PUBLICADO EM 17 de jan de 2018
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Para Derly José é importante entender o que aconteceu nos anos de chumbo para que não aconteça novamente

“Se alguém pegou em armas para derrubar Jango nós tínhamos o direito absoluto de pegar em armas para nos defender. E foi isso o que fizemos. Foi isso o que fizemos durante os chamados anos de chumbo”.

Rádio Peão Brasil publicará uma série de  entrevistas que ajudam a compreender nosso país. 

Hoje publicamos a segunda parte do depoimento de Derly José de Carvalho sobre sua história de vida. Derly foi fundador do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e fundador da Ala Vermelha, grupo radical de resistência ao regime militar (1964/1985).

Leia a primeira parte aqui.

 

“Se alguém pegou em armas para derrubar Jango nós tínhamos o direito absoluto de pegar em armas para nos defender. E foi isso o que fizemos. Foi isso o que fizemos durante os chamados anos de chumbo”.

Guerrilha do Araguaia

Quando deu para voltar [da Albânia, para onde fui em 1966, depois de uma viagem à China para fugir da perseguição da ditadura militar no Brasil] o Partido [PCdoB] montou um esquema. Montou um esquema não! Deu dinheiro e marcou um ponto lá no Rio de Janeiro. Voltei no comecinho, tipo janeiro, de 1968.

Entrei em contato com o Partido no Rio. Fui para São Paulo. Mas a executiva do Partido não me deixou vir para o ABC, contatar a família e os companheiros do partido.

Carol: Você tinha quantos anos?

Derly: Tinha de 27 para 28 anos.

Carol: Nessa época já estava tendo a Guerrilha do Araguaia?

Derly: Não. Estavam montando. Tinha ponto de apoio. Eu tinha praticamente saído do Partido lá em Pequim. Porque teve um dia em que estávamos na Academia, depois de fazer todos os cursos políticos e militares e conhecer a experiência da Revolução Chinesa, um quadro do Partido, que era responsável pela nossa delegação disse: “Vocês estão prontos para voltar para ingressar nas bases de apoio que o Partido tem no Brasil”. Aí eu levantei e falei: “Peraí, tem alguma coisa errada”. Eu e um outro companheiro. Isso porque, durante a clandestinidade eu consegui todo o mapeamento feito pela Força Aérea Brasileira. Eu tinha um amigo que trabalhava na máquina de Xerox da empresa que fazia isso. Tinho tudo isso. Aí falei: “Não é possível no Brasil ter uma base de apoio revolucionária seguindo os conceitos do camarada Mao Tsé-tung”. Eu tive três reuniões com o Mao Tsé-tung. Fora um almoço. Eu vi que tinha alguma coisa erra. A base de apoio revolucionária, que foi criada por Mao Tsé-tung, baseada em cinco mil anos de história escrita da China…Ou tudo o que o Partido tinha ensinado para a gente era falso, era igual o Livro do Gêneses, da Bíblia, ou então não tinha base de apoio no Brasil. A base de apoio revolucionária é uma região onde o partido tem o exército, a polícia, e tem o governo da administração política financeira, inclusive com o controle dos bancos e da propriedade privada daquela região. Isso é uma base de apoio.

Carol – E aqui no Brasil era o contrário?

Derly– Bom, por exemplo, eu era uma base de apoio do Comitê Central em São Bernardo, mas eu não tinha exército – porque se eu tivesse um exército não estava aqui. E não tinha poder político nenhum. Então, no Brasil não existe isso. O que existe são contatos no campo. Mais o Partido Comunista do Brasil não tinha um operário até 1964, no dia em que houve o golpe. Era o Partido Comunista Brasileiro que tinha. Isso foi um choque! Graboisinho, então, ficou furioso.

Carol – Graboisinho é o André Grabois, não o Maurício?

Derly– Sim. Porque quem estava ali era a elite dos jovens. E um outro companheiro, ligado às Ligas Camponesas. A partir daquele momento ficamos no gelo.

Carol – Aí vocês saíram do partido por causa disso?

Derly– Não, naquele momento não. Eles não tinham como nos fazer sair do partido. Mas eles deram um jeito de nós voltarmos. E por isso voltei no início. O chefe do grupo, ou seja, que era o coordenador, era o médico João Carlos Haas. Ele chegou logo em seguida, porque ele também tinha um trabalho, e nós estávamos juntos. Então, desse grupo apenas eu e outro companheiro e não fomos ao Araguaia. Os outros morreram todos na repressão.

Carol – Eles queriam arregimentar primeiro para depois ir para o Araguaia, mas sem vocês saberem o que era exatamente?

Derly– Exatamente. Não tenho nem uma ideia, e quase ninguém. Porque não tinha…

Carol – Não era uma coisa muito clara?

Derly– Não, não era muito claro. Tinha as bases de apoio. Mas eu tinha esse conhecimento, e como fiz parte dos grupos do Onze do Brizola, e trabalhei durante um tempo como responsável pela nossa diretoria, com ajuda do sindicato dos metalúrgicos ao movimento das Ligas Camponesas no interior de São Paulo, eu sabia mais ou menos o que significava isso. Eu fiz uma comparação com o que aprendemos. Eu disse “Se isso que vocês ensinaram para a gente é o que vocês chamam de base de apoio, eu concordo plenamente. Mas se isso não é uma fantasia deixa me ver se estou acordado? Não é um sonho? Ou então no Brasil não tem isso”. Aí eles me sabotaram na volta. Então, nesse momento, o pessoal do primeiro grupo que tinha ido à China quebraram o pau, e se juntaram, e foram praticamente expulsos do partido.

Para se ter uma ideia, eu fui eleito secretário do comitê estadual do PCdoB e não participei de nenhuma reunião, e quando voltei já não me deixaram nem participar mais. Quando cheguei, eles não queriam me deixar ir para o ABC porque não existia mais PCdoB na região. Aí já tinha sido criada a Ala Vermelha.

Na Bolívia me atravessaram na fronteira

Carol – Quer dizer, um pessoal que tinha saído do partido e criado a Ala Vermelha?

Derly– Sim.

Carol – Era uma dissidência?

Derly– Sim, uma dissidência do partido.PÇ do B

Carol – Em que época foi isso? Já era 1968?

Derly– Isso foi durante o ano de 1967. Exatamente no momento em que eu estava na Albânia. E quando cheguei saí do partido na marra porque eles não queriam me deixar ir ao ABC. Já fazia um mês que eu estava nessa situação de “vai para São Paulo. Não vai. Vai, não vai”. E também não me abriam o jogo. Foi aí que entendi que não iriam me mandar para as bases de apoio porque sabiam que eu não acreditava em bases de apoio.

Depois, marquei um encontro com eles em São Paulo e disse “deixa que eu me viro”. Eu me virei para voltar de Pequim para São Paulo. Eles não montaram esquema. Voltei  via Guajará Mirim. Na Albânia eu conheci um grupo de companheiros marxistas-leninistas da Bolívia e eles me atravessaram na fronteira.

Carol – Era cada um por si.

