“Foi na luta social e política que derrotamos a ditadura militar e é na luta democrática e transformadora que vamos derrotar o governo Bolsonaro e a tragédia nacional que ele está causando”, afirmou Lula, em texto de referências históricas sobre sua ligação com o movimento sindical. Em 28 de agosto de 1983, quando a CUT foi criada – data “inesquecível”, ressaltou –, ele já tinha deixado o comando do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (hoje do ABC) para se dedicar à organização do PT, fundado três anos antes.
Lula participou ativamente de todo o processo, desde a chamada Conclat, a conferência realizada em 1981 justamente em Praia Grande, reunindo mais de 5 mil delegados de todas as linhas de pensamento do sindicalismo, em um momento de rearticulação de forças, ainda sob o regime autoritário.
No final da carta, o ex-presidente voltou a falar de sua decisão de não aceitar um possível regime semiaberto – ele está preso desde 7 de abril do ano passado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Daqui onde estou, sem barganhar em momento algum a minha dignidade, muito mais livre do que meus algozes, que continuam presos as suas mentiras, envio às mulheres e aos homens que fazem da CUT este admirável instrumento de luta do povo brasileiro a minha calorosa saudação”, escreveu.
Ele reiterou a importância do movimento sindical para a democracia e os avanços que o país teve em anos recentes, esperando a aprovação, pelo 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), de um “plano de lutas à altura dos graves desafios nacionais”.
“O papel da CUT continua insubstituível na defesa da soberania nacional e no combate à escandalosa submissão do Brasil à política unilateral, imperial e guerreira dos Estados Unidos. Continua insubstituível na luta contra a absurda privatização das nossas maiores e estratégicas empresas públicas e também na luta contra o desmonte criminoso de políticas sociais, indispensáveis para existência digna de dezenas de milhões brasileiros”, acrescentou, citando ainda a defesa da Amazônia e na mobilização contra o desemprego e a miséria.
Dirigentes de outras centrais também participaram da mesa de abertura. Os presidentes da Força Sindical, Miguel Torres, e da CTB, Adilson Araújo, também puxaram o coro pela liberdade de Lula.
Aberto ontem, o Concut vai até quinta-feira (10), quando será eleita a nova direção da central.
Confira a íntegra da carta de Lula ao 13º Congresso da CUT
Aos delegados e delegadas, dirigentes da nossa central, delegados e delegadas internacionais:
Desde a fundação,
Nestes 36 anos de vida e de lutas, a CUT foi participante ativa e tantas vezes decisiva das grandes conquistas sociais econômicas e culturais do povo brasileiro.
O Brasil não teria dado, durante os governos populares o verdadeiro salto histórico que deu, em termos de crescimento econômico, combate à pobreza e a desigualdade, geração de emprego, distribuição de renda e inclusão social sem a contribuição independente e mobilizadora da CUT.
Da mesma forma a central sempre esteve na linha de frente na resistência a todo e qualquer tentativa de ferir a democracia e de confiscar direitos do nosso povo.
Basta lembrar dos anos recentes, a sua tenaz oposição ao golpe de estado que derrubou a presidenta Dilma, bem como sua permanente mobilização em parceria com outros movimentos sindicais e populares contra escalada autoritária, antinacional e antipopular que está em curso no Brasil.
Hoje, mais do que nunca, é necessário intensificar a luta para barrar o projeto destrutivo do governo de extrema-direita, que ameaça provocar um retrocesso histórico sem precedentes.
Foi na luta social e política que derrotamos a ditadura militar e é na luta democrática e transformadora que vamos derrotar o governo Bolsonaro e a tragédia nacional que ele está causando.
O papel da CUT continua insubstituível na defesa da soberania nacional e no combate a escandalosa submissão do Brasil à política unilateral, imperial e guerreira dos Estados Unidos. Continua insubstituível na luta contra a absurda privatização das nossas maiores e estratégicas empresas públicas e também na luta contra o desmonte criminoso de políticas sociais, indispensáveis para existência digna de dezenas de milhões brasileiros.
Sem falar na luta contra a exploração predatória da Amazônia e a destruição de proteção ambiental, que demoramos tanto tempo para construir.
E na luta contra o desemprego, a miséria e a fome, que voltaram a assolar o país. E é claro que a CUT deve contribuir e continuar liderando a luta contra as tentativas do governo de Bolsonaro de fragilizar e destruir as organizações sindicais e a legislação trabalhista.
Por tudo isso, este 13º Congresso é muito importante não só para CUT e a classe trabalhadora, mas para o Brasil como um todo.
Tenho certeza de que vocês tomarão as decisões necessárias para atualizar e fortalecer a organização da central e para traçar um plano de lutas à altura dos graves desafios nacionais.
Tenho certeza de que a CUT continuará também prestando a sua solidariedade ativa a luta dos trabalhadores da América do Sul, da América Latina e do mundo inteiro ajudando a consolidar o sindicalismo internacional democrático e combativo capaz de enfrentar com êxito a ofensiva do capital para desregulamentar e precarizar o mundo do trabalho.
Companheiros e companheiras, gostaria muito de estar aí hoje junto com vocês como eu sempre estive. Mas vocês sabem que política e moralmente estou aí sim, abraçado a cada companheira e cada companheiro.
Daqui onde estou, sem barganhar em momento algum a minha dignidade, muito mais livre do que meus algozes, que continuam presos às suas mentiras, envio as mulheres e aos homens que fazem da CUT este admirável instrumento de luta do povo brasileiro a minha calorosa saudação.
Luiz Inácio Lula da Silva