PUBLICADO EM 31 de mar de 2018
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Dossiê Jango levanta as polêmicas envolvendo a morte do ex-presidente João Goulart; filme

 

Carolina Maria Ruy

Dossiê Jango levanta as polêmicas envolvendo a morte do ex-presidente João Goulart e questiona a postura dos governos brasileiros – de 1985 a 2013 –, que não se preocuparam em reaver esta história e honrar o presidente morto ainda no exílio (impedido de voltar ao Brasil).

O filme passa rapidamente pela trajetória política do ex-presidente, mas não se debruça sobre ela como fez Jango, de Silvio Tendler (1984). O foco de Dossiê Jango é o obscurantismo que cerca a morte de João Goulart, em 1976, na Argentina.

A sequência de mortes e perseguições políticas no Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, no contexto da chamada Operação Condor, instituída pelas ditaduras do chamado Cone Sul (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai), com apoio do governo dos Estados Unidos da América, confere a perspectiva internacional da história.

Nesta linha o roteiro vai além do senso comum em termos de ditadura militar. Logo no início a frase provocadora intriga o expectador: “Tudo que pensamos ser verdade um dia muda”. Ele mostra com argumentos lógicos e documentados a articulação entre as ditaduras latino-americanas, fortemente apoiadas e patrocinadas pelo governo estadunidense que, no contexto da guerra fria, visava cooptar territórios políticos mantendo-os nos arreios de sua ideologia capitalista.

Gravações em áudio do embaixador Lincoln Gordon e do ex-presidente americano John Kennedy, exibidas no filme, comprovam a preocupação americana com o momento político do País. Em outra passagem o também ex-presidente Lyndon Johnson revela que seria possível agir no Brasil para instituir a ditadura e assegurar o afastamento de Jango.

Mas o mais interessante é que Dossiê Jango defende que esta não é uma situação que ficou no passado, superada pelo fim da ordem mundial bipolar e pela redemocratização brasileira. Com a afirmação “àqueles que pensam que derrotaram Jango, nós estamos debatendo Jango até hoje”, João Vicente Goulart, o filho do ex-presidente, ilustra como esta é uma ferida aberta na nossa história.

Jango era temido pela elite e pelo regime militar devido suas ideias progressistas e, sobretudo, devido sua grande aceitação popular. Por isto sua trajetória na política sempre foi marcada por boicotes e tentativas de golpes. Mas mesmo morto Jango incomodava. E, pelo visto, ainda incomoda.

Neste momento em que o governo brasileiro demonstra uma disposição em “acertar contas com o passado” por meio da criação da Comissão Nacional da Verdade, o filme Dossiê Jango surge como um rico instrumento de debate. Um instrumento que, mais do que esclarecer questões, suscita dúvidas pertinentes e profundas sobre a história do Brasil.

Dossiê Jango

Brasil, 2013

Direção: Paulo Henrique Fontenelle

 

 

 

 

 

 

Carolina Maria Ruy, jornalista, coordenadora do Centro de Memória Sindical

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