Derly– Era cada um por si, “está aqui o dinheiro, agora você se vira”. Mas me mandaram passar por um caminho, e eu passei por outro porque não me sentia seguro. Passei por onde caiu Che Guevara. Lá havia um controle rigoroso. Mas eu estava bem calçado. Consegui um documento, que até me enviaram por via eletrônica. Eu consegui um emprego numa agência em Paris da General Eletric e fui fazer na Bolívia e em toda região fronteiriça do Brasil um levantamento de mercado.

Então cheguei a Guajará Mirim, conheci o cônsul do Brasil, participei de jantar. E aí fiquei com uma cobertura dos marxista-leninistas da Bolívia, e através deles passei pela fronteira.

Trauma de segurança

Carol – Só para entender, o partido fazia esse tipo de coisa por uma concepção ideológica?

Derly– Não. O problema do partido era um trauma de segurança. ( uma enfermidade de todo Partido isolado da base social   da sociedade.)  Tinha que ser assim, não podia abrir. Por exemplo, em 90% dos companheiros, como meus irmãos, morreram porque abriram a guarda.

Carol – Abrir a guarda significa o que exatamente?

Derly– Abrir a guarda significa confiar em qualquer pessoa. A pessoa chegava num lugar e já logo dizia “eu sou guerrilheiro, sou isso e aquilo, vem para cá para dentro do partido”. Foi o que aconteceu com meus irmãos na Argentina. Quem estava lá? O sargento Alberi (Agente da Ditadura ).

Eu fiz parte dos Grupos de 11 com o sargento Alberi, e sabia com certeza absoluta que ele era agente infiltrado, por exemplo, ao encontrar o Coqueiro quando ele estava vindo para o Brasil, eu disse que ele tinha um mês de vida. Eu disse a ele “se você estiver voltando para o Brasil no esquema do Zé Dirceu, ou no esquema do Cabo Anselmo (José Anselmo dos Santos, infiltrado das forças de repressão do Governo no movimento de esquerda), eu te dou um mês de vida”. Errei por quinze dias. Ele só ficou vivo por quinze dias.

Quando desci em Muriaé para organizar o partido já tinha caído Caparaó

O PCdoB mandava as pessoas para a China fazer um curso para ir à Guerrilha do Araguaia sem dizer a elas que iriam para a Guerrilha. Alguns companheiros eles simplesmente soltaram… Se alguém tivesse qualquer divergência com partido sabe o que eles faziam? Mandavam essa pessoa para uma cidadezinha… Sabe para onde o partido me mandou? Para Muriaé.

Eu fui para São Paulo, para o aparelho, e falei “vou a Diadema entrar em contato com minha mulher para ver como estão as coisas”, e me disseram “não, mas tua casa está cercada”. Então eu disse “não tem problema, eu conheço tudo por lá e entro com cerca ou sem cerca”. Para mim não havia problema porque eu conhecia bem o terreno.

Quando cheguei o pessoal falou: “Aqui não tem mais PCdoB, aqui tem a Ala Vermelha. Com quem você está? Conosco ou com eles?”. Respondi “bom, primeiro preciso saber quem são vocês e quem são eles”.

Fui até o ponto com eles e eles me mandaram para Muriaé. E quando desci em Muriaé para dar uma organizada no partido na região, já tinha caído Caparaó, que era dos grupos de 11 exatamente. E quem me segurou lá? Alguns amigos meus de infância, que me guardaram num sítio durante um tempo até eu ir para o Rio de Janeiro e encontrar com o pessoal… Eles faziam muito isso, deixavam a pessoa sozinha e ela acabava sendo presa. Isso aconteceu com alguns companheiros.

Era uma maneira de descartar os camaradas que divergiam . Esse pessoal usou muito isso, fizeram muito isso. Sempre foi uma prática da Cnop [comissão nacional de organização provisória] desde 1941. Levar uma pessoa para treinamento para a Guerrilha do Araguaia sem saber a opinião dela. Tinha que dar no que deu.

Carol – Mas o que levava as pessoas a chegar a esse ponto? Era um envolvimento muito grande com o partido?

Derly– O problema é que era muito fechado. Na vida em clandestinidade precisava tomar muito cuidado. Isso vira religião, acaba virando uma seita.

Carol – Nessa época era muito acirrado?

Derly– Muito, muito. Lênin combateu muito o conceito de seita. E havia várias experiências de infiltrações dentro dos partidos C. durante a 2º Guerra Mundial, e de outros partidos. Até aí eu sempre fui absolutamente de acordo, sempre fui muito disciplinado. Sempre tive a disciplina da classe trabalhadora.

Nessa época, então, voltei e já comecei a reunir com o pessoal da Ala que eram meus companheiros, da executiva nacional com os quadros intermediários. Os quadros intermediários do PCdoB estavam todos na Ala Vermelha.

Eu não podia ficar em Muriaé porque tinha estourado o aparelho de lá, e tinha um mandado de prisão contra mim. Um primo de minha mulher, que era sargento da força pública, me disse “olha, está aqui um mandado de prisão contra você”.

Minha mulher e filhos estavam completamente isolados em SP

Derly– Todo mundo achava que eu estava voltando de Caparaó, fui para o Rio de Janeiro. Passei a morar no Rio, com minha mulher e as crianças. E comecei a trabalhar numa oficina mecânica, e numa empresa como torneiro, para organizar o sindicato dos metalúrgicos do Rio.

Carol – E a sua mulher? Você disse que tinha voltado para Diadema etc. Como ela lidava com esse tipo de coisa?

Derly– Cheguei a Diadema ela estava completamente isolada. Ela andou brigando com eles, porque – imagina – quem a manteve na época em que estive na Albânia foram exatamente os quadros intermediários do partido, que eram os companheiros que estavam na Ala Vermelha. Eles é que a mantiveram e as crianças durante esse tempo em que o Comitê Central tinha desaparecido e que nunca mais apareceu em Diadema. Desde o dia em que peguei o avião eles nunca mais apareceram.

Carol – Manter significa cuidar financeiramente?

Derly– Financeiramente. Dar toda cobertura, assistência.

Carol – Porque também era uma pessoa visada.

Derly– Sim. Nós morávamos num quarto e cozinha, de aluguel. Tinha a família dela que morava em Diadema, mas também pobre. O pai dela era muito pobre. Ela não era militante. Não tinha nenhum envolvimento. Não havia nem possibilidade. Estava tudo desmontado. Tudo era clandestino. Mas a base da Ala dominava as comissões de fábrica. Aquelas comissões de fábrica que havia até o… Mas as que eram clandestinas, aquelas que eram de militantes e que com a anistia em 79, acabaram em Lula e nas diretorias do sindicato depois.

A Ala Vermelha

A Ala Vermelha tinha a concepção de revolução maoista, não era muito bem foquista. A partir daquele momento fizemos uma reunião, o Encontro Nacional da Ala Vermelha. Éramos três vezes maiores que o PCdoB. O que sobrou do PCdoB foi o pessoal dos marítimos do Rio de Janeiro, que não fechou conosco, mas com o PCdoB, o pessoal saído do PCB, e o pessoal da AP [Ação Popular] que virou marxista de um dia para o outro.

