PUBLICADO EM 10 de out de 2025

Sigue Sigue Sputnik canta: Love Missile F1-11; música

Sigue Sigue Sputnik, cantores e compositores britânicos

Sigue Sigue Sputnik, cantores e compositores britânicos

Logo nos primeiros versos — “US bombs crusin’ overhead / Lá vai meu foguete vermelho do amor” —, a música coloca lado a lado a destruição e o desejo, a guerra e o prazer, criando um contraste deliberadamente cínico. A referência aos “bombardeiros americanos” é uma crítica direta ao imperialismo militar dos Estados Unidos, que, à época, realizava operações e intervenções em várias partes do mundo, como Líbia, Nicarágua e Afeganistão.

A canção também retrata de forma incisiva a sociedade midiatizada e espetacularizada. Produzida por Giorgio Moroder — ícone da música eletrônica e das trilhas de ficção científica —, Love Missile F1-11 incorpora samples de filmes, sons de explosão e efeitos de videogame, antecipando a cultura digital e o remix como nova linguagem artística.

Essa colagem sonora e imagética reforça a crítica à indústria cultural, no sentido proposto por Adorno e Horkheimer: a guerra e a violência transformam-se em mercadorias. Tudo se converte em entretenimento — inclusive o medo da destruição nuclear.

A música não denuncia de forma direta; ao contrário, imita o discurso da propaganda militar e publicitária para expor seu absurdo. O refrão repetitivo “Shoot it up” soa como um jargão tanto da guerra quanto do consumo: atire, compre, consuma, destrua.

Lançada em 1986, Love Missile F1-11 surgiu no auge do rearmamento nuclear e da retórica anticomunista de Ronald Reagan e Margaret Thatcher. O título faz referência direta ao F-111, um bombardeiro estratégico americano utilizado na Guerra do Vietnã e em ataques aéreos subsequentes — símbolo máximo do poder tecnológico dos Estados Unidos.

Ao misturar esse ícone da guerra com uma “mensagem de amor”, a banda ridiculariza o discurso belicista e a estética militarizada. O que deveria ser um símbolo de dominação transforma-se em paródia pop — um espelho distorcido da própria cultura que o produziu.

 

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