PUBLICADO EM 09 de nov de 2020
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Crise de energia no Amapá gera protestos da população

O apagão que ocorreu no Amapá na terça-feira (3) e ainda não foi completamente solucionado gerou protestos da população, com pneus queimados e vias interrompidas. Os atos ocorreram principalmente na capital, Macapá. Desde terça já foram registrados cerca de 40 protestos. Desde sábado (7) até a noite deste domingo (8), foram pelo menos 18 manifestações. Não há informações sobre prisões.

Crise de energia no Amapá, apagão em Macapá. protestos no bairro de Santa Rita em 07 de novembro de 2020(Foto: Rudja Santos/Amazônia Real)

O governo federal enviou, por aeronaves militares, grupos de geradores de Manaus (AM) ao Amapá e afirma que restabeleceu 65% o fornecimento de energia elétrica no estado no sábado (7), mas os moradores dizem que a luz voltou apenas nas áreas mais nobres, nos hospitais e no centro de Macapá. Nos bairros periféricos, comunidades rurais e municípios, a população ainda enfrenta racionamento ou mesmo o apagão, o que gerou uma série de protestos deste sexta-feira (6) na capital Macapá, no Distrito de Casa Grande e em Santana.

Em Macapá, a moradora do conjunto habitacional São José, Edicléia Ribeiro, disse, no sábado (7), que a revolta das pessoas é pela ausência de comunicação e solução do governo estadual. “Todo mundo desceu dos apartamentos e fomos para as ruas. Nos deram o apagão e respondemos com panelaço”, relatou ela à Amazônia Real.

“Na minha casa no bairro Universidade não houve nenhum retorno de energia. Os comércios continuam com comida estragando. É impossível conseguir sacar dinheiro e sinal do meu celular só voltou hoje (7) ”, disse a moradora.

O governador Waldez Góes (PDT), por sua vez, anunciou que reforçou a segurança nas ruas com o policiamento ostensivo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar e não comentou a repressão com balas de borrachas contra os populares.

Entenda o caso:

Com mais de 700 mil habitantes, o estado do Amapá sofre interrupção no fornecimento de energia elétrica no Amapá desde terça-feira (03), após um incêndio na subestação controlada pela companhia Linhas de Macapá Transmissora de Energia S.A., empresa que tem como principal acionista o grupo espanhol Isolux Corsan. O incêndio destruiu três transformadores.

A calamidade pública foi decretada pela Prefeitura da capital Macapá, município com mais de 500 mil habitantes. A crise no sistema de energia acontece no momento em que o estado enfrenta uma alta nos casos de Covid-19.

Na sexta-feira (6), o Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) , conforme a revista IstoÉ, cobrou uma ação mais dura da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relação à operação da espanhola Isolux. O CNE destacou que o Amapá é alvo de intensas descargas atmosféricas, apontadas como a provável causa do incêndio no transformador, mas segundo informações de trabalhadores da empresa, o segundo transformador estava em manutenção e o terceiro apresentou vazamento, o que desencadeou o apagão.

Diante da demora no reparo pela companhia da Isolux e por parte das autoridades estaduais, o Ministério de Minas Energia instalou um gabinete de crise mobilizando equipes técnicas para auxiliar os agentes do sistema elétrico. O CNE também criticou a privatização da Eletronorte. “Embora o setor elétrico esteja sujeito a intempéries climáticas, o que ocorre no Amapá só demonstra o equívoco de privatizar a Eletrobras e suas empresas, que no Estado é representado pela Eletronorte”, afirmou na nota do Coletivo.

Crise de energia no Amapá, apagão em Macapá (Foto: Rudja Santos/Amazônia Real)

Protestos

Desde a noite de sexta-feira (6) a população vai às ruas para pedir uma resposta, já que o governo federal anunciou que o problema da falta de energia em todo o estado deve ser solucionado em dez dias. Houve protestos na capital Macapá, no Distrito Casa Grande, onde mora populações quilombolas, e no município de Santana.

Edicléia Ribeiro disse que a população fechou com pedaços de madeira e pneus às ruas do bairro Novo Buritizal, causando fogo nas principais áreas de acesso e ruas, na capital Macapá. Como resposta, a polícia começou a reprimir as pessoas revoltadas com a falta de solução.

“Chegou primeiro a Polícia Militar tentando afastar o povo. O povo não afastou. Aí chegou o Bope [Batalhão de Operações Especiais]. Dentro do conjunto, eles começaram a atirar com balas de borracha. Depois disso começou um caos. Era gente correndo, era criança, era idoso, era todo mundo correndo em desespero”, disse a moradora. “A polícia entrou nos blocos e começou a atirar na galera dentro dos blocos. A população começou a reagir jogando pedra na PM para conseguir se defender”, completou.

Segundo a moradora, os policiais militares ficaram por duas horas dentro do conjunto São José. “A população recuou por não conseguir mais distinguir se as balas eram de borrachas ou não. Muitas pessoas ficaram feridas e sem conseguir se deslocar para o hospital de emergência da capital, que segue lotado com o aumento de números de casos da Covid-19”, disse.

A prefeitura de Macapá disponibilizou para a população a distribuição de água em carros pipas e priorizou os conjuntos habitacionais, entre eles o São José, onde a Edicléia Ribeiro mora. Ela relatou que a água do carro pipa estava suja: “dava no máximo para lavar a louça, não dava para consumo. Mesmo assim, a água foi insuficiente para abastecer todas as famílias. Ao todo são mil e quinhentas moradores no conjunto habitacional”, disse.

Crise de energia no Amapá, apagão em Macapá. protestos no bairro de Santa Rita em 07 de novembro de 2020(Foto: Rudja Santos/Amazônia Real)

Em nota publicada no site oficial, o governador Waldez Góes não comentou sobre as operações da Polícia Militar nas ruas de Macapá. Ele decretou estado de emergência nos treze municípios que enfrentam o apagão. No sábado (7), acompanhou uma visita técnica à subestação da empresa Isolux junto com o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM/AP).

“Desde as primeiras horas, após o incêndio, contactei as autoridades federais, o senador Davi, para solucionarmos o problema. Além disso, o trabalho de assistência continuará e o ministro Bento garantiu que até o final da próxima semana teremos a retomada 100% da energia elétrica em todo o estado”, disse Góes, em declaração dada pela nota.

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar disse que vem reforçando o policiamento ostensivo em toda capital para proteger a população. Desde a noite de sexta-feira (6), afirma que vem mantendo o mesmo esquema com oficiais especialistas em policiamento de choque e viaturas. Sobre a repressão com balas de borracha do Bope, a assessoria informou que nesta segunda-feira (9) irá se pronunciar.

Em nota, as centrais sindicais relacionaram a crise ao processo de privatização da distribuidora de energia e exigiram rigor nas apurações do caso e sobre a responsabilidade da empresa privada Isolux.

Fonte: Amazônia Real. Com informações de Folha

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