Não sei como uma pessoa é padre hoje e amanhã vira revolucionário. Não consigo entender! Hoje é padre, ou freira, e amanhã é marxista-leninista?! Poxa, eu demorei 30 anos e até hoje não sou um verdadeiro marxista-leninista. Eles viraram todos marxista-leninistas. Esse grupo que ficou PCdoB e deu esse PCdoB de hoje. Praticamente sobrou só Amazonas daquela época, porque morreu todo mundo. Depois com a queda do Comitê Central inteiro, o grupo da Cnop morreu todo. Morreu o melhor pessoal que havia. O pessoal intermediário passou para a Ala, que somos nós, e os outros morreram no Araguaia. Aí acabou historicamente o… Ou seja, a Operação Condor cumpriu direitinho sua missão, que era a de matar, executar, todos os militantes que tinham possibilidade de depois se transformar em liderança. Era para não deixar ter um novo Che Guevara.

Carol – Uma grande liderança.

Derly– O objetivo deles era esse. Nesse momento então nós reestruturamos a Ala Vermelha como Partido Comunista Marxista-Leninista. Eu fazia parte da Comissão Executiva, e da comissão militar da Ala Vermelha a partir de 1968, quando rompi definitivamente com a direção do partido comunista. Todos nós saímos. Fomos pedindo afastamento.

No sindicato não dava para ir mais. De vez em quando íamos às assembleias na porta das fábricas, mas com grupo armado.

Carol – Estava sob intervenção?

Derly– Exatamente. Nós fizemos o quê? Usávamos as armas, mas não fizemos guerrilha, não fizemos luta armada. Luta armada é outra coisa. Nós fizemos defesa. Defesa armada. Se eles deram o golpe armado, derrubaram um governo, derrubaram Jango – no qual votei para presidente da República – que era um governo constitucional, democrático, era responsabilidade nossa defendê-lo. Se alguém pegou em armas para derrubar Jango nós tínhamos o direito absoluto de pegar em armas para nos defender. E foi isso o que fizemos. Foi isso o que fizemos durante os chamados anos de chumbo. Essas coisas foram abrindo, e o próprio Marighela depois, a ALN [Aliança Libertadora Nacional] e o movimento estudantil entraram na guerrilha…

Meus irmãos foram presos em maio de 1968

Nessa época meus irmãos saíram e montaram o MRT. Eles saíram da Ala Vermelha e montaram o grupo e acabaram sendo presos exatamente porque abriram a guarda.

Carol – Eles foram para a Argentina?

Derly– Não. Eles foram presos em maio de 1968. Em conseqüência , um grupo da Ala Vermelha e eu fomos presos. Foram Daniel, Joel e Jairo presos. Devanir conseguio se livrar. E foram presos mais alguns companheiros do ABC, o Coqueiro. Eles descobriram onde ficava a casa de meus pais.

Carol – Seus irmãos eram do PCdoB também?

Derly– Também.

Carol – E também foram para a Ala Vermelha? Fizeram a mesma trajetória que você?

Derly– Exatamente. Eles foram para o PCdoB antes que eu. E quando voltei, eles estavam na Ala Vermelha. Porque já era uma discussão que nós fazíamos com os quadros intermediários do partido. Queríamos ir ao congresso para no congresso nós mudarmos esse conceito de relacionamento dentro do PCdoB.

Então, eles foram presos e o que acontece? A repressão tomaram conta da casa e a polícia invadiu a casa dos meus pais e a casa do meu sogro. Nessa época eu morava em Rio Bonito. Nessas condições, nós mudamos para um local onde havia uma feira, onde meu cunhado, irmão da minha mulher, trabalhava. De repente, ela foi à feira e os encontra em frente à casa. A barraca deles estava em frente a nossa casa. Uma semana depois ocuparam a casa e prenderam todos os meus cunhados, colocaram todos eles em pau-de-arara. E acabaram descobrindo onde eu morava e fui preso em função disso. Devanir conseguiu sair.

Quando fui preso foi uma barra muito pesada

Carol – Você ficou muito tempo preso?

Derly– Fiquei dois anos, depois fui trocado pelo embaixador da Suíça. Quando fui preso foi uma barra muito pesada porque tinha alguns dados que eles não tinham sobre mim. Eu fiquei 90 dias completamente incomunicável, minha mulher e ninguém sabiam onde eu estava. Passei quase noventa dias sem conseguir levantar do chão e sentar numa cadeira. Fui duas vezes para fazer massagem cardíaca no hospital das clínicas.

Carol – Foi torturado?

Derly–Isto (aponta para marca na testa) foi tortura. Nós tínhamos acabado de ocupar a Rádio Nacional. Eu estava em minha casa e toda a preparação de ocupação da rádio e da TV bandeirantes, no jogo Brasil e Inglaterra, estava pronta. Nós íamos fazer isso uma semana depois. Caiu tudo isso em minha casa. Caiu uma oficina com fábrica de armas etc. Morreu uma pessoa da equipe do Sergio Paranhos. Tivemos certeza absoluta de que ele morreu dentro da minha casa. E eu já estava preso, no pau-de-arara. Nessa hora eles queriam saber quem tinha ido a minha casa.

Eu tinha reunião, mas não fui então o pessoal foi até minha casa e quando chegaram eles estavam lá. E como o pessoal já estava preparado houve um enfrentamento, quando morreram um ou outro. Com isso, eles não me executaram naquele momento porque a CIA queria falar comigo. A CIA que me defendeu nesse momento. A CIA estava lá em volta a todo momento. E ela não deixou que me apagassem porque queria falar comigo sobre a questão da China. Porque eu era a única pessoa que estava presa dos grupos, do pessoal do PCdoB que foi à China e à Albânia.

Quando eles vieram a chance de falar comigo meu nome já estava na lista do sequestro, para ser trocado pelo embaixador sequestrado. Eu fui levado para a Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, até o dia da viagem.

Carol – Seus irmãos morreram na prisão?

Derly– Não. Devanir morreu em combate em São Paulo. Na época eles estavam fazendo um trabalho com Lamarca, da VPR. Nessa época já tinham morrido Toledo, Marighela e Lamarca. Meu irmão Devanir morreu acho que no dia 5 de abril de 1971. Eu estava na China novamente. Depois fui para o Chile, e no Chile os chineses me pediram para organizar um grupo, uma delegação, para ir para lá explicar o que estava acontecendo no Brasil.

Carol – Você acabou criando uma boa relação com os chineses.

Derly– Havia uma relação muito boa. Participei de todo o processo durante um ano da revolução cultural lá, e um ano na Albânia. E voltei em 1971. Foi um momento em que também estava mudando a situação na China, na fase final da revolução cultural.

Fiquei  preso de maio de  1969 a 13 de Janeiro  1971. E fui deportado para o Chile em 13 de janeiro de 1971.

Ocupando emissoras de rádio

Quais ações armadas nós fizemos? Ação de expropriação de dinheiro em banco, expropriação de área em quartel, em casas de arma e ocupamos emissoras de rádio e de jornais. Nós éramos especialistas nisso. As rádios do ABC nós ocupávamos toda semana. E para isso tínhamos de usar armas. Para se ter ideia, eu morava em Rio Bonito, Santo Amaro, e ocupamos os transmissores da Rádio Nacional, pertinho daqui, e ainda passaram por duas vezes a nossa gravação.

Carol – Como era a ocupação da rádio?

