PUBLICADO EM 30 de ago de 2023
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Plebiscito popular contra privatização em São Paulo

Trabalhadores e centrais sindicais organizam plebiscito popular contra privatização de estatais em São Paulo

Trabalhadores organizam plebiscito popular contra privatização de estatais em SP

Trabalhadores organizam plebiscito popular contra privatização em São Paulo – Foto: Marcelo Cruz / Brasil de Fato

O governo do estado de São Paulo tem anunciado a intenção de privatizar no próximo período dois dos principais serviços essenciais que atualmente possuem a maioria das suas ações sob gestão pública.

É o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da administração das linhas públicas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Entendendo que os processos de privatização podem ser definidos como a venda de bens públicos à iniciativa privada, essa transferência de responsabilidade, gestão e fiscalização – tanto em relação aos serviços prestados quanto ao montante de verba gerado – gera preocupação em parte da população.

Este é o motivo da mobilização que está sendo realizada por diversas categorias de trabalhadores e centrais sindicais que são contrários ao projeto de privatização do governo do estado de São Paulo.

É o que explica a presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, que estava panfletando na estação do Brás contra a privatização das empresas públicas.

Camila ressalta que os trabalhadores estão fazendo uma campanha conjunta contra a privatização do Metrô, da CPTM e da Sabesp.

“Parte dessa campanha é a gente vir aqui nas estações de trem e Metrô conversar com os usuários desses serviços públicos e falar sobre o impacto da privatização na vida deles”, detalha.

Camila conta que, no dia 5 de setembro, será realizado na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo, o ato de lançamento de um plebiscito popular que pretende ouvir a população acerca das privatizações.

“O próximo passo dessa mobilização, dessa luta, dessa campanha é o ato de lançamento do plebiscito popular. Nós queremos fazer um plebiscito com toda a população do estado de São Paulo perguntando se as pessoas concordam com a privatização do Metrô, da CPTM e da Sabesp. E em todas essas empresas o processo de privatização já vem se desenvolvendo há algum tempo através da terceirização de algumas funções, parando de dar subsídio e de investir recurso público nessas empresas. Então a privatização é um processo que vem se desenvolvendo há muitos anos, mas o governo Tarcísio está disposto a acelerar mais esse processo, inclusive com algumas datas marcadas”, ressalta Camila.

Rene Vicente, trabalhador da Sabesp que também estava no ato de panfletagem, defende que as categorias devem estar unidas e em diálogo com a população, sobretudo explicitando o que está por trás da maioria dos processos de privatização.

“Nós achamos que é importante a unidade dessas categorias no diálogo com a população, na disputa da narrativa com o governo do estado, que quer entregar esses patrimônios públicos à iniciativa privada, na lógica do lucro. No nosso caso específico, que é a luta dos trabalhadores da Sabesp, a maior companhia de saneamento básico do Brasil e uma das maiores da América Latina, ele [governador Tarcísio de Freitas] quer entregar uma empresa que só no ano de 2022 teve um lucro de R$3,1 bilhões. E ele quer entregar essa empresa para a iniciativa privada”.

Resposta do governo sobre a privatização em São Paulo

Questionada sobre os motivos pelos quais o governo defende a privatização da Sabesp, do Metrô e da CPTM, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo do estado de SP se restringiu a dar somente algumas informações em relação à privatização da Sabesp.

De acordo com e-mail respondido pela Secretaria:

“o Governo de SP estabeleceu a meta estratégica de antecipar, de 2033 para 2029, a universalização dos serviços de saneamento básico nos 375 municípios atendidos pela Sabesp. Isso implica levar água e esgoto tratado para mais 10 milhões de pessoas. Para alcançar esse objetivo, a Sabesp precisará investir R$ 66 bilhões ao longo desse período. Na opção definida para a desestatização da Sabesp, os investimentos serão garantidos no contrato de concessão que será assinado com os municípios, com base no novo marco do saneamento. Além disso, o Governo de SP permanecerá na empresa, para acompanhar o seu crescimento e garantir o cumprimento das metas”.

Falsos argumentos a favor da privatização

Para a economista e professora universitária Karina Fernandes, os argumentos utilizados pelo governo para privatizar as empresas estatais, não fazem parte da melhor alternativa de política econômica, tendo em vista a valorização da soberania e dos direitos sociais.

“O argumento que paira é que o Estado não daria conta de universalizar esses serviços. Só que, do meu ponto de vista, a gente precisa pensar que a austeridade sobre as próprias receitas do Estado – como a política tributária e a não taxação dos mais ricos, por exemplo – contribui para que o Estado não arrecade também um montante que possa servir pra a gente reestatizar, por exemplo, empresas que foram privatizadas. Então esse contraponto é muito importante pra que a gente crie saídas pras empresas públicas serem mais abrangentes e mais eficientes”, considera.

