PUBLICADO EM 09 de jul de 2019
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Nove de Julho, uma data para lembrar o movimento operário de São Paulo

O Dia da Luta Operária, conforme a Lei municipal 16.634, de 2017, celebrando a Greve Geral de 1917, pretende consolidar-se como uma data para homenagear os trabalhadores.

João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário geral da Força Sindical, fala no evento.

O cenário era o antigo Moinho Matarazzo, inaugurado em 1900 no bairro do Brás, região central paulistana conhecida pela intensa atividade fabril na primeira metade do século passado – e por movimentos trabalhistas. Dois personagens daquele período foram homenageados nesta terça-feira (9), Dia da Luta Operária, conforme a Lei municipal 16.634, de 2017, que se pretende consolidar no calendário da cidade, ao celebrar a greve geral de 1917, em uma espécie de contraponto à data oficial, que lembra os constitucionalistas de 1932.

Evento foi no antigo Moinho Matarazzo

Na terceira edição, as homenagens foram à tecelã Eunice Longo, 91 anos, primeira mulher eleita diretora do Sindicato dos Têxteis de São Paulo, e ao líder ferroviário Raphael Martinelli, que completará 95 anos em outubro e é um dos dois remanescentes do Comando Geral do Trabalhadores (CGT), formado em 1962 e dissolvido após o golpe de 1964 – o outro é Clodismidt Riani, que mora em Juiz de Fora. Em 30 de maio, morreu o comandante Paulo Mello Bastos, que também integrou a direção do CGT.   Ambos foram lembrados por Martinelli em sua fala.

Martinelli e Eunice receberam o troféu José Martinez, referência ao jovem sapateiro e militante anarquista morto pela Força Pública na greve de 1917. O troféu foi concebido pelo artista plástico Enio Squeff e pelo fundidor Luciano Mendes. Também foi lembrado o ex-metalúrgico Lúcio Bellentani, que morreu em 19 de junho. Ele liderava uma associação de ex-funcionários da Volkswagen perseguidos durante a ditadura. O próprio Bellentani foi preso dentro da fábrica de São Bernardo por agentes da repressão, com cumplicidade da segurança da empresa, em 1972.

O vereador Donato, entrega os troféus para Eunice Longo

O vereador Donato, entrega o troféu Raphael Martinelli.

Preservação da memória

O evento lotou um antigo galpão da fábrica, construída com maquinário inglês, que encerrou as atividades nos anos 1970 e foi tombada em 1992. Recebe eventos esporadicamente. O autor do projeto que se tornou lei, vereador Antonio Donato (PT), lembra que a iniciativa surgiu justamente a partir de uma reflexão sobre como celebrar a greve deflagrada em 1917, que parou a cidade. “Desejo que esse 9 de Julho seja plenamente assumido por todas as centrais.” Além das 10 centrais, entidades ligadas à pesquisa e à preservação da memória, como o Centro de Memória Sindical, o Cedem e o Memorial da Resistência, apoiaram o ato . Homenageado em 2018 e autor de livros sobre o 1º de Maio e a greve geral, o historiador José Luiz del Roio afirmou que o evento preserva a memória do movimento operário, em uma data dedicada à “oligarquia escravista de 32”, como definiu. “Se a gente não ganha o passado, nós não conquistamos o futuro”, acrescentou.

Ele propôs a entrega de um prêmio especial em 2020 ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também foi diversas vezes lembrado durante as duas horas de ato político. Trompetistas executaram três músicas: a Internacional Socialista, Bella Ciao, hino antifascista italiano, e o Lula lá.

O que vamos contar?

Dirigente da CUT de São Paulo, João Batista Gomes, o Joãozinho, afirmou que a data precisa ser “abraçada” por todas as centrais e se torna ainda mais importante em um momento de “brutal” ataque aos direitos dos trabalhadores, mostrando ao pessoal que está na ativa hoje como tudo foi conquistado. “Temos que assumir essa data. O movimento sindical precisa ter a certeza de que tem gente que continua lutando. É Lula livre, não à reforma da Previdência e não sair das ruas.”

O presidente da CTB, Adilson Araújo, disse que o 9 de Julho “é um dia nosso, da luta operária, do povo brasileiro”, referindo-se à prisão de Lula como “política” e condição para implementação de “uma agenda ultraliberal” no país. “O Brasil caminha para o fundo do poço, não há perspectiva de retomada. (Foi) uma opção por liquidar o Brasil em vez de um projeto de nação.” Pela Força Sindical, a diretora Maria Euzilene Nogueira, a Leninha, reforçou: “A história dos trabalhadores somos nós que temos de escrever”.

“Todas essas questões de que falamos hoje não constavam dos livros de História”, observou o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, um dos responsáveis pelo Centro de Memória Sindical. E o ex-deputado Adriano Diogo, que coordenou a Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, destacou a recente condenação, na Itália, de 24 envolvidos na Operação Condor, união de ditaduras sul-americanas para perseguir militantes de esquerda nos anos 1970. Nenhum dos condenados era brasileiro, lembrou. “A concepção da Operação Condor aconteceu no Brasil. Os militares brasileiros não foram julgados em nenhum momento (pelos crimes cometidos durante a ditadura). Mas nossos companheiros estão vivos na luta e na resistência.”

Eunice destacou os vários movimentos em que atuou, não só trabalhistas, como em defesa da Petrobras e pela paz. “Participei bastante, não me arrependo de nada do que fiz.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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