Derly– Nós fazíamos uma gravação explicando tudo sobre a ditadura militar e chamávamos os trabalhadores para se organizarem nos sindicatos e nas Ligas Camponesas. Usávamos as cabines blindadas da rádio, onde tinha um bando de técnicos em eletrônica. Mas havia pessoas que trabalhavam dentro do sindicato dos radialistas a nosso favor. A Rádio Tupi estava em nossas mãos, o sindicato dos bancários de São Paulo estava em nossas mãos.

Carol – Em nossas mãos significa da Ala Vermelha.

Derly– Sim da Ala Vermelha. Nós tínhamos facilidade.

Carol – Então, vocês fizeram muitas dessas ações.

Derly– Exatamente. E a minha casa era um aparelho em que ficava grande parte dessas coisas. As gravações que fizemos, para a Rádio e a TV Bandeirantes, para o ato na semana seguinte estavam em minha casa.

Quando caiu a minha casa, eles ficaram preocupados. Nós tínhamos acabado de fazer uma ação na Mercedes Bens, e levamos na época o equivalente a por volta de dois milhões de reais de hoje – dinheiro de toda a folha de pagamento. E o delegado Fleury achava que esse dinheiro estava em minha casa. E eu sabia, eu era um aparelho da direção. Mas ninguém falou e eu não tinha por que falar.

Carol – Estava na sua casa?

Derly– Não. Na minha casa não ficava nada que pudesse comprometer. E nisso nós éramos rigorosos.

Expropriação de dinheiro da Mercedes

Eu comandei uma ação de expropriação de dinheiro da Mercedes, com aproximadamente 20 companheiros.

Carol – Operários?

Derly– Não, 20 companheiros do grupo. Nós sempre ficamos clandestinos. E quando fui preso um dos companheiros acabou abrindo. Isso quando eu estava preso há muito tempo, e já tinha saído o sequestro e a qualquer momento estava para sair, mas ninguém sabia que o nome estava na lista. Ele abriu e já estava no processo da auditoria militar e imediatamente fizeram um interrogatório e chamaram mais de 50 testemunhas.

Para se ter ideia, nós gastamos num tiroteio com a guarda da Mercedes mais de 2500 balas de fuzil. Foi uma operação militar de alto nível. Usamos 10 carros na ação, com mais ou menos 20 companheiros. A pessoa que comandava a guarda da Mercedes era um coronel do exército, nazista, e fazia parte do SnI. Na época, a Mercedes dava para o serviço de repressão clandestina o equivalente a dois milhões de dólares de hoje. E isso ocorreu com várias outras empresa como a Folha de São Paulo, a Globo, a Veja, a IstoÉ, o Estadão. Todos eles colaboravam.

Claro! Quer dizer, além de colaborar com dinheiro eles usavam os carros. E todo mundo estava rezando dentro da Mercedes para que nós o fuzilássemos. Ele só levou um tirinho de raspão. Nós não tivemos nenhum problema, pegamos o dinheiro, saímos e fomos embora.

E disso pouco mais de 50 pessoas foram testemunhas, pessoas que viram. Eles foram até a Mercedes e disseram “você, você e você viram”, pegaram todos e levaram para testemunhar. Quando chegou lá na Auditoria Militar , todos esses ficaram em pé, tinha um jornalista do Le Monde e mais dois ou três, um da Espanha, um da Itália e perguntaram para eles: “vocês reconhecem aqui alguém que participou da ação na Mercedes?”. Da turma do processo que estava ali apenas eu tinha participado. Havia outros, mas ninguém sabia. Só eu sabia. Então, o juiz, o presidente do tribunal, me mandou dar um passo à frente. E ele virou para eles as testemunhas “Se vocês reconhecerem, neste grupo que está aqui, um inocente, serão condenados por falso testemunho. Se vocês deixarem de reconhecer dentre essas pessoas um participante dessa ação, serão condenados por contribuir com a guerrilha e não com as leis e com o Estado etc. Portanto, vocês serão condenados de qualquer maneira”. Uma das meninas que trabalhava no banco que me conhecia, porque fui diretor do sindicato, começou a chorar. E a levaram para o pau-de-arara. Aí eu fiz um discurso lá dentro. E então colocaram os jornalistas para fora, me algemaram e me mandaram para o DOPS, para o Tiradentes, onde eu estava na época. E desmontaram todo o esquema, não levaram mais nenhuma  uma testemunha.

Fiquei na Tiradentes a maior parte do tempo. Fiquei 90 dias no DOPS e depois na Tiradentes. E mais ou menos quatro meses na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro.

Eram esses tipos de ação armada. Todas as organizações da época também fizeram isso. Agora, acredito que uma coisa que é importante, principalmente para o trabalho que vocês estão desenvolvendo na questão da memória, é que eu sabia exatamente o que estava fazendo.

Não gosto muito de dizer “fui torturado, fui isso e aquilo”. Para mim isso é muito sacana. Eu não entrei de gaiato no movimento. Eu sabia o que queria. Eu queria uma revolução. E continuo querendo até hoje. Ela ainda não se completou. Somos vitoriosos, nós ganhamos. Eu perdi meu emprego na Mercedes para garantir o 13º salário para todos os trabalhadores do Brasil. Valeu a pena? Valeu, lógico. Segunda questão: por isso nós temos a democracia que temos hoje. A democracia liberal do sistema capitalista é muito sacana, mas pelo menos ela dá liberdade. Imagina se naquela época nós tivéssemos a tecnologia que temos hoje!

Guerra Fria

Hoje tenho que utilizar toda essa experiência, toda essa história, para que não aconteça novamente. Mas é muito importante entender o que aconteceu naquela época. Nós fazíamos parte de uma conjuntura política internacional: guerra no Vietnã, os dois blocos, os dois modelos de sociedade.

A conjuntura política daquele momento era uma luta entre duas classes, entre dois sistemas de governo e dois sistemas de administração pública, e dentro de dois princípios de relações humanas, que era o bloco socialista e o bloco capitalista. Um dirigido pela União Soviética e o outro pelos Estados Unidos.

Quando se fala em bloco socialista os países do Leste europeu não eram comunistas e nem socialistas. Eles eram países ocupados pelo exército soviético. A mesma coisa os países ocupados pelos Estados Unidos. Por isso que deu o que deu. Os únicos países do Leste europeu que se libertaram do nazismo sem a participação do exército americano e do inglês, ou seja, dos chamados aliados da época, foram Albânia e Iugoslávia. A Iugoslávia era dominada pelos muçulmanos. Imagina um muçulmano comunista! (risos). É um negócio de doido. É o absurdo total porque os dois são extremamente radicais.

O Lula começou nas eleições de 1972

Carol – Como foi o surgimento do Lula?

Derly– O Lula começou a participar nas eleições de 1972. Na chapa 2. Foi a primeira chapa dele. Paulo Vidal é o grande ideólogo do Lula. Houve dois oportunismos: um dele, de entrar, e o outro do pessoal da esquerda que precisava de uma liderança. E foram deixando o Lula…

Dessa época, um pouquinho depois até, o Lula usava uma linguagem muito mais agressiva do que a minha. Só que se eu falasse era fuzilado no meio do caminho.

