A pandemia de coronavírus nos atingiu de maneira tão intensa, dolorosa e danosa que muitos, querendo sair dela, estão criando ilusão. Formando a falsa expectativa de que o fim da quarentena, que no Estado de São Paulo está previsto para o próximo dia 11 de maio, será também o fim dos problemas. Infelizmente, não. É um perigo para as nossas vidas e, paradoxalmente, também pode ser um risco para a economia, se não acharmos um ponto de equilíbrio na reabertura.
Como testamos uma parcela muito pequena da população, não sabemos exatamente em que ponto da curva da pandemia estamos. Com a retomada das atividades comerciais, reabertura de locais de aglomeração de pessoas, estaremos sujeitos a aumento significativo dos infectados pelo coronavírus. E, consequentemente, dos que precisarão de hospitalização, de UTI. E de aumento de mortes.
Por outro lado, a reabertura das atividades não essenciais, que por ora estão fechadas, não representa, infelizmente, a retomada da economia de onde paramos. Há grande probabilidade de boa parte desses negócios não deslancharem por falta de consumidor, de cliente. Parte da população ainda evitará sair às compras com receio da Covid-19 e outra parte não o fará porque ou já perdeu renda ou emprego ou tem medo de que isso ocorra. Em Bauru e região, infelizmente, cerca de 10% dos trabalhadores do setor químico já estão nesse grupo de redução de salário e jornada e suspensão de contrato de trabalho.
Em suma, há risco de empreendimentos abertos, mas vazios. Quem tem capital, não vai investir agora porque o clima é de insegurança, de incerteza. Alguns setores industriais, mesmo autorizados a continuarem a operação, acabaram por parar porque não têm demanda. Com a redução do consumo de combustível, no setor sucroalcooleiro, por exemplo, já há usinas no Mato Grosso que pararam de produzir álcool porque não tem mercado. E fazer açúcar nem sempre é solução porque também há dificuldade de venda em função de embargos em portos mundo afora.
Se essa expectativa de que tudo vai voltar ao normal com o fim da quarentena for frustrada, negócios vão fechar e muita gente vai ficar desempregada. Mais seguro seria a retomada quando a maioria das pessoas estivesse imunizada. Mas não temos vacina nem sabemos a porcentagem da população que já tem anticorpos. É necessário achar um ponto de equilíbrio nesta retomada. Além do uso de máscara e do distanciamento um do outro, é preciso encontrar alternativas e ter responsabilidade da nossa atuação seja como trabalhador, empregador ou consumidor. A abertura escalonada, assim como na cidade de São Paulo, em tempos normais há rodízio de veículos, parece ser, neste momento, a melhor alternativa. Não há solução simples para problemas complexos.
Edson Dias Bicalho é presidente do STI Bauru e secretário-geral da FEQUIMFAR