PUBLICADO EM 11 de maio de 2022
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Existe amor e vida nas músicas do Criolo

Criolo no Cultural Bar Lançando o Festival Sem Paredes – 6 de outubro de 2012. Foto: Flickr Fora do Eixo.

Por Marco Aurélio Ruy

Em seu novo álbum, lançado recentemente, o cantor e compositor Criolo carrega na acidez para denunciar a morbidez da sociedade brasileira. Canta com vigor a dor de um povo que merece muito mais respeito e para quem ainda não aprendeu essa lição é preciso dar um jeito de que a aprenda, antes que seja tarde demais. Sabe-se que – sem maniqueísmo algum –, para o bem prevalecer, todo esse mal vai passar e na sua superação deve-se trabalhar pela liberdade. Falta pouco para começar a reconstrução e a melhoria desta nação com respeito a toda a sua diversidade.

O álbum Sobre Viver apresenta dez canções inéditas, com Criolo mostrando todo o talento do seu rap mesclado com diversos sons. Poesias e melodias muito bem elaboradas formam um conjunto vivo da cultura da periferia de São Paulo, que é do Brasil, que é do mundo.

Criolo e outros rappers mostram que o rap daqui não é o mesmo rap feito nos Estados Unidos – origem desse gênero musical, nascido em bairros operários – e nem é igual ao feito em nenhuma outra parte do mundo. Algo tão óbvio que é necessário dizer.

Depois de cinco anos sem lançar disco, Criolo apresenta um trabalho vigoroso que fala da vida de quem vive do trabalho e sofre na penúria. E vive nessa penúria porque “onde o Estado não chega, a maldade traça o norte”, canta na faixa Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais, em parceria com o grupo Tropkillaz.

Como disse o autor em entrevista ao G1, “quem nasce em favela, no Brasil, vive sempre com essa ideia de morte, porque vida nunca nos permitiram, vida em sua plenitude assim. Quem vive? Ou quem sobrevive?”.

É disso que se trata o álbum Sobre Viver, pois, com certeza “somos mistura, somos doçura/ Somos beleza, somos candura/ Somos a festa, somos a cura/ Somos a mágoa dessa estrutura” (Ogum Ogum, de Criolo, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral)

Além do talento gigante de Criolo, o álbum – já disponível em seu canal do YouTube  – conta com a participação especial de Jaques Morelenbaum, Liniker, Maria Vilani, Mayra Andrade, MC Hariel, Milton Nascimento e Tropkillaz. Rap feito no Brasil e da melhor qualidade.

As dez músicas entoam aquilo que o cantor e compositor paulista disse ao G1: “A desigualdade só destrói, mano. A gente morre todo dia, assim, de picadinho, e colocaram uma naturalidade, uma normalização tão gigante que ninguém está nem aí”. Mais transparente impossível.

E conclui: “às vezes, vejo as pessoas falando: ‘Você sofreu, mas foi bom que você deu valor ao que você tem hoje, né?’. Eu falo que o sofrimento só traz sofrimento. Esse arco de herói só serve para Hollywood. Não tem herói aqui”.

Então o melhor é cantar e com esse canto erguer a voz para vencer tudo aquilo feito para destruir, odiar e matar. As canções de Criolo são antídotos a todo tipo de mal. E “o que sobra pra nós/ É ser melhor, bem melhor, mas melhor, tipo um doce/ Uma coisa, um chocolate, uma pedra rara” (Diário do Kaos, de Criolo e Tropkillaz).

O amor e a dor da favela, intrínsecos no álbum todo, para mostrar que tem muito amor nas músicas de Criolo. O amor à vida, ao semelhante, à justiça. O amor como mola propulsora do mundo transformando-o para o amor caber no coração de todo ser humano.

“E o jornal da noite embrulha o peixe pra manhã do dia” (Aprendendo a Sobreviver, de Criolo). Exatamente porque a dor da gente trabalhadora nunca sai em nenhum jornal.

Marcos Aurélio Ruy é jornalista

Ouça o álbum completo:

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