Para responder a sua pergunta vou contar um acontecimento daqueles meio doidos. Primeiro, nós tínhamos tanta certeza do que estávamos fazendo que nosso relacionamento com a repressão não era de provocação, era de respeito mútuo. Se o cara está com um trabuco na mão eu vou ficar fazendo gozação com ele? Não. A defesa é exatamente para resguardar. Resguardar e não provocar. Porque provocar vai levar a quê?

Quando saiu meu nome na lista em 1970 para ser libertado, por ocasião do sequestro do embaixador da Suíça, eu estava preso na Ilha das Flores. E tinham caído umas carteirinhas do Cenimar, que nós fazíamos. Eu viajava para o Rio de Janeiro como oficial do serviço secreto da marinha, concurso no Paraná etc. Quando eu chegava e me apresentava todo mundo batia continência. E nós usávamos tudo isso. Acontece que um companheiro no Rio de Janeiro, que era contato com a gráfica e que tinha feito as carteirinhas, passou para o pessoal do PCBR e um pessoal da ALN umas carteirinhas. Esses caras foram presos e o dedaram.

E ele foi colocado no pau pela polícia que queria saber onde estava… Como ele sabia que eu estava na lista do embaixador junto com outro companheiro, ele disse “eu entreguei para o Derly todas as carteirinhas”. Então todo mundo foi preso. O contato da gráfica disse que tinha feito por volta de 500 carteirinhas.

Aí de madrugada no DOPS eles me tiraram da cela, me colocaram num carro junto com outro companheiro, e nos levaram para o Rio de Janeiro. Chegando ao cais da marinha nos levaram para a sala de tortura e mandaram ver. Depois abriram uma janelinha e mostraram todo um bando do outro lado, estava nosso advogado e perguntaram “conhece?”. Eu respondi que não e também disse que não conhecia os outros companheiro.

Fui muito torturado para entregar Antonio. Mas Antonio era eu mesmo (risos). Tudo o que acontecia era o Antonio, tinha documentos e muitas outras coisas assinados por mim. Depois disso, saíram todos juntos. E disseram “este é o companheiro Luis etc., e este é o Derly, o Antonio da Ala Vermelha” – me entregou. Fiquei furioso, mas não podia fazer mais nada, o embaixador já estava para sair a qualquer momento. Foram os últimos momentos de negociação, perto do Natal.

Terminado tudo isso, como a CIA queria falar comigo, me levaram para a Ilha das Flores e me deixaram lá uns quinze dias. Vieram os agentes, nós conversamos. Tudo o que eles queriam saber já estava velho. Tiveram que colocar intérprete porque eu sempre me neguei a aprender inglês. Eu falava francês sem nenhum problema, italiano e espanhol. Eu disse a eles “se vocês falarem em qualquer uma das línguas que eu falo nós conversamos. Se não…”. Demoraram dois dias para arranjar um intérprete de confiança. Foi uma pessoa da embaixada.

Quando terminou toda a sessão o capitão Gadelha, chefe do serviço secreto no Cenimar, exatamente o homem das carteirinhas, virou para mim e disse “Muito bem, você confirma?”.

E eu: “O Celso entregou para mim todas as carteirinhas”.

E ele: “Ah, então, está bom”.

Depois dispensaram todo mundo. Quando todos foram embora, me colocou numa salinha com todos os aparelhos de tortura.

Eu disse: “Vocês vão me colocar nisso aí? Vocês não são doidos!”.

Ele virou para mim e falou “olha, eu quero saber onde estão as carteirinhas?”. Eu respondi “agora você me complicou. Vou dizer onde estão. Você vai a São Paulo, pega o delegado Sérgio Paranhos Fleury, coloca ele no pau-de-arara e explica para ele, porque o tráfico de drogas está usando”.

Porque ele dava cobertura para o tráfico.

E eu continuei: “O Fleury chegou em minha casa, estava tudo isso lá. A primeira coisa que ele colocou nas coisas dele foram as carteirinhas e agora é o grupo dele que está usando”.

Capitão Gadelha respondeu: “aquele desgraçado!”.

Respondi: “Pois é ele pegou tudo em minha casa. Roubou tudo o que tinha lá, inclusive dinheiro, roupas de meus filhos, da minha mulher. Eu declarei que ele tinha levado embora e agora confirmo novamente. Pede para ele explicar onde elas estão”.

O Gadelha ficou furioso. Ele tinha uma política, que sempre foi a política da CIA, de não torturar. Eles têm outras pessoas para fazer, mas não eles.

Depois ele respondeu “Tudo bem”. E saiu. Ficou aguardando porque tinha que me trazer com certa urgência para São Paulo. No dia de me levar, tinha concentrado muitas pessoas de outros estados que iam para São Paulo para ir para o Galeão e ir para o Chile, para ser trocados pelo Embaixador . Estávamos outro companheiro e eu, algemados, e na balsa da Ilha das Flores até o cais da marinha foram duas atrizes que estavam presas e também estavam sendo trocadas pelo embaixador.

Elas estavam apavoradas porque quando elas foram levadas para a Ilha das Flores foi acompanha-las apenas um guarda a paisana. Mas quando voltaram tinham umas quatro balsas, todo mundo com fuzil etc.

Ao chegar ao cais o Gadelha virou para mim e disse “Pois é, Derly, agora você tem que pegar o Celso julgá-lo e fuzilá-lo porque ele traiu vocês. E eu estava lendo o seu processo e tem lá aquele material da rádio no qual você fala que o poder político nasce da boca do fuzil”.

Respondi: “Bom, aquilo não é meu, não é uma frase minha, é uma citação de Mao Tsetung, com a qual concordo plenamente. E você agora acaba de me provar isso. De que lado está o poder? Olha como o poder nasce da boca do fuzil. Olha quantos fuzis tem aqui! Nós dois estamos sem fuzil. Estas duas meninas estão sem fuzil. Estamos algemados. Se o fuzil estivesse em nossas mãos vocês é que estavam presos”.

Aí ele virou para mim e falou uma coisa: “Derly, vou te dizer uma coisa que você sabe e que eu também sei. Você vai sair a qualquer momento. Agora vou te deixar em São Paulo e a qualquer momento você vai pegar um avião e vai para o Chile ou para o México. Eu sei e você sabe. Até aqui estamos como gato e rato. Ninguém fala, mas você sabe que vai sair. Eu também sei. Tem outra coisa que eu sei e que você também sabe. Dentro de uns dez anos vai sair uma anistia no Brasil e você vai voltar. E vai voltar para Diadema, continuar militando e fazendo política. Agora, tem uma coisa que eu sei, e vou te falar agora, mas você ainda não sabe. No Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo nunca mais você entra”.

E perguntei “Por quê? Depois da anistia vocês vão continuar a nos proibir de ir ao Sindicato?”.

Ele respondeu: “Não, você está doido. Depois da anistia alguns anos vão ser de democracia absoluta. Só que você não vai entrar no Sindicato”.

“Por quê?”, perguntei.

Ele disse: “Muito simples, porque de agora até lá nós vamos construir uma nova liderança política no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, com a tua linguagem e a nossa ideologia”.

Sabe quando voltei ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo desde aquela tempo, no início da década de 1960? No mês de setembro passado [2011], como delegado da Associação dos Anistiados em seu 7º Congresso.

Carol – Essa liderança que eles estavam criando foi o Lula?

Derly– Exatamente. Uma nova geração de Sindicalistas, Lula, Marinho etc.

