PUBLICADO EM 14 de nov de 2018
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Consciência negra: o preconceito em São Paulo é revelado em números

Pesquisa diz que sete em cada dez paulistanos acreditam que preconceito se manteve ou aumentou na última década. ‘Não existiria racismo se as cidades não fossem construídas para produzir desigualdade’. Apenas 3% dos pretos e pardos fazem parte da classe A, enquanto o número de brancos é de 15%

Foto: REDE NOSSA SÃO PAULO

De cada dez paulistanos, sete acreditam que o preconceito se manteve ou aumentou nos últimos dez anos. O dado faz parte do levantamento “Viver em São Paulo: Relações raciais na cidade”, lançado nesta terça-feira (13) pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope Inteligência e o Sesc. A pesquisa alerta para os problemas e injustiças raciais neste mês da Consciência Negra, 130 anos após o fim oficial da escravidão.

A pesquisa contou com 800 pessoas entrevistadas, entre elas, 52% de declararam brancas e 44% como negras. Para os negros, houve piora no tratamento em todos os aspectos levantados, mas a percepção é diferente entre os mais ricos. Grande parte dos cidadãos com renda acima de cinco salários-mínimos – que em sua maioria são brancos – afirma que não existe diferença de tratamento. “Um dos privilégios dos brancos é perceber o racismo, se indignar e não fazer nada ou simplesmente ignorar”, afirma o professor Silvio de Almeida, que ministrou uma palestra mediada pelo coordenador da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, para comentar o estudo.

Silvio é advogado e doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo. Ele comentou a respeito da construção do racismo estrutural dentro das cidades. De acordo com a pesquisa, um dos ambientes mais discriminatórios em São Paulo é o dos shoppings centers. Para 75% dos negros, existe diferença no tratamento nesses locais, enquanto a percepção cai para 59% entre os brancos, ainda mantendo um número alto. “Não é à toa que algumas pessoas negras se sentem mal no shopping. Isso porque não é um espaço para negros. Não tem placas, mas tem relações estruturais de poder. Toda vez que estou no shopping, quando estou parado, as pessoas me pedem informação. O tempo todo, não importa a qualidade do seu terno”, conta.

“O racismo é estrutural. Não existiria racismo se as cidades não fossem construídas para produzir desigualdade”, resume. Para a ativista do Movimento Negro Unificado (MNU) e da Marcha Mundial de Mulheres Luciana Araújo, o cenário é ainda mais perturbador quando o tema diz respeito à população feminina. “Para nós, mulheres negras, a sensação de racismo é duplicada, senão triplicada, por sermos negras e mulheres.”

Luciana, que ajudou na elaboração da pesquisa, disse que “as nossas meninas negras são as maiores vítimas da violência sexual. Isto dentro de uma violência sistêmica e sem atendimento. O que temos são hospitais e centros de atendimento e apoio fechando”, relata. “O que acontece nas nossas periferias não vira notícia. E quando vira, em geral, é pelo outro lado. O fato da PM de São Paulo ser uma das polícias que mais mata no mundo é parte da política que é oferecida às nossas juventudes.”

O cruzamento da percepção do preconceito com o grau de escolaridade leva Silvio a analisar que o “acesso ao ensino superior não faz a pessoa menos racista. A pessoa pode ficar ainda mais convicta de sua ignorância e de suas convicções. O racismo é estrutural no sentido de que ele é resultado de toda uma trama sociopolítica”.

Foto: Rede Brasil Atual

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