PUBLICADO EM 14 de jan de 2022
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Morre aos 95 anos o poeta Thiago de Mello

Natural de Barreirinha (AM), onde nasceu em 1926, o poeta se mudou para Manaus ainda na infância. Chegou a cursar a Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, mas largou o curso para se dedicar à carreira literária.

Por André Cintra

O poeta e jornalista amazonense Thiago de Mello, autor de poemas célebres como Os Estatutos do Homem e Madrugada Camponesa, morreu na madrugada desta sexta-feira (14), aos 95 anos, em sua casa na cidade de Manaus (AM). A causa da morte ainda é desconhecida.

“Partiu o poeta Thiago de Mello”, tuitou, em primeira mão, o escritor Sérgio Freire, às 8h47. O velório será realizado no Palácio Rio Negro, no Centro Histórico de Manaus – o governo do Amazonas decretou luto oficial de três dias.

Natural de Barreirinha (AM), onde nasceu em 1926, o poeta se mudou para Manaus ainda na infância. Chegou a cursar a Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, mas largou o curso para se dedicar à carreira literária.

A estreia na poesia ocorreu em 1947, com o pequeno volume Coração da Terra. Mas o livro que lhe deu projeção foi Silêncio e Palavra, lançado em 1951 e saudado por nomes como Manuel Bandeira e José Lins do Rego. Thiago foi adido cultural na Bolívia, no Peru e no Chile. Com o Golpe de 64, que implantou o regime militar (1964-1985), chegou a ser preso e partiu para um exílio de dez anos, passando por cinco países – Argentina, Chile, Portugal, França e Alemanha.

Na resistência à ditadura, publicou Os Estatutos do Homem, em protesto contra o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Escrito já no exílio chileno, o poema, de abril de 1964, é dividido em 14 artigos, tal qual um manifesto. “Fica decretado que agora vale a verdade. / que agora vale a vida, / e que de mãos dadas, / trabalharemos todos pela vida verdadeira”, diz, por exemplo, o Artigo I.

Foi também sob as sombras dos “anos de chumbo” que escreveu o poema Madrugada Camponesa – “Faz escuro mas eu canto / porque a manhã vai chegar”. Compostos em 1965, os versos foram usados como lema do 14º Congresso do PCdoB, em 2017, bem como da 34º Bienal de São Paulo, no ano passado.

“Desde sempre, esse verso se desdobrou em muitos perfis e muitas linguagens, além de possibilidades de revelar para o mundo uma vontade de transformação, superação e utopia. Mas é também um verso carregado de esperança e alegria”, analisou, em 2021, o filho do poeta, que também se chama Thiago de Mello. “Ele traz um valor de indignação sobre injustiças, não uma indignação que nos paralisa, mas uma que nos movimenta, nos lembrando sempre que estamos em movimento e que devemos cantar. É como se a arte, a música, a poesia, sempre tivesse essa força transformadora.”

Partindo da inspiração na natureza – e, em especial, na Floresta Amazônica –, a poesia de Thiago tratava de temas como a condição humana e as causas sociais. Quando completou 70 anos, o poeta disse que estava há meio século compondo versos “a serviço do amor, da natureza e da liberdade”. Foi traduzido para mais de 30 idiomas.

Na mesma entrevista, declarou: “Eu não acredito em neoliberalismo. Acredito no amor, no respeito à vida do povo. Sou, inclusive, contra essa noção, que está se expandindo cada vez mais, de globalização. Tudo bem, o mundo ficou pequeno pelas comunicações, mas cada país tem que escolher o seu caminho e a sua soberania. E ter a sua vida própria. Devem existir, evidentemente, intercâmbios, convênios, interações com outros países, mas eu não acredito em neoliberalismo. Isso é um engodo”.

Thiago recebeu diversas homenagens em 2021, na celebração de seu 95º aniversário, e era considerado o maior poeta brasileiro vivo. Foi também tradutor, ensaísta e artista gráfico.

Fonte: Vermelho 

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