Nós formamos a associação comunitária (…) e trabalhamos muito nela. Para você ter ideia, fazia parte da nossa associação Oscar Niemeyer porque ela trabalhava um pouco com o pessoal que veio de Brasília, grande parte do pessoal do partido na época. E trabalhamos com urbanização de favelas. E eles sabotaram tudo o que fizemos durante toda a década de 1980, até o começo da década de 1990. Tínhamos um relacionamento muito bom com o pessoal da oposição sindical de São Paulo, o pessoal da CUT pela base. Eu trabalhei dois anos no Sindicato dos Químicos de São Paulo.

Derly– Depois nós montamos a Anteag (Associação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Autogestão).

Carol – Que é onde você trabalha hoje?

Derly– A associação está fechada no momento. Depois que Marinho entrou como ministro do Trabalho nós nunca mais ganhamos um financiamento do BNDES.

E eles montaram a Unisol para fazer exatamente o que a Anteag fazia com o financiamento do BNDES. Nós fomos fundadores do Partido Verde, e eu fui candidato a vereador por duas vezes em Diadema. Sempre mantivemos bom relacionamento com o pessoal do PDT, o pessoal do Brizola. Quando Brizola estava no Rio de Janeiro, nós fizemos toda a assessoria para os pré-moldados.

O PDT foi fundado em Lisboa, no início da década de 1970. Foi naquela briga com Ivete Vargas: quem fica com PTB? Então, Brizola convidou muitas pessoas e nós fomos para lá e montamos o PDT. Depois, quando Brizola voltou, legalizou o PDT. Ele ganhou as eleições no Rio de Janeiro.

Era duro suportar o pessoal da ALN no presídio

Tudo o que veio depois da anistia, todo aquele pessoal que tinha um conceito de revolução socialista, todo mundo que teve origem no partido comunista foi sabotado por essas novas lideranças. Era duro de suportar o pessoal da ALN dentro do presídio Tiradentes.

Carol – Ah, é?

Derly– Era barra pesada.

Carol – Por quê?

Derly– Muito simples. Nós tínhamos dentro da cela 7 pouco mais de 50 pessoas: o pessoal da Ala Vermelha que era considerado extremamente perigoso e os padres que eram os mais perigosos do mundo – não sei para quem, acho que para eles mesmos (risos). E então quando eles chegaram lá nós estávamos preparando uma fuga. Estava tudo pronto. Era o pessoal da Ala e o da VPR.

Carol – Do Lamarca?

Derly– Exatamente. O presídio feminino ficava logo atrás, e o masculino do lado de cá. E nós fizemos uma política de boa vizinhança com o diretor do presídio. Com isso, nós tínhamos alto nível de cultura porque lá estavam jornalistas, médicos etc. Então, montamos um esquema para os médicos atenderem todos os companheiros. E com as companheiras do lado facilitava uma comunicação absoluta entre um lado e outro. E com os presos comuns que ficavam em outro pavilhão. Havia também dentistas e, então, também montamos um esquema de entendimento. Nesse momento, chegou a ALN.

Carol – Vocês atendiam os presos comuns?

Derly– Claro. Quando eles chegaram, a primeira coisa que eles disseram foi que nós estávamos colaborando com a repressão, colaborando com o inimigo. Como? Sabe o que eu ia fazer? Eu ia fazer a manutenção elétrica do presídio.

Poxa, era um pé na rua. Nós não tínhamos a mínima ideia de que iríamos sair em troca do embaixador. O pessoal da VPR, do Lamarca, é fantástico, e todo pessoal que veio do partido comunista. Quando esse pessoal [da ALN] chegou a primeira coisa que disseram foi “vocês estão colaborando com a ditadura. Onde já se viu médico atender lá dentro?”. Tinha um companheiro da VPR que era advogado e orientava os presos comuns nos processos. Sabe o que significava isso? Tudo o que é documento que precisávamos mandar para fora saía. E entrava tudo o que nós queríamos. Tudo na moleza. E quando eles chegaram, apertou. Eles começaram a se manifestar. Eles batiam nas paredes etc. E colocaram todo mundo, inclusive nós, na cela 7 na parte de cima. Era um salão imenso com mais de 50 pessoas e todos os padres. Nos domingos pela manhã, Frei Betto, Fernando, Caleghari e Frei Tito colocavam a batina, faziam um suco de uva, colocava as pessoas em fila e dava biscoito na boca de cada um fazendo que era hóstia, um copinho de suco de uva, que era o sangue de Jesus (eu estive com Frei Tito uma semana antes dele se suicidar na França. Eu estava indo para a China, passei por lá e o encontrei e ele estava mal. Uma semana depois ele se enforcou. Ele não conseguia entender essa coisa, era uma pessoa muito pura. Mas os outros eram barra pesada.).

E nós, que éramos comunistas, ficávamos pensando “como é que pode?”. O pior é que eles diziam que eram comunistas. Dos 50 e poucos por volta de 40 era tudo assim. E quando isso terminava, eles rezavam Pai Nosso, Ave Maria. Depois cantavam a Internacional. A Internacional comunista, olha a mistura! Eles rezavam o Pai Nosso e cantavam a Internacional logo em seguida. E depois cantavam o Hino Nacional e a Hino da Independência (“ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”). E então pegavam as panelas e as passavam nas grades e gritavam.

Eu perguntava para eles “para que isso?”. E eles respondiam “é para manter a ideologia de pé”.

Carol – Vocês já estavam com o esquema montado.

Derly– Poxa! E com isso, fecharam, trancaram tudo. A partir daí acabaram todas as nossas liberdades. E deram um jeito de transferir quase todo mundo para o Carandiru por causa disso.

Carol – Porque era mais fechado.

Derly– E aí fico pensando, o quanto é a inocência dos humanistas religiosos. É aquele negócio de dar a cara para bater. Eu sou muito mais Barrabás do que Jesus Cristo (risos).

70 presos pela vida do embaixador

Quando houve o sequestro do embaixador da Suíça, o pessoal enviou um documento afirmando que queria 70 presos pela liberdade do embaixador e que a resposta fosse dada por rádio. O que a junta militar fez? Ela respondeu que aceitava e que mandassem os nomes para que começassem as negociações. Todo mundo ficou eufórico. Eu disse “cala boca, rapaz. Eles vão negociar os nomes. Eles não vão negociar a libertação dos 70 presos políticos”. Foi dito e feito. Mandaram a primeira lista e saiu um decreto que dizia: “todos os que tiverem processo com condenação a prisão perpétua ou pena de morte não vão ser libertados; todos os que tiverem participado de ações em que houve mortes de policiais não serão libertados”. A metade que estava lá ficava de fora. Dos 70, pouco mais de 30 não iam sair. Com o meu nome ninguém mexeu porque eu não estava enquadrado em nada disso. Mas isso não saiu a público e nós tínhamos muito cuidado lá dentro para não serem pegas as informações que nós tínhamos. Por exemplo, na Ala nós tínhamos a lista dos que foram, e que estavam todos lá dentro.

