PUBLICADO EM 07 de jan de 2021
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Contra Bolsonaro não cabe purismo; tampouco diletantismo

Antes de entrar no mérito do artigo, não se pode esquecer que 2021 começou e não há sinais das vacinas por parte do governo e a ajuda emergencial foi cortada. O caos vai ser instalado. A crise no País vai se profundar sob um governo completamente desaparelhado para enfrentá-la em todos os aspectos humanos possíveis. Diante disso, não cabem erros e/ou vacilações graves.

“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo.” (Winston Churchill, 1º ministro britânico – 1940 a 1945 e 1951 a 1955). Em junho de 1941, em seu discurso na Câmara dos Comuns, depois da invasão alemã à União Soviética.

É provável que o 1º e mais importante evento político de 2021 seja a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, que vai acontecer em 1º de fevereiro. Desse resultado vai derivar um conjunto de atos e fatos ao logo deste ano, que vai ser caótico para o povo brasileiro. A verificar.

pragmatismo politico

Pragmatismo político não é um caminho exclusivo da concepção de esquerda, mas de todas: da direita, do centro ou das variantes de ambas (Imagem: Pragmatismo Político)

O presidente Jair Bolsonaro não está jogando todas as suas fichas nesse processo à toa. Esta é a dimensão para entender a grandeza desse evento e desafio políticos. Seu candidato é o líder do chamado “Centrão”, deputado Arthur Lira (PP-AL). O peso do governo num processo como esse é grande e tem muito alcance. Que ninguém se surpreenda ou se engane.

A aliança da oposição com Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o MDB é, antes de tudo, contra Bolsonaro. É assim que precisa ser entendida essa ampla composição, que uniu parte do “Coliseu”, que golpeou a democracia em 2016, à esquerda.

Nesse processo, não cabem nem diletantismo nem tampouco purismo político-ideológico. Com a política hegemonizada pela extrema-direita representada pelo chamado bolsonarismo é preciso pragmatismo e clareza dos objetivos imediatos e futuros.

A direita tradicional e sua variação ao centro, junto com setores progressistas, se uniram à oposição — a esquerda e sua variação ao centro: PT, PCdoB, PDT e PSB —, para enfrentar o peso do Planalto e sua tentativa de transformar a Câmara dos Deputados num “puxadinho” desse governo de extrema-direita. O candidato dessa frente é o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que reúne 11 partidos.

O último partido relevante a se posicionar formalmente nessa batalha foi o PT, em decisão apertada da bancada — 27 a 23 — e deliberou pelo apoio à candidatura de oposição ao Planalto e pela independência da Casa, como de fato foi esse 3º mandato do deputado Rodrigo Maia. Sem entrar no mérito da agenda neoliberal, pois não há ainda no Congresso e na sociedade força e acumulo para derrotá-la, desde que ressurgiu em 2016.

Independentemente de ter sido por margem muito estreita de votos, a decisão do PT foi acertada e relevante, pois na pauta não havia a possibilidade de apoio a Arthur Lira. A discussão girou em torno do apoio a Rossi já no 1º turno ou se esse seria no 2º. Prevaleceu, pode-se dizer, a coerência e a racionalidade da maioria da bancada do Partido dos Trabalhadores. Essa não foi uma decisão qualquer, pois se o PT resolvesse por candidatura própria como intenta fazer o PSol, a possibilidade de vitória de Bolsonaro seria elevada.

Amplitude e luta
O apoio da esquerda ao candidato do MDB e de Rodrigo Maia não é gratuito, nem ingênuo, nem sofre de amnésia. Noutro artigo já havia afirmado que “Não havia e não há nenhum perigo de a oposição apoiar Lira”. Por quê?

Porque, do outro lada da disputa está Bolsonaro, que representa o atraso e o retrocesso em todos as dimensões humanas — política, econômica, social e moral —, que se possa imaginar. Essa aliança é absolutamente meritória. Se algum partido de oposição se posicionasse pelo apoio ao Planalto, teria assinado seu atestado de “óbito político”.

Mesmo parte da bancada do PSB, que principiou apoio ao bolsonarismo, a Direção Nacional da legenda, em decisão unanime (80 a zero), se posicionou pelo apoio a Baleia Rossi. Desse modo, qualquer membro da bancada que trair essa decisão vai ficar numa situação muito ruim, para dizer o mínimo. Mesmo sendo a eleição secreta, todos os deputados já estão devidamente “mapeados” para essa disputa.

2º ato do evento mais importante de 2021
Trata-se do mérito da disputa. Se o candidato bolsonarista sair-se vitorioso desse pleito, não haverá apenas a agenda neoliberal em pauta, mas também a de “costume” — aquela com a qual o presidente da República mantém seu eleitorado mais fiel unido e mobilizado, nas redes e nas ruas —, como “escola sem partido”, posse e porte de armas, criminalização do aborto, home schooling (educação em casa), voto impresso, condenação em 2ª instância, “ideologia de gênero”, entre outras.

Não há dúvidas que a disputa vai se dar entre 2 neoliberais. A diferença é que o candidato de Bolsonaro é o “neoliberal conservador”. É pior. O da frente ampla é o “neoliberal progressista”. Não se trata de ironia ou ingenuidade. Nessa disputa, ninguém está sendo enganado. Depois de proclamado o resultado, todos vão voltar para as suas trincheiras originais. O importante nessa batalha, é derrotar Bolsonaro e tudo que ele representa. Como fizeram Franklin D. Roosevelt (EEUU), Winston Churchill (Grã-Bretanha) e Josef Stálin (União Soviética) contra Hitler e o nazismo, na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

Fato e dado importantes
É importante lembrar fato relevante que pode ajudar a compreender a necessidade de união para evitar o pior — ou o “menor de dois males”. A frente ampla prevaleceu, por exemplo, no debate sobre a Reforma da Previdência. Se a oposição tivesse se isolado naquele momento, a Previdência teria sido privatizada, com a aprovação do regime de capitalização.

Foi a denúncia da oposição, com dados e fatos, que impediu essa tragédia. A oposição provou, com documentos e dados, que o regime de capitalização não seria a solução para o saneamento da Previdência pública. Ao contrário. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulgou documento esclarecedor sobre o assunto, que foi amplamente divulgado e debatido. Isso fez com que a maioria dos partidos que apoiava a capitalização no Congresso recuasse. Antes desse fato, a oposição não havia conseguido mostrar e provar que a tese do governo era falsa.

Nesse contexto de neoliberalismo e sua ofensiva radicalizada, tendo a extrema-direita à frente do País, faz-se necessário a união da oposição, com os setores da oligarquia que não coadunam com as posições ideológicas do Planalto para, senão barrar, pelo menos não permitir que se amplie o “grande salto para trás” que o País deu com a eleição de Bolsonaro.

Desse modo, neoliberais “progressistas” e a oposição se uniram para “marchar e golpear juntos”, naquilo que for comum e pertinente, como é o caso da eleição para a presidência da Câmara. E como foi também em alguns pontos da discussão e votação da Reforma da Previdência quando essa estava em debate no Congresso. Há muitos outros bons exemplos dessa unidade depois da ditadura civil-militar de 64, como por exemplo, a “Aliança Democrática”, que elegeu Tancredo e Sarney no Colégio Eleitoral em 1985.

E para que não haja estímulos às traições e outros desvios nesse processo, todos os partidos de oposição deveriam estimular a declaração de voto de seus deputados e deputadas, antes e depois do pleito. Para elevar a força moral dessa acertada decisão política contra Bolsonaro, a fim de impingir-lhe rotunda derrota na Câmara.

Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar licenciado do Diap

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