PUBLICADO EM 11 de mar de 2019
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Bolsonaro repercute notícia falsa contra Estadão e expõe jornalista

O presidente Jair Bolsonaro atacou a imprensa valendo-se de informações falsas divulgadas ontem (10) pelo site Terça Livre, que reúne colunistas apoiadores do governo.

REUTERS/Adriano Machado

No Twitter, Bolsonaro endossou a tese levantada pelo site Terça Livre, que falsamente atribuiu a uma jornalista do jornal O Estado de São Paulo, a declaração de que teria “intenção” de “arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”.

A suposta declaração, que aparece entre aspas no título do texto do Terça Livre, foi atribuída pelo site à repórter Constança Rezende. A frase teria sido dita, segundo “denúncia” de um jornalista francês citado pelo Terça Livre, em uma conversa gravada em que a repórter fala da cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

A gravação do diálogo, porém, mostra que Constança em nenhum momento fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só trechos selecionados foram divulgados. Em um deles, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.

Allan Santos, editor do Terça Livre, no entanto, expôs a conversa como evidência de suposta irregularidade.

Estimulados pelas informações, grupos governistas promoveram no Twitter uma série de postagens nas quais acusaram o Estadão de “mentir” na cobertura do caso Flávio Bolsonaro. Às 20h51min do dia 10/03, o próprio presidente publicou o seguinte texto no Twitter: “Constança Rezende, do ‘O Estado de SP’ diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do O Globo. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos.”

A postagem de Bolsonaro foi ilustrada com um vídeo do Terça Livre, que expôs a foto de Constança Rezende e o áudio de um trecho da conversa gravada. A gravação foi divulgada primeiro por um site francês, em um texto de Jawad Rhalib, que se apresenta como jornalista. Rhalib também expõe a tese de que a gravação seria prova de que a imprensa distorce fatos para comprometer Bolsonaro.

Constança não deu entrevista ao jornalista francês nem dialogou com ele. Suas frases foram retiradas de uma conversa que ela teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como Alex MacAllister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

O Terça Livre, com base na “denúncia” de Jawad Rhalib, também falsamente atribuiu à repórter a publicação da primeira reportagem sobre as investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a respeito da movimentação de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz. O autor da primeira reportagem foi Fabio Serapião, do mesmo jornal.

“Desde que Constança iniciou a temporada de caça aos Bolsonaro no Estadão, emissoras como a Rede Globo e jornais como Folha de São Paulo seguiram o mesmo caminho”, diz o texto do site. “Uma enxurrada de acusações em horário nobre, capas de revistas e nas primeiras páginas de jornais colocaram a integridade moral do filho do presidente em xeque.”

As informações publicadas pelo jornal se baseiam em fatos e documentos oficiais. O Ministério Público apura se Fabrício Queiroz recebeu indevidamente depósitos de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Jornalista que assina o texto com informações falsas, trabalha para o PSL 

Fernanda Salles Andrade, que assina texto com as informações falsas no site Terça Livre, ocupa cargo no gabinete do deputado estadual Bruno Engler (PSL), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A nomeação de Fernanda para atuar no gabinete de Engler foi publicada no dia 2 de fevereiro. A informação sobre foi publicada pelo blog do jornalista Ruben Berta, e confirmada pelo jornal O Estado de São Paulo. Segundo ALMG, ela recebe salário de R$ 6.543,69. Engler é um dos principais apoiadores da família Bolsonaro em Minas. Após a nomeação para o cargo, Fernanda assinou dois textos no site Terça Livre que trataram de atividades ocorridas na Assembleia. Ao Estado, Engler disse que não sabe se as postagens feitas pela funcionária partem de seu gabinete (leia mais abaixo).

Há duas semanas, ela assinou um texto com o título “Deputado do PT defende ideologia de gênero sob forte protesto na ALMG”, em que descreve a participação do deputado Betão em uma comissão que debatia, segundo o texto, “ensino de gênero e sexualidade para crianças a partir dos 6 anos de idade”. No Dia Internacional da Mulher, outro texto de Fernanda diz que um evento na assembleia promovia “doutrinação ideológica”, e registra a entrega de panfletos a crianças e adolescentes.

Fernanda aparece em vários vídeos no Youtube, defendendo o governo Bolsonaro. Em um dos mais recentes, a assessora fala sobre o vídeo pornográfico publicado pelo presidente durante o carnaval. Segundo a funcionária do deputado, com o vídeo Bolsonaro “conseguiu constranger os mais radicais socialistas. Ele os colocou diante de um espelho. Não satisfeito, mostrou para o Brasil e para o mundo aquilo que os autoproclamados socialistas defendem. No seu íntimo, ou não”. Após quatro dias, o vídeo teve 89 visualizações.

O Estadão conversou com Fernanda por telefone e também pessoalmente, no gabinete de Engler. A assessora confirmou ter feito as publicações, mas negou ser autora dos textos.“O que fiz foi uma reprodução da denúncia feita pelo jornalista francês”. Questionada se sabia falar inglês, a assessora disse que sim.

Reponsável pela contratação na ALMG, Engler é ligado ao Movimento Direita Minas e gravou vídeos com Bolsonaro durante sua campanha eleitoral. No canal do Direita Minas no Youtube, há também um vídeo de autoria do Terça Livre. Gravado durante a campanha eleitoral, em julho do ano passado, o vídeo traz uma imagem de Fernanda e a gravação de uma entrevista por telefone com Bolsonaro, então candidato à Presidência da República.

Bolsonaro voltou a atacar e a expor a jornalista

Na tarde desta segunda-feira (11),o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar e a expor a jornalista Constança Rezende. Ele escreveu no Twitter, às 11:50, que jornalistas fazem “o jogo da farsa e do vitimismo”. Bolsonaro fez referência a “manifestações de solidariedade” de veículos de imprensa e retuitou um xingamento feito por um editor do portal VICE. “Vemos muitas manifestações de solidariedade de editores de revistas e jornais como esta da @VICEBRASIL”, escreveu Bolsonaro. “Segue o jogo da farsa e do vitimismo de quem nunca foi vítima” .

Para OAB e Abraji, Bolsonaro promove ataque à imprensa livre e crítica

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgaram uma nota pública condenando a atitude do presidente.
Para as entidades, Bolsonaro age com a intenção de intimidar o trabalho dos jornalistas e promove um ataque à “imprensa livre e crítica”, que seria um dos “pilares da democracia”, segundo afirmam as entidades.

Fontes: O Estado de São Paulo, Valor, Catraca Livre, UOL

 

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  • rita de cassia vianna gava

    Logo ninguém vai ter mais acesso às informações porque estão querendo acabar com a transparência e a delegada da PF amiga de Moro será a diretora da Coaf

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