Eles tiraram todo mundo da cela, encheram um ônibus, com um helicóptero acompanhando, todo aquele aparato, e nos levaram para o DOPS para fichar. Todo mundo tirou fotografia pelado etc. para documentação. Na equipe de Sergio Paranhos Fleury tinha um que se chamava Brasileiro, um lutador de Box de São Paulo, que era muito provocador. E ele nos respeitava muito, nós da Ala, porque não provocávamos, mas íamos para a luta. Por exemplo, quando chegamos lá e me mandaram tirar a roupa eu já quase arranquei o nariz dele fora e ele me derrubou na hora. E ele não fazia nenhuma provocação. Então ele pegou virou para Paulo de Tarso Venceslau e disse “e aí, Paulinho, quer dizer que você vai sair agora, vai ser libertado, vai viajar à custa do governo brasileiro, passeando por Paris, Chile e por aí afora. E vai voltar depois para cá para fazer a revolução?”. Paulo respondeu “lógico que vou voltar para fazer a revolução”. Ele disse “ah, você vai voltar para fazer a revolução?”. Paulo disse “vou. Todos os companheiros que são realmente revolucionários vão voltar para fazer a revolução”. Ele perguntou “e o que você vai fazer com a gente?”. Paulo respondeu “vou fazer a revolução e amanhã você vai estar aqui no meu lugar e eu vou estar no seu lugar, e nós vamos fuzilar todos vocês”. Ai o Brasileiro virou para ele e disse “e se você não sair, como é que fica? Se você tiver que ficar aqui ainda uns 10 anos junto com a gente?”. Paulo ficou branco, branco. Ele tinha saído da lista. Ele passou para a lista dos que não iam ser soltos. E não saiu.

Carol – Na lista dos que estavam vetados.

Derly– Ele ficou desmoralizado.

Carol – Voltaram todos com a anistia.

As lideranças criadas em 1979 vieram depois

Derly– Voltou todo mundo com a anistia. Alguns que não estavam muito complicados voltaram até antes. E esse pessoal virou ministro, secretário etc. nas prefeituras. Eu participei de toda a eleição de 1982, que foi a primeira do PT. E não fui convidado nenhuma vez para ser secretário de nada. Não fui.

Carol – Isso foi logo que fundou o PT.

Derly– Mas Paulo de Tarso foi. Um que trabalhava na Mercedes, que foi  cabo eleitoral de Maluf, foi secretário.

Carol – Paulo de Tarso?

Derly– Não. Outra pessoa. Paulo de Tarso foi cuidar das finanças. Mas o outro foi cuidar da parte política da prefeitura.

Aquelas lideranças que foram criadas em 1979, 1980, naquelas greves, foi num entusiasmo daquele momento. Elas não fizeram parte de todo aquele processo da fundação do Sindicato dos Metalúrgicos de   1962 até 1980. Vieram depois. Tanto que Lula está aí.

Carol – Eles não tinham nada a ver com o processo?

Derly– Nada a ver com o modelo de sociedade que defendia a resistência a Ditadura, nada disso que está aí. Eles entraram naquele processo. Eles fizeram parte daquilo que Gadelha disse. Que eles a ditadura iam começar o processo da chamada democratização do Brasil. Porque se eles continuassem com aquela repressão nós tínhamos tomado o poder. É simples assim.

Carol – É um processo que veio de dentro do sistema?

Derly– De dentro do sistema. E quando eles montaram a operação Condor na América Latina tinham como objetivo a eliminação das lideranças de Chile, Argentina, Uruguai, Bolívia, Colômbia, Venezuela e Brasil. E fizeram isso com o sistema de infiltração.

Esse é o Alberi. Podem arranjar outros maridos porque aqueles se foram

Do cabo Anselmo nós sabíamos. Nós do partido comunista não tínhamos desconfiança, nós tínhamos certeza de que o cabo Anselmo quando foi para o sindicato… Eu estava no sindicato dos metalúrgicos do Rio no dia da assembleia [que decidiu pela greve e pela ocupação do sindicato dos metalúrgicos do Rio de Janeiro pelos marinheiros].

Carol – Em 1964?

Derly– Em 1964 antes do golpe.

Carol – E ele já estava infiltrado?

Derly– Ele era provocador, só fazia provocação. Ele já era infiltrado, era G2.

Carol – Ele queria fazer confusão mesmo?

Derly– Acho que o objetivo era esse. O que é que deu? Todos que acreditaram nele morreram. Quando meus irmãos desapareceram em Buenos Aires, na Argentina… Porque depois fomos para o Chile, onde fiquei durante três anos, em três anos de governo Allende, trabalhando em recuperação de empresas falidas e montando o sistema de abastecimento. Depois aconteceu o golpe no Chile. Não dava para resistir porque estávamos preparando essas coisas, e aconteceu o mesmo que aqui no Brasil em 1964: o partido comunista de lá teve mais uma responsabilidade nisso. Principalmente quando colocaram Pinochet como chefe das forças armadas. Quando nós fomos para a Argentina estava Lopes Rega, ministro, e eu tinha um bom relacionamento com os motorneiros, o pessoal da Isabelita. Isso desde o Chile porque eu militava no partido socialista e no Mir (movimento de esquerda revolucionaria), movimento de esquerda revolucionária, que era uma organização de esquerda dentro… Como foi o PT aqui no começo, que continha organizações de esquerda e que depois foi pondo para fora até ficar a direitona.

Eu me relacionava bem com esse pessoal em Buenos Aires. E meus irmãos Daniel e Joel, e mais um grupo de companheiros que tinham sido da VPR, quando chegamos lá, estavam com todo um relacionamento no Brasil. Alguns iam para o Rio Grande do Sul, voltavam e tal. Eles queriam montar alguma coisa no Sul do Brasil. Então, o Onofre, da VPR, da turma dos militares, mais Daniel – cuja companheira era uma chilena do partido socialista – se reuniam na casa de Daniel.

Carol – Daniel é seu irmão?

Derly– Sim, meu irmão.

Então, Onofre e Daniel me disseram “nós vamos fazer uma viagem e voltamos em uma semana. E se nossas companheiras precisarem de alguma coisa você dá uma cobertura”. Nós tínhamos nosso comitê de exilados, do qual participavam muitas pessoas.

Na semana seguinte, eles não voltaram, eles não apareceram. As mulheres deles – minha cunhada e a mulher do Onofre – nos procuraram apavoradas. Elas disseram “eles não se comunicaram com a gente. Eles tinham dito que ligariam dois dias depois. Você tem como saber o que aconteceu?”.

Eu estava desconfiado, e pensei “esses caras estão metidos com o cabo Anselmo”. Porque todo mundo que voltou para o Brasil nessa época foi via cabo Anselmo. Ele tinha muito a confiança de Zé Dirceu e o pessoal que estava em Cuba, que mandava o pessoal para cá.

E então peguei um monte de fotografia e perguntei “Eles se reuniam aqui?”. Elas falaram “sim”.

Perguntei “E vocês sabem quem era o contato deles no Brasil?”.

Elas responderam “Um jornalista”.

E eu “Ah, um jornalista? Vocês conhecem o jornalista?”.

Elas “Nunca ouvimos falar”.

E eu “Depois que eles foram, o jornalista voltou a falar com vocês?”.

E elas “Não”.

Eu: “E o jornalista que se reunia aqui era o contato deles no Brasil?”.

Elas “Sim”.

“Ah, tá legal”, respondi.

