PUBLICADO EM 23 de out de 2020
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Acordo mediado pelos Metalúrgicos de São Bernardo é um aprendizado e uma vitória histórica

Esta é mais uma ação que, nestes tempos sombrios de violação dos direitos sociais, humanos e trabalhistas, confirma a importância da ação sindical. Isso porque o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo foi o verdadeiro fiador do acordo, com sua capacidade de diálogo e de negociação entre as partes.

Adonis Guerra/SMABC

Por Miguel Torres e Ricardo Patah

 O acordo firmado entre a Volkswagen e o Ministério Público Federal em São Paulo, no qual a empresa irá doar R$ 36 milhões para projetos referentes à defesa de direitos humanos e à história em troca do encerramento de três inquéritos civis que a acusa de participação e conivência com a repressão da ditadura militar, é uma vitória dos trabalhadores.

É certo que algumas reivindicações pleiteadas ao longo destes quase cinco anos de tramitação do acordo não foram contempladas. Mas sua conclusão é um inegável passo positivo que abrirá precedentes para que outras empresas assumam relações com o regime nocivas aos trabalhadores e para que se possa vislumbrar um novo tempo de revisionismo e ajustes históricos.

Esta é mais uma ação que, nestes tempos sombrios de violação dos direitos sociais, humanos e trabalhistas, confirma a importância da ação sindical. Isso porque o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo foi o verdadeiro fiador do acordo, com sua capacidade de diálogo e de negociação entre as partes. Tanto que a assinatura se deu na sede do Sindicato, com aprovação em assembleia, corroborando a presença e o apoio da entidade em todo o processo.

Os inquéritos acerca das relações entre a Volks e a ditadura baseiam-se em pesquisas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade. Segundo as informações levantadas, pelo menos seis trabalhadores foram presos e um foi torturado na montadora de São Bernardo entre 1969 e 1979.

Foi o caso do nosso companheiro Lúcio Bellentani, falecido em 2019. Bellentani, um dos sindicalistas mais engajados na luta por justiça e reparação, foi uma das vítimas desta parceria velada entre empresa e governo ditador.

Hoje, passados mais de trinta e cinco anos do fim do regime militar, a Volks é a primeira empresa estrangeira a aceitar um acordo com base no reconhecimento deste tipo de situação. Que seja a primeira de muitas! Segundo o jornal El País, a CNV apontou 53 empresas com tais práticas.

No atual momento político, de retirada de direitos, o acordo se torna ainda mais relevante. Ele é a prova do quanto os trabalhadores sofreram nas mãos do Estado ditador, sob as dependências de empresas privadas nos vinte anos após o golpe de 1964. O acordo celebrado entre a Volkswagen e o Ministério Público Federal em São Paulo é, neste sentido, um grande aprendizado para a sociedade e serve de alerta sobre o risco de regimes autoritários e repressivos.

Mais do que isso, mostra que ainda vale a pena lutar não apenas pelos direitos sociais e trabalhistas, mas também para que a verdade histórica seja revelada e reparada.

Miguel Torres é presidente da Força Sindical e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

Ricardo Patah é presidente da UGT e presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo

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  • Edisom Alves Teixeira

    A luta continua pelos direitos dos trabalhadores.

  • Franciso

    Este reconhecimento do capital em um acordo coletivo desta magnitude.. reconhece à grandeza dos sindicalistas que morreram lutando e fizeram história… somos concientes que sindicalistas São seres predestinados … ( sempre preparados para recebermos os louros e coroas de espinhos ) neste caso … o diálogo prova a capacidade de se fazer justiça…. parabéns aos companheiros.. Miguel tores e Ricardo Patah ….. jose Francisco filho presidente do sindicato dos trabalhadores na indústria Otica te de São Paulo e secretário de finança da CNTI

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