PUBLICADO EM 24 de ago de 2020
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OAB e Abraji condenam agressão de Bolsonaro a repórter: “Próprio de ditaduras”

Organizações pedem uma “reação contundente” de líderes dos Poderes Legislativo e Judiciário

“A vontade é encher tua boca com porrada”, Bolsonaro à repórter em entrevista, em frente a Catedral de Brasília, após ser perguntado sobre dinheiro depositado por Queiroz em conta bancária da primeira-dama, Michele Bolsonaro – Foto: Arquivo

O Observatório da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entre outras entidades, condenaram a ameaça feita neste domingo (23) por Jair Bolsonaro (sem partido) a um jornalista do jornal O Globo quando questionado sobre o caso Queiroz.

“A vontade é encher tua boca com porrada”, disse o presidente ao ser perguntado sobre os depósitos realizados por Fabrício Queiroz na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ele fazia visita à Catedral de Brasília.

“[O episódio] foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias”, diz a nota assinada também pelas organizações Artigo 19, Conectas Direitos Humanos e Repórteres sem Fronteiras.

O texto lembra outras agressões praticadas por Bolsonaro contra a imprensa. “Jornalistas têm sido vítimas de agressões verbais constantes ao cumprir sua obrigação profissional de questionar o presidente sobre ações do governo federal e indícios de corrupção ao longo de sua carreira política.”

As organizações pedem uma “reação contundente” de líderes dos Poderes Legislativo e Judiciário “contra mais essa atitude violenta e irresponsável de Jair Bolsonaro”.

No Twitter, as hashtags “Michelle” e “Responde Bolsonaro” ficaram entre as mais comentadas, fazendo referência à pergunta feita pelo repórter ao presidente: “Por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”.

Levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), divulgada em 2 de julho, registra 245 ocorrências de janeiro a junho de 2020 de agressões de Jair Bolsonaro contra jornalistas. Desse total, 211 foram categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e dois ataques contra a federação.

Cheques para a primeira-dama

Michelle Bolsonaro teria recebido 21 depósitos em cheques do ex-assessor Fabrício Queiroz. Os pagamentos ocorreram entre 2011 e 2018, e totalizaram R$ 72 mil. As informações são do repórter Fábio Serapião, publicadas na revista Crusoé, que teve acesso à quebra do sigilo bancário do amigo íntimo da família.

Confira a nota na íntegra:

Abraji condena ameaça de Bolsonaro de agressão física a jornalista

Durante uma visita à Catedral de Brasília no domingo, 23.ago.2020, o presidente do Brasil disse a um jornalista que gostaria de agredi-lo fisicamente. Abraji, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras se solidarizam com o repórter e condenam mais um episódio violento protagonizado por Jair Bolsonaro, cuja reação, ao ouvir uma pergunta incisiva, foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias.

A ameaça se deu quando um repórter questionou o presidente sobre os depósitos realizados por Fabrício Queiroz na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O mandatário respondeu à pergunta com a frase: “Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá”. Os colegas do jornalista perguntaram se a resposta era uma ameaça ao profissional, ou mesmo à imprensa como um todo, mas o presidente deixou o local sem responder.

Essa ameaça de agressão física se soma a um histórico de forte hostilidade de Bolsonaro contra jornalistas e marca um novo patamar de brutalidade. Desde o início de seu mandato, em jan.2018, Jair Bolsonaro vem demonstrando carecer de preparo emocional para prestar contas à sociedade por meio da imprensa, uma responsabilidade de todo mandatário nas democracias saudáveis. Jornalistas têm sido vítimas de agressões verbais constantes ao cumprir sua obrigação profissional de questionar o presidente sobre ações do governo federal e indícios de corrupção ao longo de sua carreira política.

A questão da segurança do trabalho dos jornalistas que cobrem a Presidência da República sob Bolsonaro é uma preocupação recorrente. Em jun.2020, organizações da sociedade civil entraram com uma ação na justiça do Distrito Federal solicitando ao governo que garanta a segurança de jornalistas que cobrem a agenda presidencial – sobretudo os que ficam diante do Palácio do Alvorada e que vinham sendo atacados com frequência por apoiadores do presidente. As agres.sões levaram diversos veículos a interromper a cobertura diária na frente do palácio.

O discurso hostil e intimidatório. de Bolsonaro contra a imprensa vem incentivando sua militância a assediar jornalistas nas redes sociais nos últimos meses, inclusive com ameaças de morte e agressões aos profissionais e a seus familiares. Em pelo menos dois casos, um em Minas Gerais e outro em Brasília, este último no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (03.mai.2020), apoiadores do presidente agrediram repórteres que estavam no desempenho de suas funções. A frase “minha vontade é encher tua boca com uma porrada” pode ser entendida como uma legitimação do cometimento de crimes como esses.

Tal comportamento inadmissível por parte de um presidente da República deveria ser condenado por todas as instituições e cidadãos comprometidos com a estabilidade e o progresso do Brasil. As organizações abaixo assinadas esperam sobretudo dos líderes dos Poderes Legislativo e Judiciário uma reação contundente contra mais essa atitude violenta e irresponsável de Jair Bolsonaro.

Abraji
Artigo 19
Conectas Direitos Humanos
Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB
Repórteres sem Fronteiras

Fonte: Brasil de Fato

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