PUBLICADO EM 12 de mar de 2021
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Quais as palavras não ditas brotam nos corações e nas mentes para a resistência?

Pela primeira vez esta seção conta com três canções estrangeiras e três brasileiras. Vocês entenderão acompanhando as seis canções selecionadas. Com o avanço da pandemia avassaladora, ceifando milhares de vidas todos os dias por responsabilidade de um desgoverno totalmente inerte e incompetente, o momento é de resistência e a arte sempre esteve presente nas luta pela vida e por outro mundo. Melhor. Neste momento, a resistência se faz em casa, nas redes, mas com o mesmo ardor das ruas. Porque sem governo não dá para vencer a Covid-19. Então: Fora Bolsonaro. Fora negacionismo, fora anti-ciência, anti-cultura, fora burrice.

Joyce, cantora e compositora brasileira

Por Marcos Aurélio Ruy

As canções selecionadas falam um pouco da história da resistência ao fascismo e à destruição do planeta e de vidas. Afinal “quais são as palavras que nunca são ditas?” por quem governa para os ricos e destrói os pobres. Liberdade, justiça, amor, paz, alegria, respeito, igualdade, direitos humanos, vida.

Legião Urbana

Formada em 1982, em Brasília, a Legião Urbana se transformou numa das mais importantes bandas de rock da história da música popular brasileira. Principalmente pelo seu líder, o cantor e compositor Renato Russo (1960-1996), que deixou nosso convívio muito mais cedo do que deveria. Como um dos grandes poetas da música no país, Renato e a Legião nunca saem do imaginário popular, principalmente das almas jovens. Banda obrigatória no acervo de todas as pessoas que amam a música.

“Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava provar nada pra ninguém…

…Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?”

Quase Sem Querer (1986), Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Renato Rocha e Renato Russo

Joyce
Na estrada desde 1964, a carioca Joyce Moreno é uma das mais importantes vozes femininas na MPB. Despontou para o grande público, nos anos 1980, no Festival de Música Popular Brasileira da TV Globo, com a canção “Clareana”. Com uma mescla de sons, Joyce canta os sentimentos e as dores do povo brasileiro, principalmente das mulheres.
“- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
– Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
– Então me ilumina, me diz como é que termina?
– Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.

E esse mistério estará sempre lá
Feminina menina no mesmo lugar”

Feminina (1980), de Joyce Moreno

Shakira

A colombiana Shakira é uma das mais potentes vozes do mundo pop. Canta o sentimento latino-americano com desenvoltura e liberdade.

Diga-me de cabelos compridos
E da era de aquário
Lennon, McCartney, El Che, Janis Joplin
Ferré, Twiggy, Hendrix, Dubček
E milhares de estudantes
Que apedrejavam nas ruas

Diga-me de cabelos longos
E a era de aquário
Os hippies, um vulcão
Contrários ao Vietnã
Joan Baez, Yu Than
Esses sonhos ideais
Símbolos da força das flores

1968 (1993), de Eduardo Paz e Shakira

Geraldo Vandré

O paraibano Geraldo Vandré é um dos autores mais emblemáticos da MPB. Sucesso nos festivais dos anos 1960, Vandré voltou do exílio e praticamente abandonou a música. Não se sabe o porquê, mas parece que para ele 1968 é o ano que nunca terminou, como no livro de Zuenir Ventura. Pena. Essa canção virou um hino da resistência à ditadura. Até hoje emociona.

“Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (1968), de Geraldo Vandré

Manu Chao

Manu Chao é um dos mais importantes compositores franceses contemporâneos. Aqui ele canta a icônica “Bella Ciao”, que ganhou milhares de versões mundo afora. Embora historiadores tenham controvérsia sobre essa canção, ela se consagrou como hino da resistência ao fascismo de Mussolini na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Também foi hino do movimento sindical italiano contra a retirada de direitos da classe trabalhadora. Um importante hino da humanidade pela vida.

“Uma manhã, eu acordei
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Uma manhã, eu acordei
E encontrei um invasor

Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Porque sinto que vou morrer

E se eu morrer como um membro da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E se eu morrer como um membro da Resistência
Você deve me enterrar

E me enterre no alto das montanhas
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E me enterre no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor

Todas as pessoas que passarem
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Todas as pessoas que passarem
Me dirão: Que bela flor!

E essa será a flor da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade

E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade”

Bella Ciao, canção popular italiana

https://www.youtube.com/watch?v=PZ_pERWHFNE

Inti-Illimani

O grupo chileno Inti-Illimani está na estrada desde 1967. Um dos mais importantes e conhecidos da Nova Canção Chilena, fez muito sucesso ao cantar a música “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” em manifestações dos chilenos contra o governo direitista de Piñera e por mudanças na Constituição, ainda da época do ditador Pinochet.
Essa canção foi composta em 1970 em apoio à Unidade Popular que elegeu Salvador Allende (1908-1973) para a Presidência do Chile naquele ano. O povo voltou a cantá-la nas ruas em grandes manifestações por reais mudanças no país. Emocionante. Mostra que a história é realmente “um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue, como cantam Chico Buarque e Pablo Milanés. Não há Bolsonaro que impeça a história de seguir.

“Levante-se, lute
Que vamos triunfar
Avance já
Bandeiras da unidade

E você virá
Marchando ao meu lado
E então você vai ver
Sua música e sua bandeira florescem

A luz
De um amanhecer vermelho
Eles já anunciam
A vida por vir
Levante-se, lute

O povo vai triunfar
Será melhor
A vida por vir
Conquistar

Nossa felicidade
E em um clamor
Mil vozes de luta se levantarão
Eles vão dizer

Canção da liberdade
Decisivamente
A pátria vai ganhar
E agora a cidade

Isso sobe na luta
Com a voz de um gigante
Gritando: vá em frente!
O povo unido jamais será vencido

O povo unido jamais será vencido
A pátria é
Forjando a unidade
De norte a sul

Vai mobilizar
Do sal
Queimando e mineral
Para a floresta do sul

Unidos na luta e no trabalho
Irão
A pátria vai cobrir
Seu passo já

Anuncia o futuro
Levante-se, lute
O povo vai triunfar
Milhões já

Eles impõem a verdade
Feito de aço
Batalhão de fogo
Suas mãos vão

Trazendo justiça e razão
Mulher
Com fogo e com coragem
Já está aqui

Ao lado do trabalhador
E agora a cidade
Isso sobe na luta
Com a voz de um gigante

Gritando: vá em frente!
O povo unido jamais será vencido
O povo unido jamais será vencido
O povo unido jamais será vencido

O povo unido jamais será vencido
O povo unido jamais será vencido
O povo unido jamais será vencido
O povo unido jamais será vencido”

O Povo Unido Jamais Será Vencido (1970), de Sergio Ortega; canta Inti-Illimani

 

 

 

 

 

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