PUBLICADO EM 17 de abr de 2020
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O que seria da vida sem pão e poesia para manter o coração tranquilo?

Por Marcos Aurélio Ruy

Em tempos de isolamento social em defesa da vida, esta seleção musical não poderia começar sem prestar homenagem a Moraes Moreira, que nos deixou na segunda-feira (13), aos 72 anos.

Entre centenas de importantes canções, a escolhida foi Pão e Poesia, de 1981, de Moraes Moreira e Fausto Nilo. Porque “se a vida fosse o meu desejo, dar um beijo em teu sorriso, sem cansaço e o portão do paraíso é teu abraço, quando a fábrica apitar”.

Para alimentar o corpo precisamos do trabalho para termos o pão e da poesia e de todas as artes e ciências do conhecimento para alimentar a alma. Enquanto todos os seres humanos não tiverem essa possibilidade, “é a faculdade de sonhar é uma poesia/que principia quando eu paro de pensar/pensar na luta desigual, na força bruta, meu amor/que te maltrata entre o almoço e o jantar”, quando se tem almoço e jantar.

Pão e Poesia, de Fausto Nilo e Moraes Moreira; canta Simone e MPB-4

Felicidade é uma cidade pequenina

é uma casinha é uma colina

qualquer lugar que se ilumina

quando a gente quer amar

Se a vida fosse trabalhar nessa oficina

fazer menino ou menina, edifício e maracá

virtude e vício, liberdade e precipício

fazer pão, fazer comício, fazer gol e namorar

Se a vida fosse o meu desejo

dar um beijo em teu sorriso, sem cansaço

e o portão do paraíso é teu abraço

quando a fábrica apitar

Felicidade é uma cidade pequenina

é uma casinha é uma colina

qualquer lugar que se ilumina

quando a gente quer amar

Numa paisagem entre o pão e a poesia

entre o quero e o não queria

entre a terra e o luar

não é na guerra, nem saudade nem futuro

é o amor no pé do muro sem ninguém policiar

É a faculdade de sonhar é uma poesia

que principia quando eu paro de pensar

pensar na luta desigual, na força bruta, meu amor

que te maltrata entre o almoço e o jantar

Felicidade é uma cidade pequenina

é uma casinha é uma colina

qualquer lugar que se ilumina

quando a gente quer amar

O lindo espaço entre a fruta e o caroço

quando explode é um alvoroço

que distrai o teu olhar

é a natureza onde eu pareço metade

da tua mesma vontade

escondida em outro olhar

E como o doce não esconde a tamarinda

essa beleza só finda

quando a outra começar

vai ser bem feito nosso amor daquele jeito

nesse dia é feriado não precisa trabalhar

Pra não dizer que eu não falei da fantasia

que acaricia o pensamento popular

o amor que fica entre a fala e a tua boca

nem a palavra mais louca, consegue significar: felicidade

Felicidade é uma cidade pequenina

é uma casinha é uma colina

qualquer lugar que se ilumina

quando a gente quer amar

Ralph Chaplin

Historiadores afirmam que a canção Solidarity Forever (Solidariedade Para Sempre) foi escrita pelo jornalista, escritor, poeta e ativista norte-americano Ralph Chaplin (1887-1961), escrita em 1915. Alguns a dão como canção folclórica.

O importante é que essa música virou um hino do movimento sindical dos Estados Unidos e defende a unidade da classe trabalhadora para derrotar o capital. Em pleno século 21, a pandemia reavivou a solidariedade meio desaparecida.

Solidariedade Para Sempre, de Ralph Chaplin, canta Pete Seeger

https://youtu.be/pCnEAH5wCzo

Quando a inspiração do sindicato correr pelo sangue dos trabalhadores

Não haverá poder maior em qualquer lugar sob o Sol

Contudo, qual força na Terra é mais fraca do que a força de um só

Mas a união faz a força

 

Solidariedade para sempre

Solidariedade para sempre

Solidariedade para sempre

Pois a união faz a força

 

Existe alguma coisa que temos em comum com o parasita ganancioso

Que iria chicotear-nos em servidão e que nos esmagaria com o seu poder?

Nos resta algo a fazer além de organizar e lutar?

Pois a união faz a força

 

Nós é que aramos as pradarias; construímos as cidades onde eles negociam

Cavamos as minas e construímos as oficinas, milhas infinitas de ferrovias                  colocamos

Agora estamos párias e famintos meio as maravilhas que criamos

Mas a união faz a força

 

O mundo que está possuído por zangões ociosos é nosso e só nosso

Nós lançamos suas largas fundações; o construímos em direção ao céu, pedra por pedra

Ele é nosso, não para sermos escravos nele, mas para comandá-lo e possuí-lo

Enquanto a união faz nossa força

 

Eles tomaram incontáveis ​​milhões que eles nunca trabalharam para ganhar

Mas sem o nosso cérebro e nossos músculos nem uma única roda pode girar

Podemos quebrar seu poder arrogante, ganhar a nossa liberdade quando aprendermos

Que a união faz a força

 

Em nossas mãos está um poder maior do que o de seu ouro roubado

Maior que o poderio dos exércitos, ampliado mil vezes

Podemos criar um novo mundo a partir das cinzas do velho

Pois a união faz a força

Tom Zé

A música A Maior Palavra do Mundo faz parte do livro homônimo de Elifas Andreato, musicado por Tom zé e lançado em 2017, “As letras inventam as palavras. As palavras inventam as ideias, e as ideias inventam os futuros”, define o compositor e cantor baiano.