Karina defende, ainda, que a privatização em São Paulo de empresas públicas tira da população o direito ao acesso a serviços essenciais como água, saneamento básico e transporte público, mas também tira o poder de fiscalização e cobrança de um bom serviço prestado.

“Tirar o direito ao acesso básico à água, ao transporte, à saúde, à educação, é de fato tirar a decisão da própria população de como isso vai ser efetuado, como isso vai impactar na nossa vida. E também tirar a capacidade de pressão. Eu acho que aí tá uma perspectiva muito importante que a gente tem que pensar. Quando, por ventura, o serviço pode ser ineficiente, a gente consegue se organizar enquanto população pra cobrar uma empresa pública. E eu consigo, por ora, inclusive sentar na mesa do jogo pra colocar que no meu município não tá tendo acesso. Quando você tem a privatização você também tem que pensar na privatização das decisões políticas daquela empresa específica. Na privatização da decisão, por exemplo, pra que município vai a água?”, questiona.

Rene defende que os argumentos apresentados pelo governo, que justificam a venda das empresas públicas, vão no caminho contrário do que a realidade de outros processos de privatização mostraram, sobretudo no Brasil.

“O governo do estado tem colocado perante a opinião pública que se privatizar vai modernizar empresa, vai aumentar a concorrência, que a concorrência vai fazer baratear os custos e os serviços prestados à população. Isso na nossa opinião é uma grande falácia. Porque os exemplos que nós temos vai justamente no caminho contrário, que é da concentração de renda e do monopólio”, argumenta.

Perguntada sobre quem ganha com a privatização em São Paulo , a presidente do Sindicato dos Metroviários lembrou que todos os serviços que foram privatizados no Brasil tiveram as suas tarifas aumentadas ao passo em que a qualidade do serviço não sofre melhora.

“E uma das formas também de o acionista ganhar muito dinheiro é aumentar a tarifa do serviço. Todos os serviços que foram privatizados no Brasil tiveram as suas tarifas aumentadas. Então é essa a tendência de acontecer. Tanto na Sabesp, quanto no Metrô e no trem. Quem paga é a população, é o usuário que precisa desse serviço. Só que contraditoriamente, as linhas privadas são as que tem apresentado maiores problemas. Porque são justamente as linhas que trabalham com a lógica da redução de custo pra ter mais lucro para os seus acionistas. Então hoje em São Paulo tem um caos na Linha 8 e 9. Todo mundo tá vivendo essa experiência”, lamenta.

Enquanto conversa conosco, René faz contas e compara. “Os exemplos são claros: você pega hoje a Sabesp aqui no estado de São Paulo, ela fornece 10 mil litros de água tratada a uma família em situação de vulnerabilidade, a um preço de R$ 20,R$ 30. No Rio de Janeiro, essa mesma tarifa custa R$ 45,20”, pontua.

Na avaliação da economista, o processo de privatização em São Paulo pensado para a Sabesp será semelhante ao da Eletrobrás, que foi vendida em junho de 2022, sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A gente precisa entender que esse processo de privatização vai ser muito parecido com o processo de privatização da Eletrobrás, pelo menos é isso que tá colocado por ora. O modelo, pelo o que eu tô compreendendo e pelo o que o governo está colocando, é o modelo do follow on, que é uma oferta adicional de ações e diluição da participação acionária do estado. E o que isso significa – pra tirar o economês da prosa e a gente conseguir compreender o quanto isso é ruim pra população brasileira e especialmente pro estado de São Paulo – é que o estado perde o status de empresa majoritária dentro de uma empresa que já é mista. O Estado perde a capacidade de decidir publicamente, ou seja, enquanto interesse coletivo, as decisões sobre água e saneamento. A Sabesp é a terceira maior empresa de saneamento do mundo. Ela é patrimônio público. E falar de água e saneamento é falar de saúde da população. Então a gente tem que compreender essa complexidade pra compreender o quanto isso pode e vai modificar na vida da população brasileira e do estado de São Paulo”, ressalta.

Para Camila Lisboa, os impactos causados pelo processo de privatização como está sendo apresentado pelo governo de Tarcísio de Freitas, geram uma receita que visa a piora do serviço prestado.

“Então o impacto sobre a população é um serviço pior, porque você não tem manutenção direito, você tem trabalhadores numa atividade sensível trabalhando mais tempo, você tem mais baixos salários e você tem acionista querendo ganhar muito dinheiro. Então essa é a receita ótima pro serviço piorar”, destaca.

com informações do Brasil de Fato

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