PUBLICADO EM 26 de jun de 2019
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Desmatamento e clima podem em 30 anos reduzir Amazônia à metade

Em 30 anos a floresta amazônica poderá estar dividida e com mais da metade das espécies de árvores ameaçada de extinção.

Foto: Reprodução

A diagonal que dividirá o maior bloco de floresta tropical do mundo em uma parte ainda contínua, e outra completamente fragmentada, pode ser o resultado do desmatamento combinado ao impacto da mudança climática sobre a Amazônia.

O aquecimento global combinado ao desmatamento pode significar perda na riqueza de espécies de árvores de 58%, até 2050, no cenário pessimista, e de 43%, no otimista. O desmatamento sozinho, se continuar no ritmo atual, causaria uma redução entre 19% e 33%. O efeito da mudança do clima global na floresta é mais devastador – causaria redução nas espécies de árvores entre 47% e 53%.

Esses resultados alarmantes são algumas conclusões de estudo publicado ontem na “Nature Climate Change” por três pesquisadores brasileiros e um holandês.

O grupo estudou a distribuição original de cada uma das 10.071 espécies de árvores amazônicas conhecidas. O número médio de espécies em área de 10 km2 seria de cerca de 1.500 espécies. Ali, onde as espécies estão confortáveis, coletaram informações de precipitação e temperatura. Depois cruzaram estes mapas com modelos climáticos e de desmatamento que fazem projeções para 2050.

“O que poderemos chamar de Amazônia no futuro é alarmante, segundo nossos resultados no cenário mais pessimista”, diz o autor do estudo Vitor Gomes. A análise foi capítulo central de sua tese de doutorado, defendida em novembro na Universidade Federal do Pará, em Belém.

A intenção do grupo era avaliar o impacto do clima e do desmatamento sobre a biodiversidade em todo o bioma amazônico, com foco nas árvores. “O que temos visto é o processo de degradação da floresta aumentando”, continua.

“Chegamos a um mapa chocante, com a floresta dividida ao meio”, diz Ima Vieira, coautora do artigo e pesquisadora do Museu Goeldi, em Belém.

Os pesquisadores usaram as projeções do Painel Intergovernamental das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês), para 2050, projetando o que aconteceria com a Amazônia em dois cenários. Um deles, o mais pessimista, segue as tendências atuais, quando nenhum esforço de melhorar a governança é feito e a temperatura aumenta 4°C. O outro cenário é mais otimista, segue o que está no Acordo de Paris e o aquecimento não ultrapassa 2°C.

Ainda, usaram mapas e modelos de desmatamento do professor Britaldo Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ali consideram-se taxas históricas de desmatamento, mapas produzidos a partir de imagens de satélites, abertura e pavimentação de estradas na Amazônia e a efetividade de proteção da floresta gerada pela existência de unidades de conservação e terras indígenas.

Ima Vieira diz que o estudo não projeta a ameaça que a Amazônia sofre por conta da eventual aprovação do Projeto de Lei 2362/2019, dos senadores Flavio Bolsonaro (PSL/RJ) e Marcio Bittar (MDB/AC) e que propõe o fim da reserva legal nas propriedades rurais.

“Se isso acontecer, perto de 89 milhões de hectares poderão ser diretamente ameaçados pelo desmatamento na Amazônia”, diz Ima. “Já ficamos impressionados com os resultados deste estudo, imagine o que pode acontecer com esse nível de retrocesso ambiental”, diz a pesquisadora.

“As espécies predominantes na Amazônia podem sofrer muito!”, diz Gomes. O estudo examinou o que poderia ocorrer com as espécies consideradas “hiperdominantes” – e que são 227. “No futuro, estimamos que 96% delas serão impactadas e estarão ameaçadas de extinção”, continua.

Uma rede de áreas protegidas na Amazônia pode ter papel fundamental na redução das perdas. “Mesmo que estas áreas não sejam imunes à mudança climática, nossos modelos indicam que as florestas fora da rede de áreas protegidas podem perder até um terço a mais de espécies”, diz Gomes.

Para os pesquisadores, o cenário mais pessimista está se tornando mais realista com o desmatamento na Amazônia em crescimento e os esforços globais para limitar o aquecimento, insuficientes.

Fonte: Valor Econômico

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