PUBLICADO EM 15 de abr de 2019
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Presidente do Senado dedica quase 30% de compromissos a reduto eleitoral

Há pouco mais de dois meses no comando do Senado, Davi Alcolumbre (DEM) dedicou quase 30% de sua agenda pública a compromissos relacionados ao Amapá, seu estado de origem e reduto eleitoral.

Foto: Jefferson Rudy/AgSenado

Até a última sexta-feira (12), foram 69 dias como presidente do Senado. Em 22 deles, o parlamentar teve ao menos uma reunião relacionada ao Amapá.

No período, foram 173 atividades registradas na agenda oficial publicada diariamente no site da Casa, sendo que, em 48 delas, o senador recebeu políticos e personalidades locais ou esteve em visita ao estado.

Representantes de outros estados foram anotados em 20 atividades exclusivas (12%). A conta não considera, por exemplo, a Marcha dos Prefeitos, onde há políticos de diferentes origens.

Em Brasília, constam em sua agenda encontros com a bancada federal do Amapá, prefeitos, vereadores, deputados estaduais, secretários e o governador Waldez Góes (PDT-AP). Também esteve com representantes de entidades, como Fórum Sindical do Amapá e Crea-AP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), e da empresa Jari Celulose, que atua na divisa entre o estado e o Pará.

Além disso, participou no Senado do lançamento do livro “História de Oiapoque”, que relata a história da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, no Amapá.

Desde 2 de fevereiro, quando derrotou Renan Calheiros (MDB-AL) e assumiu a presidência do Senado, Davi voltou para casa duas vezes, sendo a última delas no final da semana passada, quando participou de inauguração no aeroporto de Macapá ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O aeroporto leva o nome Alberto Alcolumbre, tio do senador.

No mesmo dia, à noite e sem Bolsonaro, participou da posse de servidores municipais da educação. Atravessou o auditório, com cerca de 600 pessoas, apertando mãos, dando abraços e tirando selfies.

“Vou tentar fazer o máximo possível para estar na minha terra, mas eu sei da missão que eu tenho agora. Não me candidatei para presidente do Senado? Eu sabia que as atribuições do cargo iam me obrigar a estar mais em Brasília”, disse à Folha no evento.

Na primeira vez, no início de março, ele permaneceu 11 dias no Amapá, tendo divulgado agenda em cinco deles. Enquanto esteve no estado, não divulgou atividades em dois domingos, nos três dias de Carnaval e no último dia de permanência, uma segunda-feira (11), quando só decolou no fim da tarde, segundo relatório da FAB (Força Aérea Brasileira) em que são listados voos em aviões oficias.

Durante a viagem, Davi gastou R$ 66,7 mil da cota parlamentar com o aluguel de um monomotor para se deslocar entre cidades, como mostrou reportagem do jornal O Globo. A assessoria do presidente do Senado alegou ao jornal que essa havia sido a opção com melhor custo-benefício.

Davi disputou o governo do estado em 2018, mas não chegou ao segundo turno. Agora, com o feito inédito para um amapaense de chegar à presidência do Senado, ele e integrantes de seu grupo despontam como candidatos à sucessão do prefeito de Macapá, Clécio Luís (Rede), ou ao governo do estado, em 2022.

Segundo a agenda oficial, além do Amapá, ele só deixou Brasília uma vez, para atividades em São Paulo, em março.

Mas as redes sociais do próprio presidente e coberturas jornalísticas de eventos baseadas no roteiro de outras autoridades mostram que Davi fez mais duas viagens que não foram anotadas em sua agenda.

Em 5 de abril, foi a Campos do Jordão (SP) para o 18º Fórum do Lide, evento com empresários. A participação dele foi anunciada em uma nota no site do Senado, mas nada consta na agenda pública.

Na última quinta (11), acompanhou Bolsonaro ao Rio de Janeiro em um almoço com líderes evangélicos, apesar de sua agenda indicar apenas que recebeu a visita de parlamentares franceses no Senado.

Apesar do discurso de transparência que abraçou no início de fevereiro, durante a eleição interna, não houve divulgação de agenda em 30 dias desde então.

Além das duas viagens, não houve registro oficial em agenda, por exemplo, da recepção ao autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, em 28 de fevereiro, de um churrasco com Bolsonaro e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, em 16 de março, bem como de uma visita ao Palácio do Planalto precedida de um encontro com o governador do Amapá, em 8 de abril.

Nos próximos meses, Davi deve tentar recuperar o protagonismo que o Senado perdeu ainda antes de ele chegar ao comando da Casa. A missão é difícil porque governo, parlamentares e mercado financeiro estão voltados para a Câmara, onde tramita a passos lentos a reforma da Previdência.

Para não ficar de fora da principal pauta do país até que a discussão chegue ao Senado, Davi criou uma comissão para acompanhar a reforma na Casa ao lado.

Para dar visibilidade ao aliado, o Executivo chegou a anunciar que mandaria para Davi um projeto de desvinculação e desindexação de despesas do Orçamento, mas recuou para não atrapalhar a Previdência. A ideia não foi descartada, mas ainda não tem data para ser retomada.

Em outra frente, senadores abraçaram o pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça), que está na Câmara, e apresentaram um projeto nos mesmos termos para tramitar no Senado.

A Folha procurou a assessoria da presidência do Senado por email e WhatsApp na manhã de quinta-feira (11) e na tarde de sexta-feira (12), mas não obteve resposta.

A reportagem pediu para falar com Davi que, entre as viagens ao Rio e ao Amapá, no fim da semana passada, ficou em Brasília. Também informou à assessoria que o contato poderia ser por telefone.

Além disso, foram enviadas seis perguntas por email e mensagem de celular para que fossem respondidas por escrito, caso o presidente não pudesse falar com a Folha.

Fonte: Folha SP

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