No dia seguinte, como eu tinha foto de todo mundo, peguei várias fotos e, entre elas, uma do cabo Anselmo e uma do sargento Alberi, que era da turma do Jeferson Cardim – que também sabíamos que era infiltrado, era G2 desde a época do Brizola quando fez a marcha em 1964.

Coloquei as todas fotos em cima da mesa e perguntei “qual desses caras aí é o jornalista?”.

Ela foi direto “Este aqui”.

Respondi “Ah, legal”.

Carol – Era o cabo Anselmo?

Derly– Não, era o sargento Alberi.

Então eu falei “Esse cara aí é o sargento Alberi. Podem arranjar outros maridos porque aqueles se foram”. Foi um choque. E disse “nunca mais vocês vão ter notícias deles. Esse cara faz parte da operação Condor”.

Carol – E dito e feito. Vocês nunca souberam o que aconteceu?

Derly– Nunca mais. Eles foram levados para Medianeira. Pomar, que era o companheiro do grupo, eu consegui convencer na época a… A mulher dele era de Foz do Iguaçu, inclusive ele escreveu um livro que faz parte agora da Comissão da Memória. Ele conseguiu descobrir onde eles foram assassinados. Isso está na internet. Está inclusive em minha página do Facebook. Ele conseguiu uma testemunha. Um cara que estava lá junto e que conta tudo, que Alberi foi junto etc. Ele os levou até lá. Foi uma emboscada, lá em Foz do Iguaçu, num sítio.

Achei estranho, logo em 1982 quando cheguei de volta, que entre meus documentos apareceu um informe do Paraná que falava sobre mim e que estavam sendo procurados Joel José se Carvalho e Daniel José de Carvalho, que deviam estar naquela região. E eles tinham desconfiança de que eu também pudesse estar lá.

 Cinco gerações de cérebro lavado

Então, aí entra a questão das comissões. A meu ver, todo esse pessoal que participou desse processo. O pessoal da Comissão da Verdade e todos os outros são muito bem intencionados, mas não têm poder de fato para resolver o problema. Votei no Lula porque era o que tinha de melhor, porque votar no [José] Serra não dava. Eu tirava 10% do meu pagamento para pagar o quarto onde estava o Serra no Chile, que era um apartamentozinho que usávamos para fazer nosso jornal da associação dos exilados. E o Serra morava junto conosco porque não tinha onde ficar, junto com o Silvio Farias da AP, da turma do Betinho [Herbert José de Sousa]. O Serra é complicado por causa da tradição, das origens etc. Agora Lula não oferece nenhum perigo, porque ele não faz parte da sociedade civil organizada. É da fantasia. As pessoas votam no Lula como votam no Tiririca. Aquele PT da década de 1980 não existe mais. O PT terceirizou tudo. É por isso que está entrando em tudo o que é dessa enxovalhada de sacanagens que existem. Eu fiquei os quatro anos do mandato de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul trabalhando na organização do cooperativismo no Rio Grande do Sul . E trabalhei com Dilma durante muito tempo lá. Quando ela estava presa, eu estava numa cela e ela em outra. Meu nome está escrito de um lado de uma parede do DOPS e o dela na do outro lado. Depois, só fui encontrar a Dilma no Rio Grande do Sul já quando ela era secretária de ciência e tecnologia. Como meu trabalho era exatamente a modernização das cooperativas e das empresas falidas, então, nós discutíamos muito. A composição do governo Dilma é um pouco melhor – para a época atual e não para aquela época dos velhos tempos – do que a equipe de Lula.

Porque o que acontece? O grupo dos 113, dos metalúrgicos de São Bernardo, cresceu com a permissão da ditadura durante alguns anos e dominou durante muito tempo. As outras organizações de esquerda não avançaram. O próprio PDT, depois da morte de Brizola, teve os seus problemas. O PCdoB se decompôs completamente. O PCB já estava descomposto desde o golpe de 1964. E a esquerda não conseguiu montar um partido de fato revolucionário, um partido que de fato ganhasse a população.

E esse sistema dessa democracia liberal eliminou esses princípios. Agora temos essa violência. Esta juventude está completamente perdida. A situação é muito complicada. A situação hoje no Brasil é bem mais degradante do que era em 1964 antes do golpe. Hoje está bem pior.

Carol – Ah, sim. As pessoas eram mais engajadas.

Derly– Exatamente. Depois, temos um problema. Um país que vive uma ditadura militar por 25 anos perde cinco gerações. São cinco gerações de cérebro lavado. A evolução da tecnologia, principalmente esses aparelhinhos que estão por aí. Meu neto tem cinco anos e consegue mexer nisso melhor do que eu. Isso não é problema, adoro tecnologia. Sempre lutei pela tecnologia. Não é a tecnologia que tira empregos. O que tira emprego é a distribuição da mais-valia.

E aí o que acontece? PT, PCdoB, PV – que no começo era considerado partido melancia, vermelho por dentro e verde por fora, agora está podre por dentro e verde por fora (risos)… Eu fui presidente do PV em Diadema, na época em que ele era vermelho por dentro. Dizem que antes de apodrecer fica vermelho. Então, todos esses partidos tiveram uma mudança muito grande. De qualquer maneira, tem uma nova geração que está…

Tem uma nova geração que está surgindo aí que está mudando muito. Por exemplo, a nova diretoria do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo mudou muito. Eles montaram um departamento de recuperação da memória histórica. Um dos primeiros que foram dar depoimento foram dois companheiros da minha diretoria e eu.

Quando tomei contato com o sindicato dos metalúrgicos, com a associação dos metalúrgicos de São Bernardo, qual era a conjuntura internacional e qual a interna? Como era a situação? Quando fui trabalhar na Mercedes eu era torneiro ferramenteiro. Eu não tinha dinheiro para comprar nem uma bicicleta, morava num quarto e cozinha com minha mulher e meus três filhos. Hoje meu filho, que é deficiente visual , trabalha na Mercedes e tem carro, tem casa, tem tudo. Então, houve mudanças radicais do ponto de vista econômico.

Toda essa diretoria, toda essa política do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, depois da nossa de 1964, é economicista. E ela se manteve até agora nessa política economicista. Com o pessoal do sindicato dos metalúrgicos de Campinas nós tínhamos uma amizade muito grande. Todo mundo lá tem outra cabeça. O pessoal do sindicato dos metalúrgicos de Porto Alegre é outra cabeça. Mas o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo éra a pior que eu conheço no Brasil.

É pior do que o de São Paulo. Eles faziam a mesma coisa que fazem os de São Paulo, e têm uma estrelinha vermelha. Está mudando.

Melhorou a situação da classe trabalhadora? Lógico que melhorou. Quer dizer, é muito mais humano o relacionamento. E tem leis que nós criamos naquela época. Nós criamos as condições para isso. Mas nesse entremeio, há uma quantidade de gerações que tiveram problemas filosóficos muito grandes. E isso baixou também o nível das relações humanas – por exemplo, a violência, principalmente da juventude. (Entrevista gravada em 2012).

 

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  • jorge

    Ao velho e inesquecível companheiro de lutas Derly que resistiu a todas as adversidades, eternamente no coração de todos os que combateram ao seu lado, um forte abraço de seu companheiro QUEIRÓS

QUENTINHAS