PUBLICADO EM 23 de out de 2018
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Mais americanos apoiaram Hitler do que você pode imaginar

Nesses dias, e especialmente desde o comício mortal em Charlottesville (a manifestação “Unir a direita” realizada por desupremacistas brancos, nacionalistas brancos, neo-confederados, neonazistas e milícias estadunidenses em agosto de 2017), se tornou claro para muitos americanos que o espectro do Nazismo em seu país não está resignado a história dos anos 1930. Mas até muito recentemente, essa parte da história foi menos conhecida do que é hoje.

Os membros do partido nazista americano marcharam carregando bandeiras nazistas e americanas em 1937.

De fato, quando Bradley W. Hart primeiro começou a pesquisar a história da simpatia pelo Nazismo nos Estados Unidos, poucos anos atrás, ele foi largamente dirigido pela falta de atenção no tópico. O novo livro de Hart “Hitler’s American Friends: The Third Reich’s Supporters in the United States” (Nota: os amigos americanos de Hitler: os apoiadores do Terceiro Reich nos Estados Unidos) argumenta que a ameaça do nazismo nos Estados Unidos antes da Segunda Guerra Mundial foi maior do que nós geralmente lembramos hoje, e que essas forças oferecem valorosas lições décadas mais tarde – e não apenas porque parte da história da ideia de “América Primeiro”, nascida no isolacionismo pré-Segunda Guerra Mundial, e depois renascida como slogan para o agora Presidente Donald Trump.

“Há certamente um choque cru e visceral em ver suásticas exibidas nas ruas americanas”, Hart disse à TIME. “Mas esse é um tópico no qual eu venho trabalhando há um tempo a esse ponto, e enquanto não era algo que eu esperasse, foi uma tendência que eu observei. Eu não fiquei terrivelmente chocado, mas ainda há uma reação visceral quando você vê esse tipo de simbolismo exibido no século XXI”.

Hart, que chegou ao tópico via pesquisa em movimentos eugênicos e a história da simpatia ao Nazismo na Grã-Bretanha, disse que ele percebeu cedo que havia muito mais no lado americano da história, do que a maioria dos livros didáticos reconheciam. Alguns dos grandes nomes podem ser mencionados brevemente – o padre de rádio Padre Charles Coughlin, ou a altamente pública organização Associação Política Alemã Americana – mas, em geral, ele disse, a narrativa americana dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial eclodiu o papel daqueles que apoiaram o lado errado. E ainda, estudantes de intercâmbio americanos foram para a Alemanha e voltaram com comentários brilhantes, enquanto ninguém menos que Charles Lindbergh denunciou judeus de empurrar os Estados Unidos para uma guerra desnecessária. Em suas várias expressões, a postura pró-Nazismo durante aqueles anos foi principalmente focada não em criar uma aliança militar ativa com a Alemanha, ou trazer os Estados Unidos sob o controle Nazista (algo que o próprio Hitler pensava que não seria possível), mas sim manter os Estados Unidos fora da guerra na Europa.

Então porque esse passado foi esquecido por tanto tempo?

Em parte, Hart teorizou, é porque a história americana da Segunda Guerra Mundial é tem narrativa nacional poderosa. Os Estados Unidos, essa narrativa diz, ajudou a salvar o mundo. Embalado por Pearl Harbor, os americanos reforçaram para virar a maré para os Aliados, e, portanto, solidificaram o lugar de sua nação como uma superpotência global. Nesta narrativa não há muito espaço para o relativamente pequeno, mas significativo, número de americanos que estavam torcendo para o outro lado.

“Sempre foi desconfortável nesse país falar sobre isolacionismo, embora as ideias ainda estejam lá fora”, ele disse, “É parte da mitologia americana. Nós queremos lembrar de nós mesmos como sempre tendo estado do lado certo nessa guerra”.

Também foi possível para aqueles que haviam participado de grupos simpáticos ao Nazismo mais tarde encobrir suas ideias no impulso anticomunista da Guerra Fria – uma dinâmica que tinha de fato dirigido alguns deles para o fascismo em primeiro lugar, como parecia “mais duro ao comunismo do que a democracia é”, como Hart colocou. (Uma pesquisa que ele cita descobriu em 1938, mais americanos pensavam que comunismo era pior do que o fascismo, do que vice-versa). Tais pessoas poderiam verdadeiramente insistir que eles sempre foram anticomunistas, sem revelar que eles foram fascistas, e seus companheiros americanos estavam ainda tão preocupados com o comunismo que eles poderiam não pressionar o assunto.

“Nós ainda não sabemos totalmente o escopo disso”, ele adicionou, notando que alguns importantes documentos ainda são secretos.

Muitas das batidas da história têm modernas contrapartidas. Por exemplo, a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros, que enredou Paul Manafort, foi um produto daquele tempo. O livro de Hart também cobre controvérsia sobre se aqueles com visões política extremas deveriam ser permitidos de falar em campus de faculdades, um debate que ainda desperta raiva nos dias de hoje.

O paralelo mais interessante para o próprio Hart é entre o tipo de desinformação nas campanhas nas mídias sociais que surgiram nas eleições americanas de 2016 (que elegeu Donald Trump), e o uso da propaganda por agentes Nazistas nos Estados Unidos. Em um incidente notável um agente alemão e um assessor parlamentar simpático foram capazes de tirar proveito dos privilégios de franquia – serviços de envio gratuitos disponíveis para comunicação do Congresso com eleitores – para distribuir uma enorme quantidade de propaganda de aparência oficial. Em ambos os casos, o objetivo maior dos envolvidos era simplesmente criar uma situação em que americanos não tivessem certeza no que acreditar. A ideia principal, ele disse, é que o efeito de notícias não confiáveis pode ser mais importante do que o verdadeiro conteúdo dessas histórias.

“Eles não estavam tentando empurrar os Estados Unidos para uma aliança com a Alemanha Nazista. Eles veem isso como afastado, embora eles teriam adorado. O que eles queriam fazer é confundir a opinião pública americana. Isso é o que nós estamos vendo voltar na era da mídia social”, explicou. “Confusão significa que não há vontade pública para fazer qualquer coisa, e numa democracia nós confiamos na vontade pública para tomar atitudes”.

Mas talvez a maior razão porque é possível para os Estados Unidos ter esquecido essa história é que seu pior potencial – um político simpático chegando aos mais altos níveis de poder numa plataforma isolacionista – nunca foi realizado.

“A real ameaça aqui, que os Estados Unidos tiveram sorte de evitar foi uma figura como Charles Lindbergh conseguindo trazer todos esses grupos juntos em tempo para uma eleição”, disse Hart. “O timing nunca realmente funcionou para isso, felizmente”.

Os verdadeiros heróis dessa história, como Hart vê, são os partidos políticos americanos, e os políticos do establishment, que mantiveram os isolacionistas extremos fora das cédulas. Hoje esse papel cabe à todo americano.

“A responsabilidade passou das elites dos partidos para os eleitores primários”, disse Hart. “É algo que qualquer pessoa que vota em uma eleição primária deve pensar: essa pessoa em que estou votando é realmente a pessoa certa não apenas para o partido, mas para o país?”.

Fonte: Adaptado do artigo de Lily Rothman para time.com

Traduzido por Luciana Cristina Ruy

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