PUBLICADO EM 20 de abr de 2023
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Rondon, o brasileiro que foi encontrar nosso povo na floresta

Sua meta sempre foi a de integrar o Brasil e, encontrando-se com os povos originários decidiu: ‘Morrer na missão se preciso for, matar, nunca”. 

Arquivo pessoal

Neste 19 de abril, dia dos povos indígenas – dia do índio, como se dizia antes – é dia de lembrar do Marechal Cândido Mariano Rondon, que deu nome ao projeto Rondon que levou uma moçada para o mato, que inspirou o grande Darcy Ribeiro, que formou uma geração de indigenistas como os irmãos Villas Boas e que hoje está praticamente esquecido.

Rondon foi quem se meteu pela floresta demarcando rios que ninguém conhecia, esticando linhas de telegrafo no meio de um país esquecido, e que foi até a ponta do Acre e na borda com as Guianas para botar estacas exatamente onde eram e ainda são nossas fronteiras.

E encontrou muitos indígenas pelo caminho, muitas tribos que nunca tinham visto um branco pela frente e outras tantas que acabaram vendo, sendo vistas e exploradas por seringueiros, mineradores, madeireiros, em um caminho de extermínio parecido com o que enfrentou o povo ianomâmi antes de Lula chegar lá com o socorro.

A muito custo Rondon criou o Serviço de Proteção aos Índios, na República Velha, que foi esquecido no Estado Novo, aparelhado durante os anos de chumbo e – ele deve estar feliz lá em cima – agora, com o respeito necessário, tornado no ministério dos Povos Indígenas. Devemos ter um milhão de indivíduos como povos originários nas reservas e alguns poucos ainda não contactados, hoje em dia.

A história de Rondon se confunde com a história do Brasil desde o golpe que implantou a República, e está muito bem contada neste livro, ‘Rondon, uma biografia’ (editora Objetiva, 565 páginas), do jornalista norte americano Larry Rohter.

Rohter foi correspondente do jornal New York Times durante 14, 15 anos, viajou o Brasil todo, e se interessou pela história quando foi atrás da aventura do ex-presidente americano Ted Roosevelt, em 1914, levado pela expedição de Rondon pela Amazônia desconhecida. Viajaram em canoa, a pé, lombo de burro por 1.600 quilômetros de um rio sem nome, quase morreram no caminho. Rohter diz que Rondon foi ‘o maior explorador dos trópicos na história’, maior que muitos nomes consagrados, mas não reconhecido por não ser branco ou europeu. Rondon era descendente dos Bororo.

O livro é muito bom de ler. Pena que está esgotado, só se encontra em sebo ou na Estante Virtual.

Ricardo Paoletti é jornalista, coordenação de Comunicação da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp)

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