PUBLICADO EM 28 de fev de 2021
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Médicos e professores de Medicina pedem lockdown (fechamento total imediato)

“Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora. Com suas mutações de escape, é possível que o vírus se antecipe à vacinação.”

“…vivemos uma epidemia de cegueira que ultrapassa as previsões de Saramago.”

“E assim acaba o mundo. Não com uma explosão, mas com um gemido”, concluía T. S. Eliot em “The Hollow Men”.

Confira o Manifesto na íntegra:

Uma pandemia não é menos destrutiva que uma guerra. Pode, no entanto, ser desqualificada, total ou parcialmente.

Sejamos claros: em nenhum momento a Covid-19 assolou o Brasil como agora. Crescem as internações e mortes. Disseminam-se variantes virais, provavelmente mais transmissíveis e talvez causando doença mais grave. Pior: é possível que essas variantes escapem à imunidade conferida pelas vacinas.

Que essa não é uma situação sem esperança demonstram os exemplos da Nova Zelândia, Alemanha e Espanha. E o movimento coerente (ainda que tardio) do município de Araraquara (273 km de SP). Porém, vivemos uma epidemia de cegueira que ultrapassa as previsões de Saramago. O pacto coletivo de autoengano consistia em negar o que ocorre na Europa. Agora se estende a ignorar o colapso da cidade vizinha.

Como entender que Araraquara e Jaú estejam em lockdown enquanto Bauru, a 55 km da última, faz passeatas pelo direito à aglomeração?

Sem dúvida esse é um caso para análise em antropologia e ciências do comportamento. Não que se menosprezem os danos econômicos, sociais e psicológicos do distanciamento. Mas, na emergência da saúde pública, o valor intrínseco da vida deve ser reforçado. Não sabemos tudo, mas já acumulamos fortes evidências.

As “medidas não farmacêuticas”, incluindo distanciamento social por fechamento de comércio, inibição de aglomerações e uso rigoroso de máscaras são o único (amargo) caminho para interromper a progressão da Covid-19.

Não conseguiremos vacinar a tempo. É possível que o vírus se antecipe à vacina, com suas mutações de escape. A transmissão do coronavírus gera oportunidades para surgimento de variantes. É urgente, pois, interrompê-la. Mas, se continuarmos a pensar que Araraquara e Jaú são longínquas ilhas do Pacífico, marcharemos rapidamente para o colapso da saúde. Não no estado de São Paulo, mas no país.

Passamos pela fase da ilusão de “enterros falsos”. Muitos de nós já tiveram vítimas fatais na família. Também já estão soterradas as pílulas milagrosas —cloroquina, ivermectina e nitazoxanida. Os antivirais com resultados promissores são novos, caros, inacessíveis.

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), já menciona a dificuldade em conseguir oxigênio . O caos está aqui, está em todo lugar.

Pesa sobre nós uma escolha. De um lado temos o darwinismo social, em que aceitaremos a morte de centenas de milhares como uma pequena inconveniência suportada em nome da economia. Do outro, a chance de aprender com as lições positivas e negativas de outros países. Como bom exemplo, temos a Nova Zelândia. No extremo oposto, os Estados Unidos.

Ainda há tempo para deixarmos de bater continência a réplicas da Estátua da Liberdade e reconhecermos que Donald Trump levou seu país ao fundo do poço da saúde pública.

Não será o fim do mundo, mas já é uma catástrofe sem precedentes. Silenciosa, exceto pelos ruídos de ambulâncias e ventiladores mecânicos, quando existem. Ou pelos gemidos daqueles a quem falta o ar. Uma agonia tão intensa e destrutiva quanto bombardeios.

Manipular politicamente o boicote às medidas óbvias de contenção da Covid-19 foi a receita para o caos, tanto nos Estados Unidos quanto no Amazonas. Não é muito desejar que aprendamos com nossos erros. “O que a vida quer da gente”, diria Guimarães Rosa, “é coragem”.

Assinam

Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza
Infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp)
Luís Fernando Aranha Camargo
Professor de infectologia da Unifesp
Dimas Tadeu Covas
Diretor do Instituto Butantan
Marcos Boulos
Professor titular aposentado da Faculdade de Medicina da USP (FM-USP)
Rodrigo Nogueira Angerami
Infectologista (Unicamp)
Benedito Antônio Lopes da Fonseca
Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP)
Eduardo Massad
Professor da FGV-RJ e da USP
Francisco Coutinho
Professor do Departamento de Patologia da FM-USP
Gonzalo Vecina
Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP”

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  • Maria Aparecida Ribeiro

    Que momento perigoso onde o chefe da nação zomba , desafia a ciência , desafia e incentiva o não uso de máscaras ( não usando ) , um presidente negacionista ! Até qdo vamos assistir a tudo isso ?

  • Cidinha

    Só um louco e sem noção, não percebe que ja passou da hora de instalar o lockdown, sem medidas mais enérgicas o corona não vai embora mesmo. Teria que parar tudo, por pelo menos 30 dias no mínimo.

  • Sonia Montenegro

    Excelente análise
    Concordo que o lockdown é, no momento a saída mais adequada

  • Está

    Gostei muito do texto. Representa minhas ideias. É um retrato do que estamos vivendo à quase um ano no Brasil. É um alerta para a população, mesmo pata aquela cega. Precisa ser amplamente divulgado e ser nosso foco de luta. Luta pela sobrevivência da raça humana.

  • Maria Aparecidam

    Devia todos tomar a vascina liberar a parte de faixetaria, crianças professores para todas idades nas cidades nos temos se prevenir mais rápido possível ser for por idade vai demorar muita gente vai pegar o vírus o governo têm liberar estamos todos desesperados ,aí começa todos com segunda dose.

  • Rita de Cassia Vianna Gava

    Se esse governo acreditasse na ciência não estaríamos nessa situação

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