PUBLICADO EM 31 de mar de 2021
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Na primeira Ordem do Dia, novo ministro da Defesa defende celebração de 1964

Cena do filme ‘O ano em que meus pais saíram de férias’, dirigido por Cao Hamburger em 2006. Brasil ainda rediscute sua história recente – Foto: Reprodução

Ao assinar sua primeira Ordem do Dia, alusiva a 31 de março, o novo ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, defendeu a celebração do golpe de 1964 – que o general, como fazem as Forças Armadas, chama de “movimento”. O militar recorreu a fatores históricos para justificar seu ponto de vista, no momento em que o país vive turbulência política e social.

“Eventos ocorridos há 57 anos, assim como todo acontecimento histórico, só podem ser compreendidos a partir do contexto da época”, afirma Braga Netto no início da Ordem do Dia. Ele cita o final da 2ª Guerra Mundial, um novo “mapa geopolítico internacional” e o surgimento da chamada Guerra Fria, opondo as duas potências da época, Estados Unidos e União Soviética.

“Ameaça à democracia”
O militar repisa o argumento de que o Brasil enfrenta “ameaça real à paz e à democracia”. Assim, acrescentou, houve mobilização social, com apoio empresarial, da imprensa e de lideranças políticas, entre outros setores, que em 1964 interrompeu o que ele chama de “escalada conflitiva”. Dessa forma, diz o general, as Forças Armadas “acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”. Nenhuma palavra sobre a ausência de liberdade democráticas durante 21 anos, a partir de golpe com apoio norte-americano.

O ministro prossegue citando a Lei da Anistia, aprovada em 1979, que teria trazido “pacificação”. A lei é contestada até hoje no Supremo Tribunal Federal e tem evitado punição de torturadores. Movimentos organizam um ato para esta quarta (31) pela sua revisão. O general afirma ainda que o Brasil teve uma “transição sólida” e hoje tem novos desafios, com as Forças Armadas “na linha de frente, protegendo a população”.

“A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso País”, diz Braga Netto, acrescentando que 1964 faz parte da trajetória histórica do Brasil. “Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”, conclui.

“Genocidas, sádicos”
Logo depois da divulgação do documento, as críticas começaram a circular nas redes sociais. O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), por exemplo, lamentou que no dia em que o país registre o recorde de 3.780 mortes em consequência da covid-19 o “desgoverno” solte uma nota “criminosa”. E acrescentou: “Genocidas”. A também deputada Natalia Bonavides (PT-RN) foi mais ácida: “A pacificação estaria em colocar ratos nas vaginas de mulheres torturadas? Em matar e ocultar cadáveres (até hoje)? Canalhas sádicos!”.

Natalia também anunciou, em seu perfil no Twitter, que notificou hoje mesmo a Corte e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos “porque o governo Bolsonaro, de novo, usou a máquina pública para celebrar um golpe que deu início a uma ditadura assassina. A conduta descumpre determinações anteriores da Corte.”

“Ditadura não é nunca para ser comemorada!”, exclamou a atriz Patricia Pillar. O professor de Direito Conrado Hubner, da Universidade de São Paulo (USP), ironizou: “A gente torturou mulher nua na frente dos filhos, a gente matou, prendeu, sumiu com corpos, a gente arruinou a economia do país e praticamos grande corrupção. Mas compreendam o contexto histórico”.

Fonte: Rede Brasil Atual

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