PUBLICADO EM 01 de jul de 2018
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“Fez que foi, não foi, acabou fondo” e outras pérolas da narração futebolística

Os comentários dos narradores que comentam os jogos nesta Copa do Mundo são um espetáculo à parte. Eles, muitas vezes, na pressa da narração, cometem atentados contra a gramática e, principalmente, contra a lógica, resultando em pérolas a serem registradas.

Por José Carlos Ruy

Como esta dita por um comentarista da TV Globo, na narração do jogo da manhã de hoje (dia 1º), da Espanha e Rússia. O narrador falava da nova regra que permite uma quarta substituição quando houve (como houve) prorrogação depois do tempo regulamentar de 90 minutos. Ele disse, candidamente: “Se o jogo terminar nos 90 minutos não há quarta alteração.” Claro! A regra diz que só pode haver na prorrogação, se os 90 minutos acabarem em empate! Este atropelo da lógica talvez deva ser atribuído à pressa da narração, quando a fala sai quase no mesmo momento do pensamento.

Outra pérola dizia: “a bola está muito perto do pé, ele não conseguiu dar força”. Não conseguiu dar força e ponto. Para ser chutada ela poderia estar onde, longe do pé?

Outra, que mal disfarçou a torcida, a preferência do narrador, falando do México, adversário do Brasil nesta segunda-feira (2): “México jogou como nunca e perdeu como sempre” – além de tudo um deselegante comentário contra uma seleção importante, e co-irmã latino-americana, país que neste domingo pode eleger um presidente anti-neoliberal – o progressista Andrés Manuel López Obrador, candidato da esquerda favorito na eleição.

O folclore do futebol está cheio de comentários desse tipo. Nos tempos em que o rádio predominava, alguns comentários (bons e ruins) ficaram antológicos. Como este, que já tem mais de 50 anos, numa rádio do interior do Paraná, contado entre risadas pelo amigo jornalista Roldão Arruda: no afã de descrever os movimentos de um atacante, o narrador saiu-se com esta: “fez que foi, não foi, acabou fondo”!

A descrição dos jogos na tevê não impõe nem a urgência nem a celeridade de pensamento próprias do rádio. Mas com certeza a pressa, a torcida do narrador e mesmo suas preferências e preconceitos levam a algumas pérolas que fazem da narração um espetáculo próprio.

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