PUBLICADO EM 18 de jan de 2022
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Separar o racismo do identitarismo

O antropólogo Antônio Risério é um militante do combate à pauta Indentitária, o que é interessante. Também tenho buscado desenvolver argumentos críticos a esse fenômeno que entendo como um modismo liberal que atrapalha demais a esquerda. Mas discordo de pontos fundamentais da argumentação de Risério.

Primeiro porque defendo que a pauta identitária é produto do neoliberalismo. Que interessa ao livre mercado e não ao combate à pobreza e à desigualdade social. Ele, por sua vez, atribui ao modismo o caráter de “fascismo”. Acho um erro. O fascismo, tal como o conhecemos, é, em última instancia, nocivo ao livre mercado (embora o liberalismo levado ao extremo possa gerar relações que se aproximam do fascismo, mas isso é outra conversa).

Risério provoca debates interessantes, mas o artigo “Neorracismo identitário” que publicou na Ilustríssima, da Folha de São Paulo, no dia 16/01, só atrapalha a visão crítica à pauta identitária no campo progressista.

Ele defende que existe um racismo dos negros contra os brancos e contra os judeus (que muitos já alertaram ser o famigerado conceito de racismo reverso).

Concordamos que a base do discurso identitário é segregacionista e geradora de ódio entre culturas, raças e gêneros. Mas daí a defender que existe um racismo contra brancos há um abismo. Isso é um erro grosseiro, um discurso de extrema direita. É relativizar e diminuir o racismo real que existe no dia a dia.

Por isso defendo que tanto a crítica à pauta identitária quanto a questão do racismo, do machismo e da homofobia (problemas que a esquerda deve enfrentar), devem ter como centro o contexto histórico econômico e social. Esse contexto, que hoje é fruto da hegemonia neoliberal pós guerra fria, provoca profundas distorções sociais por ser um sistema de geração de pobreza, marginalização e desigualdade.

O racismo (contra os negros) é real. A escravidão foi real. Basta comparar os índices de desemprego para brancos e para negros. Basta olhar os shoppings dos bairros nobres e as favelas para constatar.

 

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

 

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