos familiares das crianças”, afirmou Vecina.

Compra de vagas
Os representantes dos trabalhadores da educação também se manifestaram contra a volta às aulas e reclamaram da falta de transparência e de receptividade do governo do prefeito Bruno Covas (PSDB). Margarida Prado Genofre, vice-presidente da Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo (Aprofem) ressaltou que as escolas não têm condições de garantir a segurança de estudantes, professores e famílias. “Eu conheço as escolas. Sabemos que não há condições de retomar as atividades presenciais nas escolas neste momento. Isso se quiser se preservar vidas. Se não quiser, é só abrir as escolas”, afirmou.

O ato também marcou posição contra o Projeto de Lei (PL) 452/2020, de autoria do governo Covas, que estabelece condições para a volta às aulas. O projeto já foi aprovado em primeira votação e deve ser votado novamente nesta quarta-feira (5). O principal problema apontado é a possibilidade de a prefeitura comprar vagas na rede particular de educação infantil. A oposição e os trabalhadores apontam que o objetivo é apenas salvar a rede privada e que isso vai tirar dinheiro fundamental da rede pública. O PL também prevê reposição de aulas, aprovação automática dos alunos, aumento da contratação de profissionais temporários, auxílio para compra de uniformes e material escolar.

Fonte: Rede Brasil Atual

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