PUBLICADO EM 21 de jun de 2020
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João Saldanha foi fundamental para o tri campeonato mundial; conheça sua história

 

Por Carolina Maria Ruy

A memória de João Alves Jobin Saldanha, jornalista, comunista, escritor e ex-treinador da seleção brasileira, velho conhecido dos amantes da arte, vale para além do contexto futebolístico.

Das disputas entre maragatos e chimangos no Rio Grande do Sul pré-Vargas ao frenesi das areias cariocas, João Saldanha era profundo conhecedor da alma de seu país.

Foi militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro nas décadas de 1940 e 1950, tendo participado ativamente da “Greve dos Trezentos Mil” em São Paulo, em 1953.

Apaixonado por futebol, foi treinador do Botafogo contando com jogadores do porte de Garrincha, Didi e Nilton Santos. Chegou ao posto de técnico da seleção brasileira, em 1969, cargo que exerceu com louvor.

A seleção de Saldanha, com Tostão e Pelé, deu show mesclando jogadores dos times Santos, Botafogo e Cruzeiro.

Mas, como ele era exatamente da forma como descrevera o amigo Nelson Rodrigues, “João sem medo”, e como futebol em época de Copa se torna assunto de interesse oficial, no primeiro entrave com o presidente Garrastazu Médici recebeu cartão vermelho da então CBD (Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF (Confederação Brasileira de Futebol), trocando compulsoriamente os gramados pela cabine de comentarista.

O episódio em questão ilustra a personalidade irreverente, despojada e, ao mesmo tempo, incorruptível, do jornalista.

A crise começou com o boato de que Médici queria a convocação de Dario José dos Santos, o Dadá Maravilha. Mas o jogador, destituído do perfil das “Feras do Saldanha”, não estava cotado. Sem meias palavras o técnico respondeu ao presidente: “O senhor organiza o seu Ministério e eu organizo o meu time”.

Dias antes, em sua passagem pelo México para acompanhar o sorteio das chaves, ele já havia dito à imprensa internacional que havia terríveis torturas no Brasil.

Como não era fácil descartar um técnico querido e competente como aquele, a equipe do presidente ainda tentou organizar um jantar com Médici para

amenizar o clima, ao que Saldanha respondeu: “Não vou. O cara matou amigos meus. Tenho um nome a zelar”.

Treze meses depois, em 17 de março de 1970, Saldanha foi demitido e voltou a sua função de comentarista. O time, bem montado, foi entregue aos cuidados do treinador Mario Zagallo, que faturou o tricampeonato mundial.

De volta ao jornalismo, Saldanha brilhou com seu estilo coloquial e irônico. A partir de meados da década de 1980 foi um dos maiores críticos da europeização e mercantilização do futebol. Nunca abandonou a política, sendo um vibrante defensor da redemocratização brasileira. Morreu na Itália, participando da cobertura da Copa de 1990 pela TV Manchete.

Sua vida é contada no filme João Saldanha, uma Vida em Jogo, de André Iki Siqueira e Beto Macedo. Vale ressaltar o depoimento da dirigente sindical Maria Sallas Dib no filme, bem como as passagens pelo Sindicato dos Têxteis de São Paulo.

João Saldanha, uma Vida em Jogo

Brasil, 2008, Direção: André Iki Siqueira e Beto Macedo

Elenco: João Saldanha, Mario Zagallo, Oscar Niemeyer, Maria Sallas Dib

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

  • Ubiraci Oliveira

    Muito bem Carolina, já tinha admiração pelo seu trabalho,agora então aumentou exponencialmente o reconhecimento.Parabens companheira!

  • Carlos Pereira

    Uma das grandes figuras do recanto chamado Brasil

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