Na canção, a maior palavra do mundo é Eu, para evidenciar que cada indivíduo é único, mas fica implícito que a maior palavra do mundo é Nós.

A Maior Palavra do Mundo, de Elifas Andreato e Tom Zé

A maior palavra do mundo é Eu

Eu, eu, eu, eu, digo eu

Simplesmente Eu

 

E o eu é tão gorduchão

É tão gigante grandão

Que o mundo é um pigmeu

Diante de um simples eu

 

E como, não se sabe como

No mundo já tem tantos eus

Cada eu que mora no mundo

É dentro de um milhão de eus

 

A maior palavra do mundo é eu

Eu, eu, eu, eu, digo eu

Simplesmente Eu

 

Porém, sem a ajuda do U

O E só pode não ser

Letra que não tem vizinha

Morre falando sozinha

 

Se a fé precisa do L

I, Z para ser feliz

Você precisa de quê?

Eu preciso de você

 

A maior palavra do mundo é Eu

Eu, eu, eu, eu, digo eu

Simplesmente Eu

 

Do eu, entre E e U

Tem letras do amor, da alegria

Tem a tentação do prazer

Que só a mágica deve saber

 

Criar criança esperança

Saber fantasia sonhar

Curiosidade dali

Verdade jamais conheceu

 

A maior palavra do mundo é Eu

Eu, eu, eu, eu, digo eu

Simplesmente Eu

Roger Waters

Roger Waters é um cantor e compositor inglês, talvez a principal voz do Pink Floyd, banda de rock progressivo em atividade de 1965 a 1995, com breves retomadas em 2005 e entre 2012 e 2014.

Waters é importante voz em defesa dos direitos humanos, da soberania dos povos, da justiça e dos direitos da classe trabalhadora. Quando esteve no Brasil não se intimidou em gritar “Ele Não” em seus shows pelo país afora.

O artista decepcionou fãs desavisados do caráter político da mais famosa canção do Pink Floyd, The Wall, de 1979. Do mesmo álbum, a música Mãe (1979), de Waters, não deixa dúvidas sobre as intenções políticas do auto. “Mãe, você acha que eles soltarão uma bomba?”.

Mãe, de Roger Waters

Mãe, você acha que eles soltarão a bomba?

Mãe, você acha que eles gostarão dessa música?

Mãe, você acha que eles tentarão separar minhas bolas?

Mãe, eu devo construir o muro?

Mãe, eu devo concorrer pra presidente?

Mãe, eu devo confiar no governo?

Mãe, eles me colocarão na linha de fogo?

Isso é meramente uma perda de tempo?

Agora acalme-se bebê, bebê, não chore

Mamãe vai fazer todos os seus pesadelos se realizarem

Mamãe vai colocar todos os medos dela em você

Mamãe vai mantê-lo bem aqui sob suas asas

Ela não deixará você voar, mas pode te deixar cantar

Mamãe vai deixar o bebê confortável e aquecido

Oooo bebê

Oooo bebê

Ooo bebê, claro que mamãe vai ajudar a construir o muro

Mãe, você acha que ela é boa o suficiente

Pra mim?

Mãe, você acha que ela é perigosa

Pra mim?

Mamãe, ela vai despedaçar o seu garotinho?

Mãe, ela vai partir meu coração?

Agora acalme-se bebê, bebê, não chore

Mamãe vai checar todas as suas namoradas pra você

Mamãe não vai deixar ninguém sujo passar

Mamãe vai esperar até você chegar

Mamãe sempre descobrirá onde você está

Mamãe vai deixar o bebê saudável e limpo

Oooo bebê

Oooo bebê

Ooo bebê, você será sempre bebê pra mim

Mãe, isso precisava ser tão

Walter Franco

Para encerrar esta seleção uma das canções mais perfeitas já compostas, Coração Tranquilo (1981), de Walter Franco (1945-2019).  Autor de importantes obras como Cabeça, Me Deixe Mudo, Canalha e Respire Fundo, foi gravado por Chico Buarque, Titãs, Leila Pinheiro, Ira! e Camisa de Vênus, entre outros.

Porque tudo é uma questão de manter-se íntegro e enfrentar os obstáculos que a vida impões como e eles merecem, sempre de cabeça erguida.

Coração Tranquilo, de Walter Franco

Tudo é uma questão de manter

A mente quieta

A espinha ereta

E o coração tranquilo

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