Neste período de férias forçadas, li um texto sobre o papel do Rei Roberto Carlos no contexto da Ditadura Militar.
A sua composição “É preciso dar um jeito, meu amigo”, por exemplo, traz uma reflexão subjetiva sobre aquele tempo.
Muita gente descobriu a música e sua autoria ao ouvir a música no filme “Ainda Estou Aqui”. Aí mostra a grandeza de Roberto Carlos, que sobreviveu ao passar dos tempos e ao turbilhão político da época.
E isso é algo importante a se refletir hoje, quando muitos tentam impor um tipo de militância como se fosse obrigação. O que, de fato, é uma crítica ao modelo de engajamento que se cobra, muitas vezes, sem compreender o contexto de quem viveu em tempos de opressão. Afinal, cobrar que todos sigam um mesmo caminho, que todos se posicionem de maneira combativa, é algo típico de uma elite intelectual que, muitas vezes, terceirizou suas próprias lutas.
A Ditadura, por exemplo, não era vivida como algo próximo para boa parte da população, infelizmente, não atoa que parte da população se diz saudosista de um tempo sombrio. Para quem estava em risco de ser perseguido, era um regime cruel, opressor, que ameaçava até os gestos mais simples de rebeldia.
E é justamente nesse contexto que a vitória de Roberto Carlos, com sua música e sua postura, nos ensina uma grande lição: a verdadeira resistência nem sempre precisa ser barulhenta ou exposta. Ela pode estar na arte, na reflexão silenciosa e até na busca por uma vida digna, longe da repressão.
Vamos lembrar também que a década de 60 e 70 não se contava com redes sociais nem com a comunicação digital de hoje, que nos permite estar o tempo todo conectados. Hoje, é fácil julgar. Mas, como a música de Roberto Carlos nos diz, é preciso “dar um jeito”, encontrar a nossa maneira de lutar, sem que isso seja imposto ou cobrado por ninguém.
Patrulhamento é cruel, e a militância pode ser vista de diferentes formas. Não devemos medir a luta de cada um pelo mesmo padrão. A verdadeira revolução muitas vezes começa em silêncio, nos pequenos gestos, nos momentos em que ainda estamos aqui.
Antonio Neto é presidente da CSB (Central de Sindicatos Brasileiros)