PUBLICADO EM 06 de jun de 2022
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Construindo o Sindicato da Amazon nos EUA: uma entrevista com o cofundador Jordan Flowers

Jordan Flowers, um dos cofundadores do Congresso dos Trabalhadores Essenciais, o grupo que acabou se tornando o Sindicato dos Trabalhadores da Amazônia. Foto: People´s World.

Por Jacob Buckner (People´s World)

A histórica vitória sindical conquistada pelo Sindicato da Amazon (ALU, na sigla em inglês) no Centro de Atendimento JFK8 da gigante do varejo, em Staten Island, chacoalhou todo o movimento sindical. Nessa entrevista, o repórter da People’s World, Jacob Buckner, conversa com Jordan Flowers, um dos fundadores do Congresso dos Trabalhadores Essenciais (TCOEW, na sigla em inglês), a organização que precedeu o ALU.

Jacob Buckner: É o aniversário de dois anos do Congresso dos Trabalhadores Essenciais. Como ele começou e como se desenvolveu?

Jordan Flowers: Bem, O Congresso dos Trabalhadores Essenciais é Chris Smalls, Derrick Palmer, Gerald Bryson e eu. Você sabe, um congresso é um monte de pessoas juntas, e com a Amazon, nós devemos ser vistos como “trabalhadores essenciais”, então é daí que veio o nome – O Congresso dos Trabalhadores Essenciais. Nós na verdade somos todos melhores amigos, e nós queríamos ser o megafone para os trabalhadores, e deixá-los saberem que se eles estão com medo de falar, nós vamos falar por eles.

Eu lembro de ouvir que isso também veio das condições atrozes na Amazon durante a pandemia. Foi em 2020 que o esforço de organização começou?

Sim, nessa época eu estava na verdade em casa lidando com a minha doença. Eu tenho doença de Lúpus. Chris, Derrick e Gerald eram na verdade os principais no serviço. Eu estava fazendo organização externa, preparando a mídia. Eles estavam fazendo declarações de que as instalações do JFK8 não estavam seguras. Nós estamos falando sobre cerca de 20, talvez 25 pessoas por dia testando positivo para COVID. E aquele número começou a subir, onde de 20 a 25 se tornou 40 a 45.

No fim da semana, você já tinha mais de 100 pessoas testando positivo ali. Há 8.000 trabalhadores naquelas instalações. Então eles foram e puseram Chris Smalls de licença. Disseram que ele havia testado positivo, o que nunca aconteceu. Então ele foi demitido… eles o demitiram usando o protocolo de COVID, dizendo que ele estava positivo e quebrou as regras. Isso mostra bem que a Amazon não estava cuidando dos trabalhadores. O cara que você aparentemente disse que tinha COVID – você o despede porque ele estava conscientizando! Você sabe, isso soa louco.

Então eles tiveram a campanha de difamação, alegando que Chris Smalls é “inarticulado.”

Então a empresa trouxe o racismo para a mistura?

Chris é nosso líder, e Derrick, Gerald e eu somos homens negros e nos ofendemos com isso. Falando pela comunidade negra, nós todos nos ofendemos. Foi quando continuamos a marcha. Foi quando o TCOEW aconteceu, onde quatro homens negros saíram e começaram uma coisa revolucionária. Nós sabíamos que a empresa não ia cuidar de nós. Nós íamos continuar falando até que fizéssemos uma mudança.

Em algum ponto, o TCOEW transita para o Sindicato da Amazon. Houve coisas que você carregou da organização original? Como isso acabou acontecendo?

Honestamente, são os quatro membros principais, então nós pegamos Brett, Jason e Connor Spence. Apenas ficou conosco sete, então nós começamos a construir o ALU. Eu lembro que nós trabalhamos no JFK8, então nós já conhecemos alguns dos trabalhadores. Então eu chamo isso de efeito dominó. Uma vez que nós contamos aos nossos amigos, seus amigos começaram a contar para seus amigos. Eles começaram a contar aos colegas de trabalho, e novamente. Assim nós começamos a ramificar.

Então nós começamos a construir plataformas de mídias sociais para falar. Os trabalhadores começaram a atestar o ALU, mesmo quando nós não éramos um sindicato oficial ainda, dizendo que se eles fossem despedidos pela Amazon, nós seríamos capazes de obter seus empregos de volta. Isso mostrou que mesmo se nós não fossemos um sindicato oficial, nós estávamos ali para uma mudança, e nós tomamos uma posição. Mesmo se você perder o seu emprego, nós vamos oferecer um lugar para conseguir seu emprego de volta. Isso meio que balançou a sala para os trabalhadores no JKF8.

Que lições você tomaria, olhando os dois anos de volta?

Por uma coisa, isso foi um verdadeiro auto investimento. Antes de nós realmente chegarmos onde estávamos, nós viajaríamos usando dinheiro do desemprego. Isso foi muito de auto investimento. Quando você realmente põe o trabalho nisso, você vai ver um grande resultado. Eu tendo 21, eu podia ter gastado aquele dinheiro em qualquer coisa, mas eu usei para mim mesmo, eu auto investi, eu falei sobre minha história.

Se não fosse pelo Congresso dos Trabalhadores Essenciais, e agora o ALU, para fazer essa mudança, eu não estaria na posição que estou agora. O Chris colocou seu próprio dinheiro, o Gerald estava colocando seu próprio dinheiro, o Derrick estava trabalhando, mas ainda colocando seu dinheiro, para viajar para esses estados para falar sobre a situação que a Amazon não estava falando.

Eu conheço a vereadora de Seattle Kshama Sawant; eu trabalhei para ela por três anos fazendo isso. Eu deveria conhece-la, mas eu nunca tive a chance até uma das nossas conferências de imprensa. Ela na verdade voou aqui e doou $ 20.000 para nós. Isso foi ótimo, porque eu fiz essa conexão com essa oficial eleita, e eles doaram esse dinheiro. Isso significou muito para mim, pessoalmente. Tanto trabalho quanto nós estamos colocando, as pessoas estão realmente assistindo e todos estão ouvindo. A luta não para aqui.

Olhando para trás para a fundação do Congresso dos Trabalhadores Essenciais e então para onde o ALU está chegando, parece que há um longo futuro na frente desse movimento, e está galvanizando todo o trabalho organizado. As manifestações do 1º de Maio desse ano foram as maiores em dez anos, por exemplo. Você acha que isso é uma prova do seu trabalho?

Jordan Flowers: Se não fosse pelo TCOEW, o ALU não estaria aqui. O povo se uniu, e nós falamos por todos os trabalhadores agora. Há trabalhadores em outras empresas que têm medo de falar, e o Congresso está ali e vai ajuda-los. Nós estamos recrutando e construindo líderes agora. Nós vamos falar pelos trabalhadores, e quem quer que queira liderar, nós vamos estar ali e apoia-los a cada passo do caminho.

Jacob Buckner é reporter do People´s World

Fonte: People´s World

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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